𝓐𝓷𝓰𝓮𝓵...

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Permaneço em meu quarto por horas, tentando acalmar meus pensamentos e controlar as lágrimas que ainda teimam em cair. Cada vez que me lembro do tapa e das palavras de meu pai, a dor e a raiva voltam com força total. Preciso de uma distração, algo que me tire desse turbilhão de emoções.

Meus olhos vagueiam pelo quarto, buscando algo que possa me oferecer um alívio momentâneo. É então que meu olhar se fixa no cavalete no canto, com uma tela em branco esperando por minha arte. Pintar sempre foi minha forma de escapar da realidade, de expressar o que palavras não podem capturar.

Levanto-me da cama e me dirijo ao cavalete. Pego os pincéis e começo a misturar as tintas, buscando as cores que melhor capturam minha tempestade interior. Cada pincelada é um suspiro de alívio, um momento em que posso deixar minha mente vagar livremente.

Enquanto pinto, relembro as palavras de meu pai ecoando em minha mente. "Liberdade?" Papai rosna, dando um passo à frente. "Essas regras existem para te proteger, para proteger a nossa família. Desde que você era criança, deixei claro que só poderia namorar aos 18 anos, que só poderia sair de casa com seguranças e que deveria sempre me avisar ou avisar seu irmão mais velho. Essas regras são para o seu bem!"

"Mas por que só eu? Por que não a Rafaela ou o Lucca? Por que eu sempre tenho que ser controlado e vigiado?" falo com amargura. "Isso não é vida, é uma prisão!" rebato, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim. "Rafaela e Lucca não seguem essas regras. Por que só eu tenho que viver assim?"

Revivo cada momento da discussão, a sensação de injustiça e o desejo crescente por liberdade. As pinceladas se tornam mais intensas, refletindo minha frustração no traçar das linhas e na escolha das cores.

Após um tempo que parece uma eternidade, termino minha pintura. Observo-a com um misto de satisfação e tristeza, pois sei que o que realmente desejo um pouco de liberdade que parece cada vez mais distante.

Enquanto coloco os pincéis de lado e me afasto do cavalete, a porta do meu quarto se abre lentamente. É minha mãe, com seus olhos castanhos cheios de preocupação e amor. Ela me olha com ternura, reconhecendo a dor que carrego.

"Angelo," ela murmura suavemente, fechando a porta atrás de si. "Posso falar com você?"

Assinto com um aceno de cabeça, incapaz de formular palavras enquanto ela se aproxima e se senta ao meu lado na cama. Seu toque é reconfortante, familiar.

"Eu sei que as coisas estão difíceis para você agora." ela começa, sua voz embargada pelo peso das palavras não ditas. "E eu queria poder mudar tudo isso."

Eu a encaro, vendo a angústia nos seus olhos. "Por que não pode, mãe? Por que não podemos simplesmente ser uma família normal, sem todas essas regras e expectativas?"

Ela suspira profundamente, como se buscasse coragem para responder. "Seu pai... ele tem seus motivos, Angelo. Não são desculpas, mas... ele vive com o peso de decisões que foram feitas muito antes de você nascer."

"Mas isso não justifica." interrompo, sentindo a raiva ressurgir. "Não justifica ele ter me batido, como se eu fosse apenas mais um peão no jogo dele."

Minha mãe abaixa o olhar, as lágrimas finalmente escapando silenciosamente. "Eu sei, meu amor. E eu sinto muito. Ele... ele não queria fazer isso. Ele surtou depois que soube que você foi quase violentado..."

Fico chocado com suas palavras. "O quê? Quem te disse isso?"

Ela hesita por um momento, parecendo decidir como contar a verdade. "Rafaela nós contou."

Minha mãe suspira, sua expressão tensa. "Angelo, seu pai... ele está muito preocupado com você. Com o que aconteceu aquela noite..."

A memória do homem estranho, da sensação de ser arrastado para o canto escuro, tudo isso vem à tona como uma avalanche. "O que aconteceu, mãe?"

Ela coloca uma mão gentil em meu ombro, hesitante. "Você foi encontrado em uma situação perigosa, Angelo. Seu pai... ele está tentando proteger você."

"Proteger-me?" repito, sentindo o coração apertar. "Como assim?"

"Ele... ele está preocupado com sua segurança." ela diz, as palavras saindo com dificuldade.

"Mas por quê?" questiono, lutando para entender.

"Seu pai ama você mais do que tudo." ela continua, seus olhos castanhos cheios de compaixão. "Ele sente a responsabilidade de cuidar de você, de mantê-lo seguro."

Sinto um nó se formar em minha garganta. "Eu sei, mas... por que eu tenho que viver sob tantas regras? Por que eu sou o único?"

Minha mãe suspira profundamente, sua expressão refletindo a tristeza. "Seu pai... ele quer proteger você de tudo que possa te machucar. Ele acha que isso é o melhor para você, mesmo que doa."

Respiro fundo, tentando aceitar as palavras dela. "Eu entendo." murmuro finalmente, a compreensão começando a se infiltrar em mim. "Eu só... eu só queria que fosse diferente."

Ela me abraça com firmeza, um gesto que transmite tanto amor e cuidado. "Nós vamos encontrar um jeito, Angelo. Eu prometo. Não importa o que aconteça, nós vamos encontrar um jeito."

Ficamos ali, mãe e filho, nos braços um do outro, enquanto a promessa de um futuro incerto paira no ar. "Eu farei sua sobremesa favorita hoje à noite." ela murmura suavemente, tentando trazer um pouco de leveza para nosso momento sombrio.

Um sorriso leve toca meus lábios pela primeira vez desde a discussão com meu pai. "Eu adoraria." respondo sinceramente, sabendo que mesmo nas trevas da máfia, ainda há pequenos momentos de doçura que podemos saborear.

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Autor:
Fiz algumas correções em algumas páginas, mas não se preocupe em reler porque nada foi alterado. Muito obrigado por ler e até a próxima.

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