A Lista

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LAN ZHAN
A porta da frente se abre enquanto Wuxian entra correndo na oficina. Ele parece lindo e varrido pelo vento, seus olhos brilhando de excitação quando ele para na minha frente.
—Entrei para um time de hóquei — ele anuncia.
Minhas sobrancelhas sobem quase até a linha do cabelo. —Sério?
Ele balança a cabeça, balançando para cima e para baixo como se fosse um boneco ventríloquo enquanto afrouxa a gravata. —Tenho muito trabalho e quase não tenho tempo para dormir no futuro próximo, mas estou realmente animado com isso. Já liguei para o capitão do time e ele pareceu legal. O primeiro treino é no domingo.
—Isso é ótimo!
Ele está tão animado com isso que é impossível não se deixar levar pelo momento.
Ele se recosta na parede, parecendo um pouco atordoado, mas tem um sorriso no rosto e parece mais leve e feliz do que durante todo o tempo em que voltei a Boston, talvez com exceção de nosso acampamento.
—Preciso de patins novos — diz ele, ainda parecendo que levou um tapa na cara de felicidade.
Eu rio e pego minha carteira e as chaves. —Vamos comprar um para você, nesse caso.
........

Olho para meus pés com ceticismo. Estou usando patins de hóquei azuis e me segurando na grade para salvar minha vida. Nunca entendi como as pessoas deveriam agir com essas coisas. Faria mais sentido se as lâminas fossem tão afiadas que cortassem profundamente o gelo como uma faca na manteiga, e então o gelo me manteria em pé.
Eu fico olhando para meus patins. Parece uma falha de engenharia se você me perguntar.
Claro, eu não seria capaz de virar para lugar nenhum e patinaria contra muitas paredes, mas parece preferível ao que estou fazendo agora, que é cambalear como um potro recém-nascido e esperar pelo momento inevitável em que meu crânio encontra o gelo.
Enquanto isso, Wuxian desliza pela pista como se tivesse nascido com patins presos aos pés. Ele levou apenas cerca de dez segundos para se orientar quando pisou no gelo pela primeira vez, e agora ele está avançando como se o diabo estivesse em seus  calcanhares. Supostamente ele não anda de patins desde o ensino médio, mas eu considero mentira. O que quer que ele esteja fazendo, parece muito com o que ele tem praticado diariamente na última década.
Como que para provar minhas suspeitas, ele patina em minha direção a toda velocidade e, no último momento, faz a parada de hóquei perfeita, pequenos pedaços de gelo voando por baixo das lâminas em minha direção como pequenos mísseis. Ele ri de tudo o que vê no meu rosto.
—Você já se moveu?—ele pergunta em tom provocativo.
—Na verdade, me movi — digo com toda a dignidade que consigo reunir. —Eu vim daquele banco... — Faço um gesto com a cabeça em direção a ele. Não há nenhuma maneira de arriscar tirar minhas mãos da doce, doce balaustrada —... até aqui.
É verdade que aqui está a impressionantes três metros de distância, mas estou chamando isso de uma conquista.
Wuxian balança a cabeça com uma expressão afetuosa no rosto, curva o dedo e faz um gesto em minha direção.
—Venha, então.
Eu olho para ele com descrença. —Ir para onde?
—Para mim.
—Estou bem. — Estou surpreso por não ter arrancado a grade neste momento, considerando o quão desesperadamente estou segurando-a.
Ele balança a cabeça e ri enquanto desliza em minha direção, apagando os últimos metros entre nós. —Eu não vou deixar você cair.
Ele estende as mãos e eu as agarro de má vontade.
—Tenho certeza de que, apesar de todas as suas boas intenções, conseguirei me virar mesmo com a sua ajuda.
Ele sorri para mim e parece tão feliz que por um momento esqueço que estou a um passo de sofrer uma concussão.
—Como é possível que você não tenha aprendido a patinar quando criança? —
Wuxian pergunta. —Moramos em Massachusetts.
