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   SEGUNDA-FEIRA, 1978

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SEGUNDA-FEIRA, 1978

Eu acordo com meu corpo um pouco dolorido, com os olhos ardendo e uma urgência em levantar da cama, apesar das dores. O final de semana foi horrível. Eu bebi, eu chorei, eu gritei, eu dormi muito, e nem ao menos sai do meu quarto. Apenas fiquei aqui contemplando seja lá que porra eu esteja fazendo da minha vida. Meu corpo parece até se levantar sozinho, e é bem estranho se sentir nesse estado e parecer não ter controle das próprias ações, mas não é como se eu nunca tivesse sentido isso. Eu caminho apressadamente para o espelho, olhando para meu reflexo com os cabelos, antes ondulados, agora lisos por conta da chapinha, e bagunçados pelo sono, um pouco de maquiagem preta ainda presente nos meus olhos, a camiseta desgastada e a calcinha com estampa infantil. Que visão familiar. Sem demorar, eu pego um cigarro que estava jogado perto da minha escrivaninha e o pego junto a um esqueiro velho. Acendo o cigarro entre meus lábios, sabendo a reação que isso causaria a minha mãe se ela sentisse o cheiro, mas eu nem ao menos acho que há alguém em casa. Tá tudo muito silencioso. Se me avisaram se iriam sair ou não, eu não lembro.

Ando pelo corredor, sentindo o ar frio contrastar com a fumaça saindo pelos meus lábios. É realmente bom ficar sozinha em casa, especificamente sem Michael, é libertador. Abro a porta do banheiro de visitas e o adentro, trancando a porta e colocando o banquinho encostado sobre ela para reforçar a segurança. Só eu uso esse banheiro, não temos visistas. Eu retiro minhas roupas, por mais que ainda me sinta muito desconfortável com isso, e lavo apenas meu corpo, evitando molhar o cabelo, por que fazer chapinha é chato para um caralho. A esponja em formato de estrela percorre meu corpo mutilado e machucado com rigidez, e assim eu fico esfregando com força, sentindo a sujeira ser brutalmente arrancada de minha pele, mas mesmo assim não consigo me sentir limpa. E agora estou sangrando. Minhas mãos vão para a prateleira do box. A gilete percorre minha pele de forma agressiva, retirando todos os pelos indesejados, deixando seus pequenos cortes no processo. Pego o hidratante e passo pelo meu corpo, fazendo os pequenos cortes provocarem uma dor aguda em minha pele.

Saio do banheiro, com meu antigo roupão da cinderela envolvendo meu corpo, ainda me protegendo do frio dessa casa da mesma forma que fazia comigo quando eu era criança. Eu ando com pressa até meu quarto, e tranco a porta de novo ao entrar no cômodo. Caminho até o guarda roupa, o abrindo com certa relutância, me lembrando de Vance escondido em meu guarda um dia. Cara, como eu queria ver essa cena de novo... Meu olhar percorre todas as opções de roupas ali. Calças, casacos, saias, a maioria em tons escuros. Não deito que escolher. É tão estranho essa sensação dentro de mim, de querer fazer essas coisas mesmo com o corpo doendo, mas foda-se, ela não vai ir embora tão cedo. Eu acabo optando por uma blusa larga de uma cor cinza azulado, shorts cinza escuros, uma meia calça arrastão de cor azul, coturnos e um cordão de cruz que ganhei da avó de Sophia. Eu vou pra frente do espelho, olhando a roupa no meu corpo, tentando esconder alguns cortes das coxas com corretivo, por mais que eu já saiba que ele vai sair ao decorrer do dia. Pego um pouco de blush e o aplico nas minhas bochechas levemente, só pra não ficar com cara de doente, mais do que eu já tenho, coloco um lápis preto ao redor dos olhos e coloco gloss nos meus lábios.

Desço as escadas com pressa, já que estava quase no horário de começar as aulas. Passo pela cozinha rapidamente, encontrando um bilhete com a letra de Griffin. "Mamãe me levou no médico. Te amo". Ah, eu quase havia me esquecido dessa merda de médico. Foda-se, eu não vou. Não era a primeira vez que ele tinha visto os cortes pelo meu corpo e contado sobre eles pra minha mãe. E era sempre a mesma coisa, ela me olhando com decepção, como se ela nunca tivesse feito a mesma merda. Eu entro na garagem pela porta que tem na cozinha, sentindo uma vontade repentina de andar de bicicleta, então assim eu faço. Pego a bicicleta, abro a porta principal da garagem, e saio. Faz um tempo desde que não ando de bicicleta devido ao desânimo, e ao fato de Billy e Sophia sentirem preguiça de me acompanhar. Foda.

