MOCINHA DE FAMILIA

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Ana

Acordei naquele dia com uma sensação estranha. Minha cama estava manchada de sangue, e por um momento pensei que estivesse sonhando. Mas não, era real. Finalmente, eu tinha virado mocinha! Minha cama toda manchada de vermelho descrevia isso muito bem.

Minha mãe sempre me disse que esse dia chegaria, mas nada poderia ter me preparado para o turbilhão de emoções que se seguiu. Passei um bom tempo no banheiro, tentando processar tudo, eu não sabia muito bem como reagir. Lembrei das conversas embaraçosas que minha mãe tentou ter comigo sobre o corpo feminino e sexo, e como eu sempre queria fugir delas. Agora, parecia que eu não tinha mais como fugir.

Quando desci para o café da manhã, minha mãe me olhou com um olhar de quem sabia exatamente o que tinha acontecido. Ela me puxou de lado, e eu já sabia o que estava por vir.

- Ana, precisamos conversar - disse ela, com aquele tom suave mas firme. - Agora que você virou mocinha, há algumas coisas que precisa saber, vai ficar tudo bem, mamãe te entende tá, não precisa ficar constrangida.

Revirei os olhos, me sentei, tentando esconder o desconforto. Minha mãe começou a falar sobre menstruação, hormônios, higiene feminina e sexo de uma forma que parecia um manual de instruções. Eu me senti perdida, como se estivesse ouvindo uma língua estrangeira e só conseguia pensar em jogar o lençol da minha cama fora. Mas o pior foi quando ela começou a falar sobre como eu deveria me comportar agora, sobre a necessidade de ser mais feminina, mais recatada. Eu odiava cada palavra.

- Mãe, eu não quero mudar - respondi, tentando segurar as lágrimas. - Estou feliz assim, isso muda tanta coisa assim?

Ela suspirou, como se entendesse meu dilema, mas não pudesse fazer nada sobre isso.

- Eu sei, querida. Mas é importante que você entenda essas coisas. O mundo não é justo com as mulheres, e quanto mais cedo você aprender a lidar com isso, melhor. Seu corpo vai passar por muitas mudanças agora, e você também vai precisar mudar junto com ele.

Essas frases ficaram ecoando na minha cabeça o dia todo. "O mundo não é justo com as mulheres" Eu sabia que ela estava certa, mas odiava ter que mudar para me adequar às expectativas de uma sociedade machista.

No dia seguinte, acordei com a pior cólica da minha vida. Não tinha forças para levantar da cama, então decidi faltar à escola. Quando mandei uma mensagem para Diego dizendo que não iria, ele apareceu na minha casa, preocupado.

- Está tudo bem? - perguntou ele, com aquele olhar preocupado que eu conhecia tão bem.

- Só não estou me sentindo muito bem - respondi, tentando minimizar a situação.

Ele não parecia convencido, mas não pressionou. Passou o dia ao meu lado, me distraindo com conversas bobas e séries na TV. Sua presença era reconfortante, e mesmo com a dor e o desconforto, eu me sentia um pouco melhor. Evitei tocar no assunto "nós" estava sem cabeça pra isso, mas ele percebeu que não estava bem e não me cobrou. só continuou sendo um bom amigo. Sem entender minhas inúmeras idas ao banheiro, e porque saí de lá vestindo outra roupa.

Na escola, as coisas ficaram ainda mais complicadas. Maria não perdeu a oportunidade de fazer comentários maldosos sobre mim, depois que percebeu minha aproximação com Diego no casamento junino, nas semanas seguintes não perdia a oportunidade de falar sobre as mudanças no meu corpo, meus seios crescendo, como eu estava "mudando". Ela era especialista em encontrar formas de fazer qualquer uma se sentir inferior e constranger, e agora parecia ter um novo alvo.

- Está ficando mocinha, Anna? - disse ela, com um sorriso sarcástico. - Agora talvez você consiga se desenvolver um pouco, talvez.

Diego sempre estava por perto, defendendo-me das provocações, mas eu sabia que ele não podia estar sempre ao meu lado. Tinha que aprender a lidar com isso sozinha.

Foi uma semana difícil. Minha mãe continuava com suas tentativas de me transformar em uma "mocinha", comprando roupas nada confortáveis, ligando para todas as mulheres da família para contar a novidade, que para ela era incrível! Enquanto isso, eu tentava resistir, me agarrando à minha própria identidade. E Diego, bem, ele estava sempre lá, me apoiando de uma maneira que eu nunca poderia agradecer o suficiente.