—Ao contrário da crença popular, é perfeitamente possível evitar patinar se você estiver determinado o suficiente.
—Mas nós patinávamos quando crianças — Wuxian diz franzindo a testa.
—Você foi patinar. Acontece que eu estava com um resfriado convenientemente localizado sempre que você começava a falar sobre gelo e hóquei. Na verdade, senti um pouco de febre enquanto comprávamos seus patins. Talvez vir aqui para testá-los tenha sido um erro. É melhor eu voltar para o banco. Isso pode ser sério. Posso ter uma reação alérgica à patinação. Preciso sair daqui antes que meu rosto fique todo inchado.
—Seu grande mentiroso. — Wuxian enfia o dedo na minha lateral.
—Não é natural, — digo enquanto tento me desvencilhar, o que só resulta em tropeçar nos patins e agarrar Wuxian com mais firmeza. —Quem inventou uma coisa tão maluca, afinal?—Aponto para meus patins. —O que havia de errado em caminhar?
—Quer dizer os holandeses? — diz Wuxian. —E andar no gelo é lento e dependendo do nível de escorregadio, perigoso.
—Você não precisa andar no gelo. Ande na estrada. Nós inventamos isso por uma razão — resmungo.
Paramos no meio do gelo.
—Ok. — A voz de Wuxian está toda profissional agora. Isto não é um bom presságio para o meu plano de nos manobrar em direção à saída e fugir para pastos mais verdes.
Ênfase na palavra mais verde. O que eu não daria para sentir um pouco de grama debaixo dos meus pés agora.
—Mantenha os joelhos dobrados e o peso inclinado para frente — instrui Wuxian.
—O que você quer fazer é uma espécie de marcha em um lugar e depois tentar seguir em frente, ok?
—O que eu quero fazer é relaxar no sofá e não danificar meu lindo rosto usando-o para amortecer minha queda — murmuro.
—Prometo que você ficará igualmente lindo depois que terminarmos, — Wuxian me garante.
Aí o desgraçado solta minhas mãos e me abandona no meio do rinque. Ok, ele está a apenas um metro e meio de distância, mas parece que está a um quilômetro.
—Estenda as mãos para se equilibrar — ele sugere.
Então começa. E por começar, quero dizer que estou caindo. Bastante.
Principalmente na minha bunda, o que acaba sendo o movimento errado. Aparentemente eu deveria cair de lado, e Wuxian não parece entender que é impossível direcionar a  queda porque eu não sou um maldito gato.
Ele nem me ajuda a levantar porque essa é outra habilidade que a pessoa tem que dominar sozinha, segundo o treinador infernal, antes conhecido como meu melhor amigo. Depois desta noite, vou abrir mão de todos os direitos dele.
Ainda assim, parece haver um método para sua loucura, porque depois de um tempo, sou capaz de andar pela pista com Wuxian deslizando graciosamente ao meu lado.
—Você está indo muito bem. — A mentira descarada pouco faz para aumentar minha confiança.
—Eu sou como um bebê girafa de salto alto. — Eu me agito para frente e para trás mais uma vez. Wuxian se move em minha direção e me segura antes que eu caia de cara no chão.
—Meu herói. — Eu pisco para ele e ele ri.
Ele pega minhas duas mãos e me segura, patinando para trás como se fosse a coisa mais normal a se fazer.
—Tudo bem, — ele diz. —Vamos tentar o próximo passo como este. É chamado de swizzle. Coloque os pés de forma que as lâminas formem um formato de V.
Faço o que ele diz e ganho um sorriso encorajador. Sinceramente, acho que faria qualquer coisa pelo sorriso de Wuxian, então sim, que diabos, vou fazer um swizzle se houver a possibilidade de fazer com que mais desses meninos maus apareçam nos lábios de Wuxian.
—Empurre ambos os pés para fora e depois para dentro novamente, de modo que os dedos dos pés se toquem. Assim. — Ele me solta por um momento para demonstrar.
Acontece que o swizzle para frente é um grande sucesso. Aposto que pareço muito estúpido fazendo isso, mas, no que me diz respeito, podemos encerrar esta aula de patinação agora, porque é assim que vou patinar de agora em diante.
Wuxian tem outras ideias, então, muito em breve, ele me faz girar para trás e então acrescenta algo que é chamado de cavalo de balanço, que parece meio excêntrico, mas não é, e esse movimento para frente/trásé o que quebra minha sequência de vitórias de dez minutos de não cair porque meu pé esquerdo faz algum tipo de oscilação estranha.
Como se estivesse em câmera lenta, começo a descer, mas pouco antes de cair de cara no chão, Wuxian está lá, só que de alguma forma consigo fazê-lo tropeçar com meus patins, e dessa vez é Wuxian quem vai cair.
Há!
Ou, você sabe, eu me sinto mal.
Ele cai direto de bunda. Eu me sinto justificado. Tanta coisa para virar de lado ao cair.
O pensamento exultante não me faz bem, porque meu equilíbrio também desapareceu, então caio em cima de Wuxian, encostando o rosto em seu estômago com um —Oomph.
Por um momento, nós dois ficamos completamente imóveis. Sinto o estômago de Wuxian subir e descer abaixo de mim. Eu deveria me levantar, mas não consigo fazê-lo.
Estou cercado pelo cheiro e calor de Wuxian. Seu corpo se move ligeiramente abaixo do meu. Juro que posso ouvir seu coração batendo em algum lugar acima de mim.
—Desculpe, — eu consigo dizer. Meu corpo esfrega contra o de Wuxian enquanto me movo, o que pode ser um pouco estranho, já que as calças finas que estou usando definitivamente não têm cinto de castidade.
—Deixe-me apenas... — Começo a deslizar para baixo de seu corpo, mas meus patins estão tornando o processo simples pelo menos dez vezes mais difícil do que deveria ser.
Meu processo é interrompido pelos dedos de Wuxian cravando em meu braço.
—Você pode simplesmente... não se mover. — Wuxian parece que perdeu o fôlego com certeza, então eu olho para cima para ter certeza de que ele está bem, mas ele não encontra meu olhar. Ele apenas olha para algum lugar acima de sua cabeça, sua respiração saindo ofegante.
—Claro, — eu digo lentamente.
Eu congelo no lugar. Oh merda, e se eu causei algum tipo de ferimento com risco de vida ao cair em cima dele? Talvez ele esteja com dor e haja sangramento interno?
—Wuxian?— pergunto, tentando confirmar se ele ainda está vivo debaixo de mim.
Ele não responde, e isso não importa de qualquer maneira, porque em questão de segundos, estou preocupado demais para me importar, porque posso sentir isso. Algo duro está pressionando meu peito. Eu pisco, congelado no local. Os sons do rinque foram silenciados pelo zumbido abafado em meus ouvidos enquanto meu cérebro lentamente capta o que está acontecendo.
Todos os neurônios e células entram em alerta máximo imediatamente, e tento ao máximo não fazer nenhum movimento e não surtar, porque agora tenho cem mil por cento de certeza de que posso sentir a ereção de Wuxian.
Não tenho ideia do que acontece a seguir. Eu permaneço no lugar? Eu me levanto?
A luta é real porque ambas as opções são atraentes à sua maneira. Levantar-se neste segundo é a opção correta, obviamente. É a coisa certa a fazer para a minha sanidade e, acima de tudo, é a coisa decente a fazer.
Existe um protocolo tácito para lidar com ereções não intencionais, e é muito simples: você o ignora.
Meu corpo não recebeu o memorando. Eu fico no lugar, esperando. Não sei para quê, exatamente. Para Wuxian surtar e a dureza pressionando meu peito desaparecer? Mas ele não faz isso e não acontece, e já estamos deitados no gelo há muito tempo, e essa maldita calça esportiva que estou usando não vai esconder nada. A única razão pela qual Wuxian não está conseguindo um lugar na primeira fila com meu pau cutucando sua canela é o fato de que estou deitado entre suas coxas. Esse pensamento é absolutamente útil para acalmar meu corpo. Você pensaria que deitar no gelo frio ajudaria, mas não.
Meu pau se recusa a cooperar. Está tão duro que eu provavelmente poderia abrir um buraco no gelo se Wuxian e eu estivesse com vontade de mergulhar na pesca no gelo aqui. Mesmo o ridículo disso não ajuda. Eu estou condenado.
—Minha bunda está ficando molhada — Wuxian finalmente diz com uma voz áspera.
Isso, pelo menos, quebra o feitiço. Eu me afasto dele, executando o movimento perfeito de vergonha no gelo ao lado de Wuxian.
Consigo me sentar, o que é bom porque me permite levantar os joelhos e esconder a ereção digna de uma overdose de Viagra que ainda se recusa a parar. Demora mais algumas eternidades para meu pau perceber a mensagem de que não vai haver trepada no gelo, e depois finalmente começa a acalmar-se. Pequenas misericórdias.
Wuxian se levanta com muito mais sutileza do que eu jamais poderia fazer. Evito olhar para sua… área geral de volta por todos os meios possíveis.
—Precisa de ajuda para se levantar?—Wuxian pergunta. A voz dele é toda estranha.
Há uma tensão nela que não existia antes. Sinto vontade de xingar. O surto chegou.
Talvez ele até tenha visto como meu corpo reagiu e é isso que está causando a expressão contraída em seu rosto.
Deixo minha cabeça cair para frente e fecho os olhos por um momento. Merda, merda, merda! Isso não pode se tornar algo que tornará tudo entre nós estranho.
Simplesmente não pode. Trabalhei tanto durante anos para garantir que meus sentimentos não nos arruinassem, então uma ereção acidental, deslocada e causada por fricção não nos arruinará. Eu me recuso a deixar isso acontecer.
O sorriso que colo no meu rosto é tudo menos natural quando agarro o braço estendido de Wuxian e cuidadosamente me levanto.
Inicie a operação Ereção-Que-Ereção-Eu-Não-Senti-Nada. Codinome EQEUNSN, para abreviar.
Eu me forço a rir. —Cara, você deveria ter visto seu rosto quando caiu.
Wuxian inclina a cabeça para o lado, uma expressão confusa no rosto.
—Só... — Faço um gesto no ar com a mão e contorço o rosto em uma espécie de careta. —E então com o… — Outro gesto sem sentido com a mão, cortesia minha. — Hilário — termino com outra gargalhada que parece tão genuína quanto a risada que dei depois que Mian acidentalmente me deu uma joelhada nas bolas em seu casamento, e ri porque não queria aborrecê-la em seu grande dia.
—Uh-huh— Wuxian diz lentamente, ainda me olhando como se esperasse encontrar alguma coisa, só que não sei o que ele está esperando ver.
—Devíamos ir — anuncio em voz alta. —Toda essa patinação está me deixando com fome. Vamos comer alguma coisa. Eu pago. Ei! Isso rimou. Vamos caminhar e ver se conseguimos encontrar mais rimas. Isso parece muito divertido. Na verdade, a partir de agora, nada além de rimas será permitido. Teremos nossa própria noite de poesia e não se atreva a brigar. E vamos.
Querido Deus, Lan Zhan, cale a boca!
Eu obedientemente fecho minha boca. Isso é melhor.
— Lan Zhan — Wuxian me chama, mas eu já me afastei alguns metros em direção à saída do rinque, então finjo que não o ouço. Só preciso de um segundo e então tudo ficará bem. Eu posso consertar isso. Posso fazer com que voltemos ao normal.
—Lan Zhan, — Wuxian chama mais uma vez.
Eu o ignoro. Mas no espírito da noite de poesia, a única resposta na minha cabeça para Wuxian chamando meu nome é um alto e decididamente desesperado. Por quê?

(....)