— ..Solteiras, viúvas, órfãs, solitárias, camponesas, idosas, parteiras, adúlteras, prostitutas, mulheres, qualquer uma, tanto sangue derramado.. Nós mulheres nunca tivemos um minuto de paz nesse planeta cruel.. - Disse Anna — Nísia Floresta, Bertha Lutz,Susan B. Anthony, Leyla Marina Bouzid, e muitas outras mulheres que lutaram para garantia de direitos hoje considerados minimos, mas que há um tempo atrás não tinhamos, nem se quer imaginavamos ter.. O que todas essas mulheres tem em comum? Isso mesmo, foram perseguidas por reconhecer que algo estava errado! por pensarem diferente da maioria, por não aceitarem viver em certos tipos de opressão. Suas vozes por muitas vezes silenciadas, seja pela prisão ou pela tortura. Mas não desistiram e essas mesmas vozes ecoam até hoje através dos direitos que garantimos.Enquanto Anna falava, suas palavras eram carregadas de paixão e conhecimento, cativando a atenção de todos, exceto de um aluno no fundo da sala. Ele tinha um sorriso provocador no rosto e olhos que brilhavam como fogo.
— Quando você senta e começa refletir sobre essas coisas, vem uma avalanche de pensamentos, não é mesmo? São tantas coisas podres que acontecem por ai que não precisavam ser assim. Era só a maioria das pessoas serem contra essas atrocidades e ficaria tudo bem.
— Se fosse fácil assim, não acha que já teriamos parado todas as guerras? Não seja utopica Anna, isso é patético até pra você — Disse o rapaz misterioso no fundo da sala, trazendo risos de outros colegas da turma.
— Por que será que os tiranos tem tanto poder? Por que damos tanto poder pra eles? Há milhares de guerras e rumores de guerras por ai, controlados por uma minoria de poderosos.. mas por que eles tem tanto poder? Por que as coisas tem que ser assim? Essas coisas sempre passam pela minha cabeça e talvez seja por isso que eu escolhi o direito! Porque eu acredito que ainda exista justiça!
— Alguém, por favor tire o microfone dessa garota!
— Eu tenho direito de manifestar a minha opinião, estamos num país democrático. Minhas colegas do passado sangraram pra que eu pudesse ter voz hoje, então me deixem fazer uso dela sem ressalvas. E por favor, guarde suas grosserias para si mesmo. Eu só quero paz para apresentar meu trabalho, com licença. Obrigada! — Os alunos aplaudiram.
— Quem ela pensa que é? — sussurrou ele para o colega ao lado.
Ao término da apresentação, o professor aplaudiu Anna e abriu espaço para perguntas. O rapaz ao fundo da sala levantou a mão, com um sorriso de canto no rosto.
— Interessante apresentação, Anna. Mas você não acha que está sendo um pouco radical ao afirmar que a sociedade está completamente contra as mulheres e que é possivel parar guerras com o simples desejo de para-las?
Anna estreitou os olhos, sentindo uma onda de irritação.
— Não estou dizendo que a sociedade é completamente contra as mulheres, mas sim que ainda há muitas desigualdades que precisam ser corrigidas. E se você tivesse prestado atenção, entenderia que minhas afirmações são baseadas em dados e pesquisas.
O rapaz riu levemente, levantando uma sobrancelha.
— Só estou dizendo que talvez você esteja exagerando um pouco. Mas quem sou eu para julgar, não é? - disse ele.
Anna se segurou para não responder de forma ríspida, mas por dentro sentia uma mistura de raiva e algo mais difícil de identificar. Uma tensão surgiu entre os dois.
Nas semanas seguintes, o rapaz, cujo nome era Eric, continuou a provocá-la nas aulas, sempre com tom de deboche a cada colocação ou dúvida que Anna apresentava na aula, ele questionava, desafiando suas ideias e, de certa forma, fazia com que Anna se esforçasse ainda mais para trazer bons argumentos. A raiva dela por ele era evidente, mas havia algo mais profundo que ela se recusava a admitir.
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TURMALINA NEGRA - Laços Sombrios
Misterio / SuspensoNa pacata cidade de Silvialane, no coração de Minas Gerais, um assassinato brutal abala a tranquilidade dos moradores. No epicentro desse mistério estão Anna e Diego, dois jovens que, até aquele fatídico dia, eram inseparáveis. Desde a infância, ele...