- Anna, você não precisa mudar por ninguém - disse ele, enquanto caminhávamos pela cidade. - Você é incrível do jeito que é, não deixe que ninguém tire sua alegria por tentar mudar quem você é. Eu não sei o que esta acontecendo, mas saiba que estou sempre aqui com você.

Aquelas palavras foram como um bálsamo para minha alma. Eu sabia que Diego estava certo, mas a pressão para me conformar era enorme. No entanto, com ele ao meu lado, eu sentia que podia enfrentar qualquer coisa.

Mais uma menstruação e duas e três, uma calça suja, um mico na escola no erro de calculo do período e algumas monarcas depois eu estava acostumada. Ainda odiava o sangue, a cólica e as alterações de humor, mas o tempo e as repetições fazem a gente se habituar até com as coisas mais horríveis que existem.

No meu quarto num domingo qualquer, estava enrolada em minhas cobertas, peguei meu diário antigo, folhei uma, duas , dez páginas e percebi o quanto mudei de um ano para outro, me senti confusa, na televisão passava um dos animes favoritos, Naruto, uma cena da Hinata timida e na geladeira como sempre, sem coragem de abrir seu coração pro Naruto e ele nunca notando ela, isso nunca tinha me incomodado antes, mas agora sim, agora me incomodou demais. Pois depois do nosso beijo nunca mais tocamos no assunto e ficamos fingindo que não tinha acontecido. E do nada comecei a pensar no Diego, que talvez fosse a hora de descobrir o que tinhamos! Não era mais sobre borboletas no estômago, eu queria ser a namorada dele. Ainda mais depois de perceber que na escola haviam tantas que também queria. E agora estava sentindo coisas diferentes, eu sentia desejos intensos por ele que eu mesma não conseguia entender. Um dia me peguei pensando nele e logo pensei ter menstruado novamente, mas não fazia lógica, já que haviam apenas 3 dias que esse tormento havia acabado. Fui verificar e nada, era outra coisa. Não sabia como falar sobre isso com minha mãe, não tive coragem de falar com ninguém sobre isso. Então decidi me permitir sentir isso em segredo. Deslizei as mãos para tocar onde vinha o prazer e fui conhecer aquele lugar e no outro dia fui conhecer mais um pouco e de repente eu estava sentindo coisas que não imaginava poder sentir, até sentir uma explosão de prazer, o que me fez refletir sobre a conversa sobre sexo que meus pais tinham tido comigo ano passado, sobre sensações boas, mas que precisam ser controladas, guiadas, para não se tornarem problemas.

Abri a janela do meu quarto, era dia e Silvialane cheirava a asfalto e a grama recém cortada, esmagada pelo calor pesado do verão. Segui Diego com os olhos, ele estava cortando a grama do jardim dos meus pais, ele recebia pra cortar a grama dos vizinhos. É, talvez, nesses instantes em que o vejo sem camisa de um lado para outro, pegando com suas mãos firmes os sacos de grama que ele existe para mim com mais perturbadora evidência: a silhueta alta diminui, desenhando a cada passo o caminho de sua volta; ele desaparece ao entrar em casa, minhas pernas tremem, só de pensar nele se aproximando de mim daquele jeito! Apertei as pernas para controlar meu prazer. Mas meus pensamentos estavam tão alheios aquilo que nem me importei tanfo. Convidei Diego para explorarmos a caverna naquela tarde, ele aceitou. Foi para casa tomar banho e me pediu que encontrasse ele lá. E eu só consegui pensar em ter um momento a sós com ele lá. O dia todo, até as badaladas do relógio, eu só conseguia pensar nele, em estar com ele a sós.

A puberdade não é fácil, é um misto de hormônios e sensações, eu já nem me reconheço mais, mas ainda bem que ele torna tudo tão mais leve. Só a sua presença me colocava de volta ao eixo.

E assim, entre risos, lágrimas e muitas cólicas, eu navegava por essa nova fase da minha vida, tentando encontrar um equilíbrio entre as expectativas dos outros e minha própria essência. A transição da infância para a puberdade não era fácil, mas com Diego ao meu lado, eu sabia que podia suportar o ônus, já que eu tinha toda sorte do bônus comigo.

TURMALINA NEGRA - Laços SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora