10

137 14 3
                                    

QUINTA FEIRA, 1978

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


QUINTA FEIRA, 1978



—Sophia, eu já falei que eu não quero essa garota aqui. Ela está estragando você, é inacreditável o quanto você fecha os olhos pra tudo isso! —A voz da senhora Charles grita em outro cômodo, me fazendo abrir os olhos rapidamente e me despertar do meu sono pesado.— Se você não ir acorda-la eu vou ir, e irei tirar ela daqui pelos cabelos!

—Tá, tá, vó.— A voz de Sophia diz, um tanto afobada com a situação.— Me deixe apenas dar um pouco de café para-

—Nem pensar!— A velha grita, e eu tenho certeza que Sophia está contendo as lágrimas de raiva com tudo isso.— Agora.

Meus punhos vão para os meus olhos, os coçando rudemente, os fazendo arder. Minha visão logo se acostuma com a claridade do quarto, e, bem, é óbvio que não é o meu. Lençol florido, cruzes, o cobertor me pinicando... A idiota me trouxe pra cá. Eu nem ao menos consigo expressar em palavras o quanto eu sou grata por ter ela na minha vida, porque eu sei que se fosse qualquer outra "amiga" iria me deixar lá, a mercê de minha própria desgraça. Agora, como ela me trouxe aqui é um misterio, já que a loira nunca foi alguém muito atlética e reclama até do peso da mochila.

Me levanto da cama lentamente, já que a dor de cabeça junto a tontura está me matando, sentindo meus joelhos fraquejarem ao colocar meus pés no chão. Respiro fundo, tentando me recompor e ignorar a briga das outras duas. Encaro meu reflexo no espelho, ficando um pouco animada ao ver os hematomas um pouco mais claros, mas sentindo ódio de mim mesma ao ver as olheiras escuras, maquiagem borrada e as marcas no pescoço. Que merda. Eu poderia ter feito algo, não poderia? Mas eu não fiz! Por que eu tenho que ser assim... E se eu gostar desse tipo de coisa? Quero dizer, eu tenho certeza de que não gosto, mas não entendo o porquê eu não consigo me defender desse tipo de coisa. Tudo é tão complicado, eu só queria poder escapar de tudo isso.

Começo a retirar a camisola, daquelas bem antigas que uma vovozinha fofa usaria, e que provavelmente Sophia colocou em mim para que eu pudesse dormir mais confortavel. Observo meu corpo com atenção, notando mudanças que eu não reparava há um bom tempo por simplesmente não gostar de olhar pra mim mesma. Eu já era magra, e emagreci mais, mesmo não sendo intencional. Consigo ver um pouco das minhas costelas. Isso não é bom, definitivamente. Me visto com as primeiras peças de roupa que encontro na minha mochila, uma blusa de alça preta, uma jaqueta de flanela, calças jeans e o all star, tentando ficar pronta o mais rápido possivel para que a velha do cão pare de descontar a raiva na Sophia. Termino de arrumar meu cabelo com pressa, com ele ainda estando um pouco embaraçado, e pego minha mochila, saindo do quarto. Encontro Sophia saindo do banheiro, pronta para o colégio e nem parecendo que estava bebendo ontem. Ela tem essa habilidade estranha de saber disfarçar quando está na merda. Ela me olha com culpa, me pegando pela mão e me levando em direção à porta.

—Desculpe por fazer você ter problemas com a Maggie.— Falo, abaixando meu minha cabeça com um misto de vergonha e tristeza. Ela é minha melhor amiga, minha chama gêmea, e eu não suporto vê-la pra baixo, principalmente por minha causa...

ALL I WANT | VANCE HOPPEROnde histórias criam vida. Descubra agora