O EXORCISMO DE LUCAS

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O dia amanheceu ensolarado quando Anna e Diego, acompanhados pelo padre Elizeu, chegaram à propriedade abandonada no barracão em escombros. As árvores ao redor do lugar pareciam dançar arrastadas por uma ventania sinistra, lançando sombras ameaçadoras sobre a antiga construção. Apesar da luz do dia, o lugar exalava uma sensação ruim.

— Não parece ter ninguém aqui — disse Diego, olhando ao redor, tentando esconder sua decepção.

— Devemos continuar procurando. Não podemos desistir. — respondeu Anna, sua voz firme, mas seu olhar inquieto. — Eu sei que vamos encontra-lo.

De repente, Anna começou a sentir uma tontura avassaladora. Sua visão se turvou e, em um instante, ela foi transportada para uma sala fria e escura. Lá, viu Lucas, com o rosto pálido e os olhos arregalados de medo, encolido no canto da sala, suado de pavor.

— Anna... por favor, me ajude! — suplicou Lucas, se levantando, sua voz cheia de pavor. — Não sei quanto tempo mais posso aguentar... ele está me destruindo por dentro, minha alma já não tem mais forças!

Anna sentiu uma dor profunda em seu coração.

— Eu vou te salvar, Lucas. Aguente firme. — prometeu Anna, lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Abriu os olhos e estavam todos ao redor dela, preocupados por seu desmaio repentino.

— O que foi isso? — perguntou Diego, preocupado, segurando-a pelos ombros. — O que você esta sentindo? Vamos ao médico, agora!

— Eu vi Lucas. Ele estava apavorado em um lugar frio e escuro, pedindo ajuda... precisamos fazer alguma coisa. — disse Anna, sua voz fraca e ofegante, — Ele não tem muito tempo.

Os olhos de Diego se arregalaram e ele se acolheu, puxando-a para um abraço apertado, lagrimas escorrendo de seu rosto.

— Estou com muito medo de perder meu irmão, eu não sei o que fazer. — disse Diego, visivelmente abalado.

Anna o abraçou forte, tentando conforta-lo. Eles decidiram voltar para casa e  descansar, não sabiam quando Felipe apareceria novamente, mas sabiam que seria uma batalha difícil e precisavam de toda a força e coragem que pudessem reunir.

Ao cair da noite, Anna, Diego e o Padre Elizeu voltaram à propriedade abandonada. O ar estava denso e pesado, a escuridão parecia engolir tudo ao redor. Avistarão um casarão antigo, caindo aos pedaçõs e decidiram entrar, em silêncio um a um foram acessando a sala principal do casarão, cada passo ecoando nas paredes vazias, a madeira sob seus pés rangendo, seus corações acelerados.

O Padre achou uma porta que dava acesso ao porão e decidiu descer para conferir. No porão, encontraram Lucas, parecia já não estar mais possuido por Felipe, estava amarrado a uma cadeira e amordaçado. Seu corpo estava coberto de feridas e hematomas, seu olhar apavorado. Vendo aquilo o Padre finalmente acreditou em Diego e uma onda de medo invadiu seu corpo, acelerando seu coração. Imediatamente segurou seu terço firme, pedindo a Deus em pensamento que os tirasse dali com vida.

— Vamos desamarra-lo e tira-lo daqui. — disse o Padre Elizeu, sua voz firme, mas com uma ponta de nervosismo.

Enquanto Diego, Marie e Anna tiravam os nós para libertar Lucas, padre Elizeu começou a recitar as orações de exorcismo, sua voz ecoando pela sala. O ambiente ficou ainda mais pesado, como se uma força invisível estivesse chegado ali.

De repente, as luzes das lanternas começaram a piscar e a temperatura caiu drasticamente. Um vento frio passou pela sala, trazendo um cheiro de enxofre e lixo. Felipe, o espírito maligno, começou a se manifestar na sala. Mas já não estava no corpo de Lucas, seu espirito invisivel saiu correndo pela sala, o barulho das pesadas passando por tras de Anna, logo em seguida correndo em direção ao Padre, mas logo voltando de ré, empurrando Marie para longe e quebrando coisas pela sala toda, jogando estantes velhas do porão ao chão e atirando objetos em todos..

— Quem deu a permissão de estarem aqui? — disse uma voz grave e distorcida, saindo da boca de Lucas. — Eu sou mais poderoso do que vocês podem imaginar, acham mesmo que esse homem pode fazer alguma coisa?