Eu pedalo rapidamente em direção a escola, tirando minhas mãos do guidão várias vezes, com uma adrenalina incomum no controle do meu ser, com a velocidade soprando meus cabelos pra trás de forma feroz. Mas não demora muito e eu chego em frente ao colégio, deixando ela no bicicletário presa com uma corrente, sem cadeado porque eu perdi a chave. Um suspiro escapa de meus lábios, enquanto eu jogo minha franja para trás, sentindo um ar um tanto gélido me acertar em cheio.

-Caralho...- Falo, quase rindo. Eu deveria ter trago um casaco. É sempre assim assim na porra da primavera, uma hora tá quente que nem o inferno e outra hora tem vento e chuva, definitivamente detesto essa merda.

-Porra, que vento é esse do nada?- Uma voz masculina diz próxima a mim, me deixando um tanto confusa.- Quase fez minha bandana voar pra longe.- Eu olho para trás, encontrando Robin Arellano com suas mãos na bandana que ele sempre usa na testa, com uma expressão irritada em seu rosto.

-Tudo bem aí, Arellano?- Pergunto com um leve sorriso no rosto, observando o moreno diminuir a irritação em seu rosto.

-É, tudo bem. E você, Effy Stagg? Eu vi você correndo com o Vance Hopper outro dia. Tá tudo bem?- Ele pergunta. É estranho ver um cara que você conhece, mas que nunca interagiu, falando com você do nada como se fossem amigis a vida toda.

-Tudo bem sim. Ele só arranjou briga com a professora, nada fora do habitual pra ele.- Credo, eu tô falando do Vance como se eu fosse muito próxima dele.-

-É, faz sentido.- Robin responde, suas palavras sendo seguidas de um silêncio estranho.- Mas me diz uma coisa, você vai fazer algo amanhã às 19h?- Ele pergunta um tanto desconcertado, e eu o olho confusa e perplexa. Tipo, porra, ele namora um cara. Que pergunta é essa?

-Não...?- Respondo, franzindo minhas sobrancelhas.- Por que isso do nada?- Ele me olha, como se tivesse compreendido meu pensamento.

-Amanhã é o aniversário do Finney e eu tava pensando se você podia ir pra lá.- Ele da de ombros.- Ele e a Gwen te acham legal. Não vai ser nada dessas merdas que você participa com aquela garota loira. É só um bolo e jogar alguns jogos de tabuleiro.- O mexicano suspira.- Eu entendo se não quiser ir-

-O bolo vai ser de que?

-O que?

-O bolo... qual o sabor?- Repito a pergunto, o olhando seriamente.

-Chocolate, óbvio.- Ele ri um pouco.- Que outra merda seria?- Eu rio junto a ele.

-Cacete, me convenceu, Arellano.- Sorrio.- 19h, certo?

-Exatamente, Effy.

-Ok, tudo bem, estarei lá.- Eu falo, começando a me afastar ao ver sua confirmação com a cabeça.

-Ei, garota, espera.- Robin me chama, me fazendo virar a cabeça para olha-lo.

-Sim?

-Você tá junto com o Vance Hopper?- Ele pergunta de forma descarada. Meu coração acelera instantâneamente e eu sinto meu rosto ficar rosado. Estalo minha língua e o olho com falsa irritação.

-Nem fudendo.

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Eu boto meus pés no corredor do colégio, quase prendendo minha respiração pela quantidade de pessoas ali. Elas olham pra mim, focam seus olhares na minha roupa, como se eu fosse algum tipo de alienígena. Tá bom, eu admito que a roupa não é tão usual, mas... Foda-se, não tenho argumento pra isso. Continuo a olhar para frente, tentando não demonstrar o nervosismo que estou sentindo com aqueles olhares e cochichos em mim.

Minha atenção vai para a figura alta de Vance perto dos armário, conversando com aquele amigo esquisito dele. Meus olhos se fixam nele como se fossem imãs, atraídos somente para ele. Vance me encara de volta, com as sobrancelhas franzidas e me olhando de cima a baixo. Eu quero ir falar com ele, mas só de pensar nisso eu sinto borboletas na barriga. A coisa mais idiota e clichê possível.

Eu gosto dele. Infelizmente, eu gosto dele pra caralho.

ALL I WANT | VANCE HOPPEROnde histórias criam vida. Descubra agora