CAPÍTULO 19

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Um ano depois

— Aí — ela gritou. — Porra Helena!

Tentei tapar a boca para conter o riso, mas não adiantou.

— Você me pediu para não pegar leve, Banks. — Dei de ombros. — Eu não estou!

Ela se pôs de pé com um olhar sanguinário e avançou até mim, mas seus movimentos eram previsíveis. Esquivei do soco sem esforço algum, me inclinando para trás e desviando do chute no rosto.

— Vamos banks, você não está vendo — andamos em círculos de guarda alta. — Você me olha, mas não me vê!

Ela atacou, distribuindo uma sequência de socos e chutes, todos desviados e anulados. Suor brilhava no seu corpo e as roupas gigantes não ajudavam em nada no calor. Ela foi criada assim, sendo obrigada por Damon a se cobrir usando as roupas velhas que ele deixava para trás, à medida que crescia. E para ficar ainda pior, era forçada a usar uma bandagem disfarçando suas curvas e os seios fartos de adolescente.

Já se passaram dois anos da prisão dos meninos e eu cumpri a promessa que fiz a Damon. Cuidei de Banks, ensinei tudo que sabia e a preparei para cuidar de si mesma.

Éramos muito parecidas e acabamos nos tornando amigas. Ela me contou tudo da sua vida e agora eu queria que Damon saísse logo da prisão, para poder socar a cara dele pessoalmente. Banks era um ano mais nova do que ele e quando crianças, Damon comprou a garota, oferecendo alguns trocados para a prostituta viciada da sua mãe, que aceitou quase que de imediato. Ela foi criada isolada do mundo, estudando em casa e aprendendo as matérias através dos deveres de Damon, que fazia no seu lugar. A menina comia o que sobrava da casa, dormia em um cubículo anexo ao quarto dele e usava somente suas roupas masculinas. Nenhum amigo além dos seguranças escrotos, nenhum contato com o mundo externo.

— Porra — se inclinou com as mãos no joelho, respirando com dificuldade. — Eu não consigo!

Estamos a mais ou menos um ano praticando krav maga, e nesse tempo todo, ela nunca acertou um golpe sequer em mim. Entendia sua frustração, mas ela era capaz, eu sabia que era, só ainda não se entregou. Ela pensava demais ao invés de sentir, e a luta era isso, sentimento.

Dei as costas, fui até o aparador e peguei uma garrafa de água. Estávamos no salão de festas dos Torrance, que reformei para ser nossa academia.

— Feche os olhos.

Banks me olhou desconfiada, sem entender onde eu queria chegar.

— Confie em mim, você precisa ver e não apenas olhar.

Ela obedeceu.

— Agora se concentre na sua respiração e me diga, o que você vê?

Ela franziu a sobrancelha mas tentou seguir minhas instruções. Após alguns segundos, sua expressão suavizou e ela pareceu finalmente concentrada.

— Eu vejo a sala à nossa volta — expirou. — Vejo os aparelhos de musculação no fundo à direita. Vejo você em frente ao aparador me encarando.

Sorri.

— E agora? —Comecei a andar ao seu redor, a circulando lentamente.

Ela seguiu meus movimentos inclinando a cabeça, ainda de olhos fechados.

— Seus pés. Eles estão se movendo.

Porra, é isso

— E agora?

Ameacei acertar um soco, mas com um movimento lento, apenas esticando o braço em direção ao seu rosto. Ela rapidamente agarrou meu punho, me impedindo de continuar.

Black Widow - Devil's Night Onde histórias criam vida. Descubra agora