𝓛𝓸𝓻𝓮𝓷𝔃𝓸...

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Sentado em meu escritório, envolto pela penumbra, olho fixamente para o copo de uísque em minhas mãos. O líquido âmbar balança levemente, refletindo as luzes fracas que entram pelas janelas cobertas por pesadas cortinas de veludo. Minha mente está a mil, mas um nome insiste em se destacar no caos dos meus pensamentos: Angelo.

Ninguém suspeita dos meus sentimentos por ele. Para todos os outros, sou apenas Lorenzo, o capo cruel e implacável, o homem que controla a máfia com mão de ferro. Mas a verdade é que, por trás dessa fachada, há uma vulnerabilidade que poucos conhecem. Uma vulnerabilidade que Angelo trouxe à tona.

Lembro-me claramente da noite em que o salvei. Meu coração quase parou quando o vi sendo arrastado por aquele bastardo. A raiva e o medo me dominaram, e agi sem pensar. Mesmo depois de tantos anos, é raro sentir algo tão visceral. Quando finalmente o tive em meus braços, desmaiado mas seguro, percebi que faria qualquer coisa para protegê-lo.

Mas não posso demonstrar isso. Não posso mostrar fraqueza. Na máfia, fraqueza é um convite para a morte. E, portanto, mantenho meus sentimentos escondidos, enterrados sob camadas de crueldade e indiferença.

O som de passos firmes no corredor me traz de volta ao presente. Dante, meu braço direito e amigo de infância, entra no escritório sem bater. Ele sabe que só pode fazer isso em situações urgentes.

"Capo, precisamos discutir os novos planos para a expansão." ele começa, sua voz firme e direta.

Assinto, colocando o copo de uísque de lado e me recompondo. "Claro, Dante. Vamos falar sobre isso."

Enquanto ele detalha os planos, minha mente continua a vagar de volta para Angelo. Sei que ele está prestes a completar 18 anos, e logo será forçado a enfrentar realidades que ele nem imagina. Quero estar lá para ele, quero ser o escudo que o protege de todo mal. Mas como posso fazer isso sem revelar meus sentimentos? Como posso ser o monstro que todos temem e, ao mesmo tempo, o homem que ele precisa?

Dante termina sua explanação, esperando minha resposta. Forço-me a focar no presente, a dar as ordens necessárias. Mas o tempo todo, uma parte de mim está com Angelo, imaginando o que ele está fazendo agora, se está seguro, se está feliz.

Depois que Dante sai, me levanto e vou até a janela. Olho para a cidade abaixo, um império que construí com sangue e suor. Mas o que vale todo esse poder se não posso ter a única coisa que realmente desejo?

Um som suave na porta me faz virar. É Martina, a governanta que praticamente me criou. Seus olhos negros, sempre cheios de compaixão, agora estão carregados de preocupação.

"Senhor Lorenzo, posso lhe trazer algo?" ela pergunta, sua voz gentil, mas carregada de uma preocupação que ela tenta esconder.

Balanço a cabeça. "Não, Nonna. Estou bem. Apenas... cansado."

Ela me lança um olhar de compreensão antes de sair. Martina sempre soube mais do que dizia, mas ela é leal. Sei que meus segredos estão seguros com ela.

Volto a me sentar, pegando o copo de uísque novamente. A cada gole, sinto a tensão diminuir um pouco. Mas sei que não há uísque ou poder no mundo que possa preencher o vazio que meu anjo deixou em mim.

Fecho os olhos e me permito imaginar, por um breve momento, um mundo onde posso ser apenas Lorenzo, um homem que ama seu anjo, sem medo, sem reservas. Um mundo onde ele pode me ver como eu realmente sou, e talvez, só talvez, ele possa me amar de volta.

Mas é apenas um sonho. Um sonho que guardo para mim, escondido do mundo cruel em que vivemos. E então, me preparo para outra noite de vigília, protegendo Angelo da única maneira que posso: das sombras, sem que ele saiba.

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