especial de 1k

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Meus olhos encaram as paredes da sala grande e gelada, opacos, sem quaisquer resquícios de energia, enquanto meus pais falam algo com o homem mais velho vestido de branco, mas, por algum motivo, meu cérebro bloqueou a maior parte de suas palavras. Minha cabeça dói como nunca, junto a ela um som agudo, que apenas aumenta caso eu desvie o olhar.

—Não sabemos o que está acontecendo com ela, doutor.— Mamãe diz, em um tom choroso. Eu continuo encarando a parede branca, me sentindo ainda mais estranha com tudo isso.

Eles... haviam me dito que iriam me levar pro shopping, alguns longos minutos da nossa cidade, mesmo eu não entendo o porquê de meu irmão mais novo, Griffin, ter ficado com os vizinhos. Eu fiz algo errado? Eles estão com raiva das coisas que eu fiz?

—Ela não está dormindo de noite, não quer comer, só faz as necessidades básicas se a obrigarmos, e eu temo que ela esteja fazendo uso de algumas substâncias.— Agora meu pai diz, com seu típico tom nervoso, que indica que ele está preocupado.

— Você acha que pode conserta-la?

Eu permaneço em silêncio. O médico lança um olhar sério pra mim, me observando como se eu fosse uma espécie desconhecida.

—Qual é o seu nome, criança?— O médico fala, em seguida fumando um charuto.

—Effy... Stagg.— Minha voz sai baixa e entrecortada. Meu olhar segue lentamente até chegar ao homem.

—Na sua ficha consta que seu nome é Elizabeth Stagg.— Ele responde. Eu fico em silêncio e nego com a cabeça.

—Ninguem me chama assim.

—Você tem quantos anos?— O médico torna a perguntar.

—Treze.— Faço uma pausa, respirando fundo.— Meu aniversário de catorze é em alguns meses.

—Voce sabe o porquê de estar aqui?— O silêncio se faz presente na sala. Sinto os olhares em mim, esperando pela minha resposta ansiosos.

—Eu... fiz algo ruim.— Encaro minhas próprias coxas, vestidas pela saia verde florida.— Tomei os remédios do Michael, mas eu não sabia que eram dele.

—Por quê?

—E-Eu apenas queria dormir.

—Não, Elizabeth. Você tomou meio frasco de comprimidos e cortou os pulsos com uma navalha.— Um soluço escapa da boca da minha mãe, enquanto meu pai tem seu olhar triste direcionado para mesa.

—Ah.

Meu olhar se fixa em minhas coxas. Meus pais voltam a conversar com o médico, me deixando nervosa e atônita com suas palavras incessantes. Tudo parece girar. Algo não está certo, e isso apenas me deixa mais ansiosa. Eles se inclinam sobre mesa, assinando uma papelada. Meu polegar vai em direção a minha boca. Eu começo a mordisca-lo, enquanto lágrimas escorrem pelas minhas bochechas, fazendo uma grande bagunça. Não demora muito e começo a hiperventilar, deixando meus pais ainda mais preocupados. Minha mãe chora como nunca vi, o que é estranho. O som da porta do consultório sendo aberta me faz ficar alerta para qualquer coisa. Uma enfermeira entra pela porta de madeira clara, com uma pequena seringa em mãos. Eu me desespero e logo olho para os meus pais. Suas expressões em seus rostos são tristes e chorosas, enquanto o médico me olha de forma séria. A mulher mais velha segura meus ombros com leveza, os acariciando com os polegares de forma circular, em uma tentativa de me acalmar. Começo a me debater, o que faz seu aperto ficar mais intenso. Olho para meus pais em pânico, mas eles apenas observam a cena de forma impotente. A agulha fura a pele do meu braço, injetando a substância desconhecida no meu corpo. A enfermeira continua massageando meus ombros, enquanto aos poucos sinto minha visão escurecer, junto a um cansaço desumano. Eu... Eu achei que iríamos comprar alguns discos novos... Foi o que eles disseram.

