O CONTATO

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Anna já não sonhava havia um tempo e isso lhe deu um certo alívio. Após aquela noite, Mima não apareceu mais para Anna e os episodios de apagão não tornaram a acontecer. A incerteza e medo era inquietante e a deixava cada vez mais ansiosa, como se algo estivesse prestes a acontecer, um pressentimento ruim tomava conta de Anna, que sabia que precisava entender melhor o que estava acontecendo e o papel da turmalina negra em tudo isso. Pesquisando na Internet sobre a história da cidade viu sobre Mima e Renê, um misto de surpresa e medo tomou conta dela. A personagem que tanto atormentava seus sonhos era real e ela não sabia o que isso poderia significar para ela.

Decidida a encontrar respostas, ela começou a buscar formas de fazer contato com a bruxa novamente. Lembrou-se de histórias antigas sobre sessões espíritas, onde as pessoas tentavam se comunicar com os mortos.
Então sabia que era uma ideia arriscada, mas estava determinada. Conversou com Diego sobre isso, e ele, apesar de preocupado, decidiu apoiá-la. "Vamos fazer isso juntos," ele disse. "Mas temos que ter cuidado! Não sabemos aonde estamos nos metendo!"

Procuraram um médium na cidade vizinha, alguém que pudesse conduzir a sessão com segurança. Encontraram Dona Regina, uma senhora conhecida por suas habilidades espirituais e por ajudar muitas pessoas a se comunicarem com pessoas mortas.

Na noite marcada, Anna e Diego foram até a casa de Dona Regina. O ambiente era carregado de misticismo: velas acessas, incenso queimando e símbolos esotéricos espalhados pela sala. Dona Regina os recebeu com um sorriso acolhedor, mas seus olhos mostravam uma seriedade que aumentava o nervosismo de Anna.

"Vocês têm certeza de que querem fazer isso?" perguntou Dona Regina. "Uma vez que abrirmos essa porta, não sabemos o que pode vir." Anna e Diego trocaram olhares e, consentiram. Sentaram-se ao redor de uma mesa redonda, segurando as mãos uns dos outros. Dona Regina começou a entoar cânticos em uma língua antiga, invocando os espíritos.

A temperatura na sala começou a cair, e uma brisa gelada percorreu o ambiente. Anna sentiu um arrepio na espinha, mas manteve-se firme. Os cânticos de Dona Regina aumentaram de intensidade, e as velas tremeluziram violentamente.

- Espírito de Mima Renard, se estiver presente, manifeste-se! - invocou Dona Regina.

De repente, a mesa começou a tremer, e uma rachadura emergiu no centro dela. Anna prendeu a respiração, sem reação, assustada, esperando ver Mima olhou para o lado e para o outro. Mas, em vez disso, uma sombra escura e sinistra emanou do centro da mesa e terminou de quebra-la inteira, mesmo sendo de madeira maciça, Diego e Anna deram um pulo para atrás de sobressalto.

A sombra se expandiu, tomando a forma de uma figura grotesca e assustadora. Anna e Diego sentiram uma pressão intensa, como se algo estivesse tentando sufocá-los. Dona Regina tentou manter o controle, mas a entidade parecia mais poderosa do que qualquer coisa que ela já havia enfrentado. A sala se encheu de uma sombra densa e uma espécie de ruídos com gritos e lamentos soou, objetos começaram a ser arrastados nas prateleiras, jogados ao chão. As paredes pareciam fechar-se sobre eles, pois as sombras projetavam uma impressão de supressão. Anna sentiu uma força invisível puxando-a para baixo, como se estivesse sendo esmagada contra o chão. Sem ar, Anna olhou para Diego e estendeu a mão, tentando segurar desesperadamente a dele. Ele estava com sombras sobre seu corpo e parecia sem ar, um olhar de desespero para Dona Regina, como se ela pudesse os ajudar.

- Saia daqui! Você não é Bem-Vindo aqui! - gritou Dona Regina, sua voz cheia de desespero. - Você não é bem-vindo aqui Felipe, não foi você quem eu chamei!  Você não é Mima! Saia daqui!

Anna e Diego tentaram se soltar, mas a força que os segurava era imensa. Anna viu uma mão espectral estendendo-se em sua direção, os dedos longos e gélidos. A sensação era de puro terror, como se sua alma estivesse sendo arrancada de seu corpo. Com um esforço supremo, Anna conseguiu agarrar a mão de Diego e com muita fé clamou a Deus proteção. E num último ato de desespero, gritou:
- Deus, me ajude! Salve-nos Senhor!

A sala brilhou intensamente, emitindo uma luz ofuscante. A sombra grotesca soltou um grito ensurdecedor e começou a se dissolver. Uma luz preencheu a sala, expulsando a escuridão. E Mima apareceu. Tentou se manter para conversar,

- Use o colar de turmalina negra, é a única forma de nos comunicarmos! - e desapareceu.

Quando a luz finalmente se dissipou, Anna, Diego e Dona Regina estavam exaustos, mas vivos. A sala estava destruída, mas a entidade havia desaparecido. Dona Regina olhou para Anna com uma expressão de alívio e espanto.

- Você tem um poder grande dentro de você, Anna. Sua fé te salvou, Deus te ouviu, menina! A Mima está claramente tentando protegê-la, mas teve dificuldades de se manter no nosso plano, por alguma razão que não sei dizer.

Anna assentiu, ainda tremendo, mas determinada. Sabia que a jornada estava longe de acabar, mas agora tinha mais clareza sobre o que precisava fazer. Precisava entender melhor a conexão com Mima e a verdadeira natureza da joia deixada por ela na gruta.

Enquanto Anna e Diego voltavam para casa, perceberam que a luta estava apenas começando. A influência da Bruxa era poderosa, mas os perigos que enfrentavam eram igualmente grandes. Sabiam que teriam que enfrentar muitos desafios para desvendar os mistérios que os cercavam.

E, em algum lugar nas sombras, Lucas, o irmão de Diego, agora possuído pelo espírito de Felipe, aguardava pacientemente sua oportunidade para continuar a vingança inacabada.

A próxima etapa da jornada de Anna e Diego estava prestes a começar, e eles teriam que estar preparados para tudo o que viesse.

TURMALINA NEGRA - Laços SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora