𝓛𝓸𝓻𝓮𝓷𝔃𝓸...

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Eu estava sentado naquela sala abafada, cercado por aqueles velhos miseráveis do conselho. A madeira escura, os quadros antigos e o cheiro de charuto velho me davam nojo. Tudo naquele ambiente gritava tradição e decadência, uma combinação que eu desprezava. Como capo, ainda havia certas decisões que eu era obrigado a comunicar a esses homens, mas se dependesse de mim, todos já estariam enterrados. Não faziam nada além de arrastar nossa organização para o passado. Minha paciência estava no limite.

Meus pensamentos, entretanto, estavam longe daquele lugar. Desde a noite passada, minha mente não parava de voltar ao momento com meu anjo. Eu finalmente estava com ele, aquele diabo de olhos azuis que, de alguma forma, me manipulava como ninguém mais conseguia. Mas a interrupção de Rafaella estragou tudo. Mesmo assim, eu não poderia fazer nada contra ela, por mais que quisesse punir alguém por ter atrapalhado. Ela era irmã de Angelo, e magoá-la só afastaria meu anjo de mim. Eu não podia arriscar isso.

Droga, como Angelo jogou comigo. Ele sabia exatamente o que fazer para me controlar, e a pior parte é que eu cedi. Um toque dele, uma palavra sussurrada em seu tom doce, e minhas barreiras caíram como castelos de areia diante do mar. Como é possível que um garoto que não chega nem a um metro e sessenta pudesse me desestabilizar tanto? Ele sequer tem ideia do poder que tem sobre mim. Apenas um sorriso seu e sou capaz de destruir cidades inteiras para mantê-lo seguro. É isso que minha mãe falava sobre amor?

Amor... essa palavra me fazia sentir um turbilhão de coisas que eu não entendia. Não era só amor. Era algo mais. Era possessividade, uma necessidade insaciável de tê-lo para mim e puni-lo por sua atrevida boca. Angelo me deixava à beira do abismo, e eu odiava isso. Só de imaginar alguém tocando nele, meu sangue fervia. Eu aniquilaria qualquer um que ousasse sequer ameaçar a segurança dele. Se for preciso, acabo com o mundo inteiro.

Mas meu devaneio foi interrompido por Williams, o mais jovem entre aqueles velhos caducos do conselho. Ele soltou uma frase que fez minha raiva atingir novos níveis:
"Mas a entrega dos lençóis manchados de sangue após a noite nupcial é a comprovação da pureza da esposa."

Senti minha mão se fechar em punho. Esse ritual arcaico? Esses desgraçados ainda acreditavam que isso era necessário? Como se precisássemos exibir lençóis manchados para provar algo. Antes que eu pudesse responder, Don Fabrício pediu a palavra, mas, claro, aquele rato, Luigi Grego, teve que se meter.

"E o que faz aqui, Don Fabrício? Sua presença é dispensável para esta reunião!" Luigi provocou com seu tom irritante.

Filho da mãe, pensei. Minha raiva por Luigi era tão grande que, se eu pudesse, o arrancaria daquele conselho hoje mesmo. Ele sabia disso. Sabia que eu estava só esperando o momento certo para me livrar dele, mas ainda não havia chegado o dia.

"Eu o convidei para essa reunião, Grego." Minha voz saiu com um desprezo que eu não fiz questão de disfarçar. "Agora, cale sua boca imunda e escute."

O silêncio que se seguiu foi quase reconfortante. Luigi empalideceu e, pela primeira vez, teve a decência de manter a boca fechada. Voltei meu olhar para Don Fabrício, que me olhou com um leve aceno de cabeça antes de continuar.

"Concordo com o capo." disse ele, com firmeza. "Meu filho, Angelo, não precisa passar por tal humilhação. Estamos no século 21. Essa cerimônia deveria ser abolida."

Eu assenti, satisfeito com a declaração dele. Fabrício não era bobo. Sabia exatamente o que dizer para apoiar meu ponto de vista. E, honestamente, ele estava certo. Não precisava desse espetáculo ultrapassado.

"Bom.." eu disse, levantando-me, já impaciente. "Esta reunião está encerrada. E sobre essa cerimônia estúpida, saibam que ela não acontecerá. O que acontece entre cônjuges não é da conta de ninguém."

Antes que qualquer um tivesse a chance de responder, saí da sala, ignorando os olhares espantados dos conselheiros. Eles já tinham me irritado o suficiente por um dia.

Enquanto caminhava pelos corredores, tirei meu celular do bolso. A necessidade de ouvir a voz de Angelo era avassaladora. Não conseguiria esperar. Vasculhei minha lista de contatos até encontrar o nome dele e, com um toque, fiz a ligação. O telefone tocou algumas vezes antes de sua voz suave ecoar do outro lado.

"Alô?"

Eu sorri. Um sorriso que raramente mostrava, mas com Angelo... era diferente. "Jante comigo hoje às 19h. Eu vou buscá-lo no horário marcado. E, anjo, odeio atrasos."

Minha voz era firme, quase uma ordem. Eu sabia que ele resistiria, mas Angelo aprenderia logo que minhas ordens não eram feitas para serem discutidas.

"Lorenzo?" A surpresa na voz dele me fez sorrir ainda mais. "Espera aí... Nem vou perguntar como conseguiu meu número. E o que faz você pensar que eu vou aceitar isso assim, tão fácil? Não sei se estarei disponível para seu gentil convite, senhor Bianchi."

Havia um toque de deboche na voz dele que me fez querer rir. Ele era atrevido, e isso só me fazia querer provocá-lo mais.

"Não ouse ser teimoso, Angelo. Se na hora marcada você não estiver pronto, eu invado seu quarto e te levo à força. E acredite, ninguém me impediria."

Dei a promessa com a voz fria e controlada. Sabia que ele gostava de um bom desafio, e eu estava mais que disposto a jogar.

"Ah, eu pagaria para ver isso.." ele respondeu com uma risada suave. "Mas, para evitar confusões e considerando o quão louco você é, está bem. Eu aceito sair com você. Mas... sem gracinhas, ou eu corto suas bolas."

Eu ri. Sabia que ele não estava brincando. "Quem diria que o capo tem senso de humor..." Angelo murmurou, e eu tive que admitir que ele conseguia me desarmar de formas que ninguém mais podia.

"Então... até a noite, Angelo." Minha voz saiu um pouco mais nervosa do que eu pretendia.

"Até, Lorenzo."

Encerrando a ligação, guardei o celular no bolso e, ao sair do prédio, vi meu motorista já à espera. A porta preta brilhante do carro foi aberta, e entrei sem uma palavra, afundando-me no banco de couro macio enquanto os vidros escuros me protegiam dos olhares curiosos. Assim que o carro começou a se mover, abaixei o vidro que me separava do motorista, sinalizando para ele seguir direto para o próximo destino. Com um leve aceno de cabeça, ele acelerou, nos afastando daquele lugar que já tinha me dado nos nervos.

Fechei os olhos por um momento, sentindo o suave balanço do carro. Por mais que tentasse me concentrar em outros assuntos, minha mente voltava para Angelo. Meu anjo, meu tormento. Ele era a única pessoa capaz de me fazer sentir tão vulnerável e tão poderoso ao mesmo tempo. E essa noite, eu faria com que ele entendesse que, independentemente de seus joguinhos, ele era meu.

Meu Mafioso...Onde histórias criam vida. Descubra agora