A Lista

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LAN ZHAN
— Isso é lindo. Muito obrigado!
A mulher sorri para mim enquanto circula a mesa que acabamos de entregar.
Pego Wuxian sorrindo para mim do canto da sala. Provavelmente é principalmente um alívio que ele não tenha que me ver roer as unhas e narrar todos os cenários estranhos que passaram pela minha cabeça sobre coisas que poderiam acontecer e que nos impediriam de chegar a Toronto a tempo. Você só pode repetir: —A inteligência extraterrestre provavelmente não está interessada em mesas de jantar —, tantas vezes antes de ficar chato.
—Fico feliz que você esteja feliz com o resultado. — Deslizo as pontas dos dedos sobre o tampo de cerejeira brilhante da mesa. É uma bela peça de mobiliário. Algo de que posso me orgulhar se alguém se interessar pela origem da mesa.
—Nossos pais vão adorar.
—Isso é bom. — Pela primeira vez hoje, posso soltar um suspiro de alívio.
Conversamos um pouco mais antes de Wuxian e eu nos despedirmos e voltarmos para a van. Está ficando tarde e estivemos na estrada o dia todo.
Wuxian boceja quando entramos na van e vira a cabeça para o lado, de frente para mim.
—Jantar?— ele pergunta. —E então um hotel?
—Sim, para tudo isso. — Pego meu telefone e faço uma busca rápida. Trinta minutos depois, estamos em um restaurante 24 horas, pedindo café da manhã para o jantar.
O lugar está quase deserto, então nossa comida chega rapidamente. Estive muito preocupado para comer o dia inteiro, mas, em vez de comer, observo Wuxian.
—O quê?— ele pergunta quando olha para cima e me encontra olhando para ele.
—Você é ótimo, sabia disso?
Ele aperta os olhos para mim. —Isso é uma estratégia para pegar minhas panquecas?
—Sim. É uma distração elaborada que criei exclusivamente para esse propósito. Mas eu esperava que você chorasse.
—Todos esses anos de amizade e você ainda não aprendeu que sou um drone sem emoções.
Reviro os olhos. —Com certeza você é.
Wuxian faz sua melhor voz de robô. —Humanos da Terra. Estou aqui para aprender sobre o conceito de sentimentos.
Inclino minha cabeça para o lado. —Você deveria ser um alienígena ou um robô?
—Qualquer um funciona.
Eu bufo, e ele balança a cabeça antes de voltar a comer suas panquecas. Eu o cutuco com o pé para chamar sua atenção. Wuxian levanta as sobrancelhas para mim.
—Obrigado, — eu digo. —Por hoje. Por estar lá para mim. Você é como meu super-herói feito sob medida. Sempre presente quando mais preciso de você.
Ele me envia um sorriso curioso, como se estivesse tentando descobrir por que de repente estou afirmando o óbvio.
—Você vem primeiro, — ele diz como se fosse a coisa mais natural do mundo. —
Sempre que você precisar de mim.
Ele se volta para a comida como se não tivesse acabado de dizer algo tão profundo que faz meu interior apertar e vibrar. E ele diz isso como se não fosse grande coisa. Assim é como sempre será entre nós.
Tenho que abaixar o garfo porque minhas mãos começaram a tremer loucamente. Eu as escondo debaixo da mesa.
Wuxian franze a testa enquanto olha para mim, sentindo com a precisão de um radar afinado que algo está acontecendo.
—Você está bem?

Eu concordo.
—Tudo bem. — Minha voz soa mais como um grasnado, então limpo a garganta, tentando o meu melhor para parecer normal. Distração. Eu preciso desesperadamente de uma.
—Ainda não consigo acreditar que Cheng te deu uma folga tão facilmente. Eu teria apostado minhas economias no fato de que ele faria birra — brinco. —Não que eu tenha alguma poupança, então não seria uma grande aposta, mas é a ideia que conta.
Wuxian ri. —Você teria ganhado essa aposta.
—Droga, isso é apenas jogar dinheiro de graça fora. Como você está aqui, então?
Você prometeu fazer horas extras na véspera de Natal?
Ele balança a cabeça. —Eu me demiti.
Ele deixa a declaração cair entre nós e continua comendo. Eu fico olhando para ele, boquiaberto.
Ele acabou de dizer que largou o emprego? Para vir me ajudar? Devo ter ouvido mal.
Isso não parece nada certo.
—Você se demitiu?— pergunto tão alto que a garçonete levanta a cabeça dos livros que estava lendo. —Desculpe, — eu chamo antes de virar minha cabeça para Wuxian. —
Você acabou de dizer que largou o emprego?
—Sim.
E então ele simplesmente... continua enfiando panquecas na boca. Ele olha para cima depois de um tempo, quando eu não disse nada e fiquei boquiaberto com ele por um longo tempo.
—Você não está com fome?— ele pergunta.
—Você largou o emprego — repito, parecendo um pouco histérico agora. Não consigo explicar por que essa informação me faz sentir como se algo estivesse solto dentro
de mim. Ou talvez eu possa. Porque se Wuxian está fazendo essa mudança, quanto tempo até que ele esteja pronto para me deixar?
—Isso é um código para ser demitido?— pergunto. —Porque Cheng não pode fazer isso. Você sabe o que? Você deveria processá-lo.
—Eu não fui demitido.
—Então é uma pegadinha?— pergunto, com esperança inconfundível ressoando em meu tom.
Wuxian levanta as sobrancelhas para mim. Ele parece muito calmo. Eu não entendo o que está acontecendo aqui. Ele não deveria estar preocupado, chocado ou assustado?
Eu estou todas essas coisas. Ele largou o emprego. Outra mudança. Quanto tempo até ele perceber que faço parte de sua antiga vida e preciso ficar lá junto com todo o resto?
—Por quê?— pergunto. —Por minha causa? Por causa desta entrega? Você não pode fazer isso. — Pareço um disco quebrado, mas esse trabalho é a vida de Wuxian. É nisso que ele tem trabalhado praticamente toda a sua vida. Ele disse a todos em todos os dias de carreira no ensino médio que seria advogado no escritório de sua família, assim como seu irmão mais velho.
A palma de Wuxian cobre a minha e eu pisco.
—Calma, — ele simplesmente diz.
Respiro fundo. —Você tem razão. Foi você quem se demitiu. Por minha causa. Isso não vem ao caso. Você deveria estar pirando agora, e eu deveria ser a voz da razão. Então é isso que vamos fazer. Agora mesmo. E ir.
Eu olho para ele com expectativa, levantando as sobrancelhas e balançando a cabeça para encorajá-lo a assumir o controle. Ele não assume. Acho que vou começar então.
—Pronto, pronto — digo, parecendo um pouco em pânico, o que acho que é uma melhoria. —Tenho certeza de que você conseguirá seu emprego de volta. Você pode alegar insanidade temporária. Posso garantir por você e nem precisaria mentir porque essa situação é realmente uma loucura.
—Não quero meu emprego de volta.
O que está acontecendo?
—Não gosto do meu trabalho — diz Wuxian.
—Desde quando?
Ele dá de ombros. —Desde sempre. Passei anos pensando que as pessoas que dizem que querem ir trabalhar de manhã estão mentindo ou pelo menos embelezando a verdade liberalmente.
—Mas você está sempre no trabalho.
O olhar que ele me envia é quase de pena. —Não porque eu amo o que faço.
—E esta tarde você simplesmente… decidiu que adora um pouco mais?
—Eu não teria dirigido até o Canadá para atender um cliente — diz ele, aparentemente do nada.
—Huh?
—Você fez. Você foi além. Eu não. Quer dizer, sim, trabalho muitos dias, mas não faço nenhum esforço extra.
—Tem certeza disso?— pergunto, pensando em todas as vezes que liguei para ele tarde da noite ao longo dos anos, apenas para descobrir que ele ainda estava no escritório.
—Meu trabalho é uma tarefa árdua — ele responde. —Não fico pensando se poderia ou não ter feito algo melhor. Não estou relaxando ou sendo indiferente, mas não parece pessoal de forma alguma. Não me orgulho de um trabalho bem executado, nem fico arrasado quando falho. Eu simplesmente estou lá. Existindo. E eu não quero mais me sentir assim.
Ele aperta minha mão que ainda está segurando. —Achei que todos sentiam o mesmo em relação ao seu trabalho. Cheng é praticamente um robô, então não tenho ideia se ele gosta do que faz, mas com certeza ele nunca pareceu muito entusiasmado com isso, então tomei isso como uma validação de meus próprios sentimentos mornos, mas observei você há meses, e você é realmente apaixonado pelo que faz. Quando você fala sobre seu trabalho, você brilha. — Ele dá de ombros, parecendo um pouco envergonhado.
—Achei que talvez eu merecesse isso também.
Solto um grande suspiro. Os resquícios do meu maldito surto irracional ainda estão lá, mas o que Wuxian acabou de dizer definitivamente ressoa em mim. Entendo a sensação de ficar sem saber o que quer fazer da vida. Também estive lá. Por anos.
—Você merece isso. Você merece o melhor trabalho. Algo que te faria feliz o dia todo.
Wuxian sorri como se minhas palavras tivessem lhe dado a última garantia que ele precisava.
Hesito por um segundo. —Então… alguma ideia do que você quer fazer da sua vida?
—Não — ele diz enquanto pega um pedaço de waffle do meu prato. —Sabe qual é a melhor parte?—ele pergunta.
—Não. O quê? — Eu me inclino para trás e olho para ele. É impossível não sorrir ao ver como ele parece relaxado.
—Não preciso ter tudo planejado agora — diz ele. —Você sabe, eu tenho esse tipo de melhor amigo que uma vez disse que tenho vinte e oito e não oitenta... — eu o cutuco com o pé, e ele sorri —... então acho que tenho algum tempo para criar um plano.
—Parece um bom conselho — digo. —Você tem muita sorte de ter alguém tão brilhante em sua vida para espalhar essas pérolas de sabedoria em seu caminho.
—Eh, cérebro inteligente. Sua principal atração é que ele é gostoso.
Eu começo a rir.
— Gostoso, você disse? — Chega do meu plano de nunca flertar com Wuxian.
Sou um idiota. Beijá-lo, dormir com ele, pensar que poderia haver mais entre nós –
tudo isso só pode levar a um coração partido. Vou perder tudo quando essa coisa entre nós seguir seu curso, porque seguirá seu curso. Como não poderia? Wuxian disse isso. É apenas sexo, Lan Zhan.  As palavras sussurradas ecoam em minha mente.
—E divertido, — Wuxian continua, alheio à tempestade que assola dentro de mim.
Ele desliza as pontas dos dedos pelas costas da minha mão. Arrepios percorrem todo o meu corpo como pequenas asas de mil beija-flores batendo contra minha pele.
—E inteligente — acrescenta Wuxian.
Engulo e forço minha mente a se afastar de meus pensamentos sombrios.
— Já concordamos que sou brilhante — digo.
—E sexy. — Wuxian continua deslizando as pontas dos dedos nas costas da minha mão. Os beija-flores invisíveis estão enlouquecendo.
—Você também já disse isso. — Minha voz está tão ofegante que quase não se ouve.
—Vale a pena repetir. Você pode me seduzir com apenas um olhar. Não pensei que fosse possível me sentir assim.
Fecho os olhos por um momento, tentando lutar contra o desejo e as emoções muito aguçadas. A necessidade de mais é uma coisa viva que respira dentro de mim.
Diga à ele!
—Eu...
A garçonete aparece na frente da nossa mesa, interrompendo minhas palavras. O
momento termina com um barulho silencioso que ressoa em meus ouvidos como um tiro.
—Posso pegar mais alguma coisa para vocês?— ela pergunta com uma voz alegre.
Wuxian se recosta e lhe dá um sorriso educado. —Não, acho que estamos cheios.
Ele me lança um olhar questionador e eu aceno.
Pagamos nossa conta e saímos de lá.
—Então… — eu começo. Minha voz está áspera e estou muito consciente de Wuxian ao meu lado. Ainda mais do que o normal.
—Um hotel?— Wuxian sugere enquanto pega seu telefone. —Vou encontrar algo para nós.
Ele demora um pouco para rolar a tela, mas, eventualmente, ele me envia um sorriso vitorioso, aquele que faz os cantos de seus olhos enrugarem.
—Feito— ele diz.
Eu semicerro os olhos para ele.
—Você parece alegre demais para uma pessoa que acabou de passar o dia dirigindo para outro país por capricho e que agora tem que passar a noite em uma cama desconfortável em um quarto de hotel genérico.
—Quem disse algo sobre desconfortável e genérico?— Wuxian pergunta rindo enquanto agarra minha mão e começa a me arrastar em direção ao carro.
—Por que você está tão animado com isso?
Ele olha para mim por cima do ombro e juro que há um brilho malicioso em seus olhos.
—Dã, sexo em hotel — ele diz. —Isto vai ser divertido.
Não posso deixar de rir quando entro no carro.
Sim. Diversão.
É apenas sexo, Lan Zhan. Apenas um pouco de diversão.
Odeio cada uma dessas palavras com fervorosa paixão.

(......)