Anna sentiu um calafrio correr por sua espinha. O medo estava presente, mas ela sabia que precisava ser forte. Estava preparada para executar o feitiço de selamento quando o espirito estivesse fraco o suficiente.

O padre continuou a rezar, suas palavras pareciam enfurecer Felipe, que começou a dar gargalhadas assustadoras e a atmosfera da sala ficou muito pesada. A sala parecia ter ganhado vida, com sombras dançando nas paredes e o chão rachando ao redor deles, parecia que a casa viria abaixo a quanlquer momento e todos estavam temendo o pior.

De repente, a criatura maligna de Felipe apareceu. Uma figura de uma moça pequena e sombria, com olhos completamente escuros e brilhantes e um sorriso sádico rasgado e sujo de sangue.

— pt, tch, sp, glup — a moça mastigando restos de pele do Lucas e cuspindo, todos olharam em direção ao Lucas e viram que ela havia arrancado um pedaço de sua orelha, todos ficaram imovéis.

Anna recuou, mas Diego a segurou, mantendo-a firme.

— Deixe o meu irmão em paz! — gritou Diego.

A figura sombria riu, um som que parecia rasgar o ar ao seu redor. Ela estendeu a mão, observando-a, parecia querer dizer algo, então começou a vomitar agulhas e objetos que pareciam ser de magia negra, de repente o padre levantou o crucifixo, fazendo a figura recuar.

— Pelo poder de Deus, eu ordeno que saia! — gritou o padre, sua voz cheia de autoridade.

A figura sombria gritou em agonia e desapareceu, mas Felipe invadiu o corpo de Lucas e começou a lutar com ele dentro dele para permanecer ali. Algumas salamandras apareceram, atacando Anna e lançando o padre para longe de Diego. E uma batalha começou enquanto o padre se recompunha para prosseguir com o exorcismo.

Diego e Anna lutavam com todas as suas forças, cada feitiço lançado era uma tentativa desesperada de manter as criaturas longe do Padre para que ele concluisse o exorcismo. O porão começou a se encher de fumaça com a tentativa das salamandras de espalhar fogo, enquanto Marie lançava feitiços para apagar as chamas.A fumaça subiu rapidamente, mas eles não podiam parar, precisavam concluir o exorcismo a qualquer custo.

Anna, invocou os espiritos das bruxas de salém em um feitiço junto com Diego e de repente o espirito de Mima apareceu ao seu lado os ajudando.

— Você precisa ser forte, Anna. Felipe é poderoso, mas você pode derrotá-lo. — disse Mima, sua voz suave e encorajadora.

— Eu não sei se vou aguentar mais! — exclamou Anna, sua voz cheia de desespero.

— Confie em Diego e Marie. Juntos, vocês podem vencer, ao menos agora.. — respondeu Mima.

— E onde esta Marie? Não estou enxergando nada! — Disse Anna emanando poder e acertando em cheio a salamandra, enquanto mima desapareceu.

Anna, sentindo uma nova força dentro de si. Olhando para Diego e percebendo o quanto ele estava lutando com tudo o que tinha, sentiu que seus sentimentos sobre ele nunca mudaram e faria tudo para protege-lo.

— Eu estou com você. — disse Anna, sua voz firme.

Juntos, eles conseguiram derrotar as salamandras, enquanto Padre Elizeu finalmente terminou o exorcismo. Felipe foi expulso do corpo de Lucas, que caiu desacordado ao chão.

Estava dificil respirar naquele porão, totalmente tomado pela fumaça, quando ao fundo da sala Diego escutou seu irmão falar pela primeira vez em anos de tormento o seu nome:

— Diego? Você esta ai? DIEGO! 

Diego correu em direção a voz de Lucas e o abraçou, um abraço coberto de saudade e alivio por ver que seu irmão estava de volta. Ele o abraçava e beijava sua cabeça varias vezes e repetia "É você mesmo, meu irmão! Eu não acredito que é você mesmo! Como eu te amo seu idiota, nunca mais vou deixar nada acontecer com você! Cara como é bom ter você de volta! Eu não to acreditando ainda! É você mesmo... é você mesmo"

Ele segurou seu irmão nos braços e foram até a saída e já em segurança pode sentir a certeza em seu coração de que tudo voltaria ao normal. Ao menos era isso que Diego queria com todas as forças.

TURMALINA NEGRA - Laços SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora