Ana
A festa de São João em Silvialane era um evento muito esperado. Todos os anos o prefeito investia muito para que tudo saísse da melhor forma e atraísse mais turismo para cidade. As luzes coloridas, o cheiro de pipoca e quentão, comidas de várias cores e sabores e as músicas tradicionais que faziam todo mundo querer dançar, tornavam esse evento muito querido por todos. Durante a noite havia uma baile muito tradicional em volta de uma fogueira enorme. Contudo, naquela noite tudo parecia ter um brilho diferente para mim, eu já não via mais a festa com o olhar de uma criança. Eu queria me vestir diferente, queria algo diferente e minha mãe logo percebeu isso, principalmente quando recusei pintar meu rosto com sardinhas e fazer a tradicional monocelha que eu adorava fazer. Ela entendeu que eu estava me tornando uma moça e me comprou um vestido deslumbrante quadriculado plissado, com um lindo chapéu, não mais com trancinhas grudadas, um chapéu de verdade. Até me deixou usar maquiagem e um perfume novo, não mais aqueles temáticos da Barbie que eu costumava usar.
Diego foi me chamar em casa, a gente costumava ir juntos. Mas dessa vez, pedi que ele fosse na frente. Estava timida ainda, pensando mil vezes em não ir. Mas minha mãe com seu jeito meigo, fez eu me sentir mais segura pra ir.
A praça estava lotada e as bandeirinhas balançavam ao vento, criando um mar de cores sobre nossas cabeças, pequenos balãozinhos bem enfeitados e fitas espalhadas por todo lado, estava tudo lindo! Então lá no fundo, logo a minha frente eu o vi. Diego, e ele estava difefente, não mais como um menino, com calças remendadas, monoselha e dente pintado de preto. Agora ele estava trajado como um rapaz. Ele me olhou fixadamente, parecia tão surpreso quando eu. Naquele momento, minhas mãos suaram, meu estômago parecia que tinha levado um chute e meu coração batia tão rapido que a quadrilha parecia lenta perto dele. Ele veio caminhando até mim, e nunca um trecho me pareceu tão longo. E eu não conseguia tirar os olhos de Diego, que estava especialmente bonito com seu chapéu de palha e camisa xadrez.
De repente, antes que pudessemos dizer qualquer coisa um pro outro, fomos chamados ao palco. A professora de artes, Dona Lourdes, decidiu que seríamos os noivos da encenação do casamento caipira. Ela sempre selecionava os mais bem vestidos da festa, o que me deixou surpreendentemente feliz. Eu dei um sorriso timido, estava nervosa, porem Diego me puxou pela mão antes que eu congelasse. Ele apenas sorriu tímido, balançando a cabeça como se me dissesse que estava tudo bem. Subimos ao palco de mãos dadas, e eu podia sentir meu coração batendo mais rápido.
A encenação foi engraçada, o que tornou tudo mais fácil. Cheia de piadas e situações embaraçosas, um padre casamenteiro bem fora da curva, acredito pelo efeito inebriante do vinho, mas tudo o que eu conseguia pensar era em como a mão de Diego parecia se encaixar perfeitamente na minha. Havia uma eletricidade no ar, algo que eu nunca tinha sentido tão intensamente antes. Quando finalmente "casamos" e trocamos alianças de mentirinha, a faísca entre nós parecia pronta para explodir. Meu coração acelerado esperando que a encenação terminasse. Nossos colegas de escola começaram a gritar "Beija!Beija!Beija", e eu só queria sumir nesse momento, estava mais corada que as maçãs maduras. Então Diego se aproximou de mim e me puxou para mais perto dele, quando nossos lábios iam se tocar, alguém disparou pra cima, era meu pai, continuando a encenação engraçada, interrompendo o "casamento" e o teatro terminou.
- Uma salva de palmas pros nossos noivos deste ano, Anna e Diego! - disse a professora Lourdes, e nos dispensou do palco sob os aplausos da plateia.
Ainda estavamos de mãos dadas quando descemos, quando nos demos conta soltamos rapidamente. Diego foi puxado por alguns amigos e saiu. Fui caminhando pensativa até a fogueira, observando as pessoas indo e vindo, as crianças correndo despreocupadas, um casal de namorados que se abraçava apertado em frente a paineis da festa, tirando fotos e sorrindo, me imaginei por um instante como eles, como seria ser namorada do Diego, e só de pensar o meu coração acelerou! Quando me virei lá estava ele, segundo um algodão doce atrás de mim com aquele sorriso lindo que me fazia tremer as pernas.
- Todo casal de noivos tem sua dança de casamento - sorriu. - E eu percebi que não tivemos a nossa ainda. - Estendeu o cotovelo.
- Verdade, nosso casamento fake esta incompleto - sorri de volta segurando-o, minha outra mão pegando o algodão doce.
Fomos até a área de dança, dançamos varias musicas, brincamos e nos divertimos muito e de repente ele voltara a ser meu melhor amigo, e aquela tensão foi se dissipando entre risos e sorrisos e parecia que só estávamos eu e ele ai, o mundo parecia ter desaparecido ao redor.
Depois da festa, Diego insistiu em me acompanhar até em casa. Conversamos e trocamos fofocas sobre nossos amigos e vizinhos. Paramos em frente ao meu portão, e Diego parecia nervoso, passando a mão na calça algumas vezes.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele deu um passo à frente e, com um movimento firme me puxou para perto dele, me olhando nos olhos, seu peito encostando no meu, seu ar sendo o meu ar, quando de repente, eu me inclinei e o beijei, então ele passou sua mão pela minha nuca e assumiu o controle. Eu não queria nunca mais que aquele beijo terminasse. Era perfeito! Quando me soltou fiquei paralisada por um segundo, surpresa pelo gesto. Mas não sabia como reagir e me afastei, confusa com a avalanche de emoções que me atingia. Corri para dentro de casa sem olhar para trás, meu coração em um turbilhão. Diego ficou lá, perplexo e sem entender o que tinha feito de errado. Eu bati a porta e subi correndo as escadas, entrei em meu quarto, me joguei na cama e me senti um desastre.
Minutos depois, olhei pela janela do meu quarto e ele ja não estava mais ali. Parecia que dr alguma forma eu queria que estivesse, só pra descer e tentar corrigir a merda que eu fiz. Meu coração ficou apertado, e eu só consegui chorar. Queria conseguir escrever algo pra ele, mas estava me sentindo tão desapontada comigo mesma. Então desci correndo as escadas, fui correndo pela rua, na esperança de encontra-lo e pedir desculpas.
Começou a chover e me virei para retornar pra casa. Quando o vi, estava sentado num banco perto de casa.
- Diego!", gritei., tentando ser ouvida acima do barulho da tempestade.
Sem pensar, corri na direção dele, a chuva me molhando inteira. Então Diego se aproximou de mim, e nossos olhares se encontraram novamente. Não precisávamos de palavras; a intensidade em seus olhos dizia tudo. Ele me puxou para mais perto, e desta vez, quando seus lábios tocaram os meus, eu o beijei de volta com todo o sentimento que estava guardado dentro de mim.
Ali, sob a chuva, parecia que finalmente nos entendíamos sem necessidade de explicações. Estávamos juntos, não mais como amigos, verdadeiramente juntos, pela primeira vez. E foi mágico.
E como um fumo que se apaga em minutos, meu pai abriu a porta e fingimos que nada aconteceu. Eu entrei pra casa com meu coração explodindo de alegria, sem me importar com a cara de bravo do meu pai. Nada podia tirar o brilho daquele momento. " Que beijo gostoso!" Pensei enquanto alisava meu lábio inferior, recordando o gosto bom que ele tinha. "Eu o amo".
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TURMALINA NEGRA - Laços Sombrios
Mystery / ThrillerNa pacata cidade de Silvialane, no coração de Minas Gerais, um assassinato brutal abala a tranquilidade dos moradores. No epicentro desse mistério estão Anna e Diego, dois jovens que, até aquele fatídico dia, eram inseparáveis. Desde a infância, ele...