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Meus olhos se abrem de forma abrupta. A luz forte de uma lâmpada cega meus olhos, me deixando desconfortável com sua intensidade. Tento movimentar meus membros, mas ao tentar, sinto-os presos ao lugar que estou deitada com fivelas de couro marrom. As lágrimas rolam pelas minhas bochechas, deixando minha respiração acelerada. Mamãe e papai... Eles me largaram aqui, me entregaram pra essas pessoas.

Uma outra enfermeira, dessa vez um tanto mais nova, vem em minha direção com outra seringa. Sua feição gentil me faz relaxar um pouco, mas não consegue me tirar da imensa sensação de tristeza e abandono dentro do meu peito.

—Elizabeth Stagg, não é.— Ela diz com um tom de voz doce, que definitivamente não combina com a situação em que estou, o que apenas me deixa mais apreensiva.— É um nome tão adorável. Eu gostaria de ter batizado minha filha com esse nome, mas meu marido preferiu Grace. Foi realmente um impasse em nossa vida como pais— A mulher sorri, com seus belos dentes brancos emoldurados por lábios com um batom vermelho extravagante. Meu olhar assustado se fixa em seus olhos, como se clamassem por ajuda de alguma forma.

—Ok, Marion. Já chega de contar sua vida particular pra paciente.— A enfermeira mais velha de antes aparece novamente na sala junto de mais outras duas garotas com as mesmas vestimentas.— Já pode aplicar o relaxante muscular na mocinha.

Marion aplica a seringa no meu braço de forma tão gentil que mal sinto a dor da agulha me perfurando, tão diferente da enfermeira mais velha. O time de mulheres conversam por um tempo, enquanto esperam o efeito da injeção agir no meu corpo. Algumas peças são colocadas em meu peito, me fazendo perceber nesse momento a camisola hospitalar. Por que meus pais me trariam pra um hospital? Eu não estou doente.  O que elas vão fazer comigo? Por que meus pais me deixaram sozinha aqui com elas? Não foi culpa minha fazer aquilo... Eu não estava no meu juízo certo.

—Vamos terminar logo com isso. Prometi levar minha namorada pra jantar depois do expediente, e não quero decepcioná-la de novo.— A enfermeira mais velha fala. Ela se aproxima de mim com um olhar sério. Suas mãos vão em direção ao meu maxilar.— Abra a boca.— O pânico domina minha mente e eu  nego com a cabeça, mal tendo força pra dizer um não. Não importa minha resposta em relação a isso, pois a mulher rapidamente abre minha boca com força, colocando uma peça de silicone nela.— É pro seu próprio bem, garota. Não vai querer morder a própria língua.— Meus dentes logo se adequam com o objeto em minha boca, o que me deixa um pouco menos tensa.

Dois objetos estranhos são postos em ambos lados da minha cabeça por uma figura desconhecida atrás de mim. Escuto sons de botões sendo apertados, mas não me atrevi a olhar. Eu estou com medo do que vai acontecer comigo. As enfermeiras seguram as extremidades do meu corpo com força. Marion também se junta a elas segurando meu pulso com os pontos hospitalares de forma delicada, fazendo uma espécie de carinho com o polegar.

Uma descarga elétrica passa por todo meu corpo. Meu grito é reprimido pelo objeto que eu mordo com força por conta de toda a dor. Minhas mãos se contraem e eu tento me debater, sendo em vão. Lágrimas escorrem dos meus olhos.

O barulho da máquina sendo ligada de novo chega aos meus ouvidos, apesar do zumbido insistente em meus ouvidos, me causando um gigantesco apavoro.

Minha visão embaça novamente. Parece o que Sophia me descreveu que sua mãe teve quando ela era pequena... Convulsão?

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—Eu realmente espero que não tenhamos que ficar com ela por mais vinte sessões.

ALL I WANT | VANCE HOPPEROnde histórias criam vida. Descubra agora