OBLÍVIO

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Acordei na caverna, o som da água gotejando ecoando nas paredes úmidas. Minhas roupas estavam sujas de barro, meu corpo doía e a escuridão ao meu redor era aterradora. Eu não fazia ideia de como havia chegado ali. Tentei lembrar da última coisa que fizera, mas minha mente estava embaçada, confusa. Meus pensamentos voltavam a medida que a tontura passava, alguns lampejos de lembranças borradas, imagens de uma fogueira girando, insenso no ar, lama, nada muito conexo, tive medo. Minha única ação foi localizar meu celular que estava jogado no chão com a tela trincada, e ligar para o Diego.

Tremendo, peguei meu celular e liguei. O toque parecia eterno até que ele atendeu, sua voz ansiosa do outro lado.

— Ana, onde você está? — perguntou Diego, sua preocupação evidente.

— Na gruta... Não sei como cheguei aqui, estou com medo, Diego, por favor vem me buscar — minha voz saiu trêmula, quase um sussurro enquanto meu desespero se traduzia em choro.

— Fique aí, estou indo te buscar — respondeu ele, sem hesitar.

Enquanto esperava, cada som parecia amplificado, cada sombra, ameaçadora. E meu colar parecia emanar um brilho diferente, pendurado no meu pescoço, parecia pulsar levemente. Eu sabia que algo estava errado, mas não conseguia entender o quê. Tudo era um mistério.

Diego chegou rapidamente, seu rosto preocupado iluminado pela lanterna que trazia. Ele me envolveu em um abraço apertado, colocando sua jaqueta sobre os meus ombros, sua presença imediatamente me acalmando.

— O que aconteceu, Ana? — ele perguntou suavemente, ajudando-me a levantar.

— Eu... eu não sei. Só me lembro de estar em casa, e agora estou aqui. É como se tivesse apagado, como se algo tivesse me trazido aqui... — expliquei, lutando para controlar as lágrimas.

Diego franziu a testa, claramente preocupado.

— Vamos te levar para casa. A gente precisa descobrir o que está acontecendo com você, isso foi bem além de sonambulismo.

Caminhamos lentamente pela trilha escura até a saída da gruta. A cada passo, sentia um calafrio percorrer meu corpo. Algo estava acontecendo comigo, algo que não conseguia compreender. E de alguma forma, senti a sensação que o colar estava no centro disso tudo.

De volta à segurança do meu quarto, Diego se recusou a me deixar sozinha. Ele se sentou ao meu lado, segurando minha mão.

— Estou aqui, Ana.Fica tranquila, vaimos resolver isso juntos — disse ele, sua voz firme e reconfortante.

Mesmo enquanto ele falava, a sensação de que havia algo errado permanecia. A pedra pendurada em meu pescoço parecia brilhar de maneira inquietante, como se tentasse me alertar de algo. Ouvi-lo dizer que estava comigo me trouxe um conforto temporário, mas sabia que aquilo era apenas o começo. Senti que algo muito maior e mais perigoso estava à espreita, e precisávamos estar preparados.

Enquanto Diego falava, uma parte de mim percebeu que ele estava falando mais para me tranquilizar do que para si mesmo. No fundo, ele também estava com medo. E com razão. Mal sabíamos que estávamos no meio de um lance muito maior do que poderíamos imaginar, algo que me parecia antiga, não sabia explicar, mas sentia.

Mas por agora, estávamos juntos. E isso era o que importava. Ele me deu apoio, me confortou e eu pude colocar a cabeça no lugar e ficar bem.

— Foi só um susto, só uma crise sonambula, nada demais. - Repetia pra mim mesma.

TURMALINA NEGRA - Laços SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora