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QUINTA FEIRA, 1978

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QUINTA FEIRA, 1978

Meus olhos continuam encarando o nada, enquanto o alto zumbido me deixa distraída da conversa dos homens adultos. Não troquei palavras com meu pai desde que ele chegou, e sinceramente, não quero trocar. Apenas quero ir pra casa e esquecer isso, mesmo que em casa haja outro tormento. Cacete, eu tô muito fudida. Eu conheço meu pai. Ele, com certeza, vai querer ter uma conversa com a minha mãe, a conversa vai virar uma briga, o Michael vai querer se intrometer, o Griffin vai começar a chorar e depois eu ainda terei que escutar da minha mãe que a culpa é toda minha. Talvez seja. Não, é completamente minha culpa.

Me encolho na poltrona rígida da sala do diretor, nem ao menos tentando manter o mínimo de compostura. A ansiedade tá me  consumindo por dentro. Meu pai está ao meu lado, a expressão grave e preocupada como em todas as vezes que fiz merda. A sala parece claustrofóbica demais. Eu vou sufocar.

O diretor me olha com uma mistura de pena e desinteresse, ajeitando os óculos quadrados enorme. Um pigarro escapa de seus lábios, enquanto seu olhar fica em mim.

—Elizabeth.— Ele começa, a voz calma mas firme.— Recebemos algumas... informações preocupantes a seu respeito-

—Qualquer coisa que tenham falado, é mentira, diretor.— Eu corto o homem, o que faz ele me encarar de forma séria.

—Liz.— Meu pai me lança um olhar sério, fazendo eu minha postura enrijecer na poltrona.— Deixa o diretor falar.— Eu aceno com a cabeça levemente, me sentindo irritada.

—Algumas pessoas do colégio começaram a relatar um comportamento estranho vindo de você, e um deles afirma ter visto marcas de automutilação em seu braço.— O diretor fala, tentando ser delicado. Escuto meu pai suspirar ao meu lado, me olhando da mesma forma cansada que ele já me olhou tantas vezes.

Meu coração aperta. As palavras parecem flutuar no ar, pesadas e inescapáveis. Meu pai  sempre insiste em dizer que eu posso confiar nele, que se algo estiver errado eu posso confiar isso a ele, e que não devo me importar com as palavras da minha mãe. Eu sinto o medo de decepcionar ele se alastrar pelas minhas entranhas, e também o de enfrentar as consequências dessas merda que eu faço. Eu olho para o meu pai, notando sua postura tensão, com suas mãos entrelaçadas, esperando ansiosamente qualquer desculpa que eu tenha a dizer.

—Não.— Falo de forma firme, mal conseguindo engolir minhas próprias mentiras.— Eles provavelmente inventaram isso para me provocar.— Olho em seus olhos, segurando minha irritação.— Eles sempre fazem isso.— Sou ênfase no sempre.

—Não seja mentirosa.— Meu pai fala, sua voz um tanto triste e cansada, enquanto ele massageia suas têmporas.— Você fez isso ou não?

—P-Pai...

—Elizabeth.— Sua voz séria me atinge como um tapa.— Você fez isso ou não?

O silêncio sufocante se instaura na sala. Eles sabem, todos eles sabem.

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