Meu Mafioso...

𝓛𝓸𝓻𝓮𝓷𝔃𝓸...

A água quente desce pelo meu corpo, mas nada apaga a raiva que me corrói por dentro. Fecho os olhos, tentando ignorar a dor que as palavras de Angelo me causaram. "Você me arrastou para esse inferno!" Droga. Como eu fui idiota ao ponto de expor ele a tanto perigo? Eu deveria protegê-lo, mas acabei sendo o responsável por jogá-lo nesse caos.

Dou um soco na parede do chuveiro, sentindo a dor nos meus dedos, mas é pouca comparada ao que sinto por dentro. Fui estúpido o suficiente para acreditar que poderia mantê-lo seguro ao meu lado. Agora não há mais volta. O casamento vai acontecer, e ele está preso a mim, à minha escuridão.

Desligo o chuveiro de uma vez e passo a toalha pela pele rapidamente, enrolando-a na cintura. Cada segundo que passa só aumenta o peso em meu peito, como se uma mão invisível estivesse me sufocando. A raiva é sufocante, o medo de perdê-lo é esmagador. Eu não deveria ter colocado ele nisso, mas agora... agora eu tenho que arcar com as consequências e proteger ele de tudo e de todos, inclusive de mim mesmo, se for preciso.

Saio do banheiro e caminho até o closet. As roupas estão todas no lugar de sempre, mas minha mente está uma bagunça. Escolho uma calça de moletom e a visto sem pensar muito. Tudo o que quero é ver meu anjo, me certificar de que ele está bem. A promessa de sair do quarto... eu já sabia que não cumpriria.

Quando volto ao quarto, paro na porta e encaro a cama. Ele está deitado de costas para mim, o corpo pequeno e frágil no meio dos lençóis. O quarto está em uma penumbra suave, iluminado apenas pela luz que entra pelas cortinas. Seus ombros sobem e descem levemente, a respiração tranquila de quem já adormeceu. Só de olhar para ele, me sinto dividido entre uma culpa insuportável e a necessidade de estar perto.

Eu deveria ir embora. Eu disse que sairia. Mas, ao vê-lo ali, tão vulnerável... eu não posso. Me aproximo devagar e paro ao lado da cama, observando seu rosto sereno enquanto dorme. Cada detalhe dele é perfeito, e isso só me faz odiar mais quem eu sou. Ele não pertence a esse mundo sombrio. Eu o arrastei para cá.

Sento-me lentamente ao lado dele, sem fazer barulho. Meu peito aperta ao ver o quão frágil ele parece, tão diferente do que sou. Ele deveria estar longe disso tudo. De mim. Mas agora é tarde demais, e só me resta tentar protegê-lo do que vier.

Levanto-me e, sem pensar muito, me deito ao lado dele. Movimentos calculados, quase sem respirar para não acordá-lo. Puxo o edredom sobre nós e me aproximo, devagar, sentindo o calor do corpo dele contra o meu. Envolvo sua cintura com um dos braços, puxando-o para mim, sentindo a suavidade de sua pele. O mundo poderia desmoronar agora, mas eu só queria esse momento. Só ele, ao meu lado.

Angelo se mexe levemente, resmungando algo inaudível, e meu corpo congela. Mas ele não acorda. Só se ajeita na cama, mais perto de mim, e volta a respirar lentamente. Solto a respiração que nem percebi que estava prendendo e deixo minha cabeça descansar sobre seus cabelos macios. O cheiro dele invade meus sentidos, e pela primeira vez em muito tempo, eu sinto paz.

Fecho os olhos, sentindo o corpo dele relaxado contra o meu. Cada batida de seu coração parece se sincronizar com a minha, e o caos dentro de mim vai diminuindo, lentamente. As preocupações, o peso das escolhas, tudo desaparece, pelo menos por enquanto.

Eu deveria me afastar. Ele merece espaço. Mas não consigo. Não hoje. Envolvo-o mais um pouco, até que as costas dele estejam pressionadas contra o meu peito, e deixo o calor dele me aquecer. Pela primeira vez em anos, meu corpo relaxa completamente. Não há mais tensão, não há mais vazio. Só meu anjo, e isso é tudo o que preciso agora.

Se eu pudesse, nunca sairia daqui. Nunca o deixaria ir. E enquanto ele respira suavemente, sem saber que estou aqui, eu finalmente encontro algo que pensei ter perdido para sempre: Paz. Fecho os olhos, envolvido pelo seu calor, e adormeço. Sem insônia, sem remédios para dormir, sem pesadelos. Pela primeira vez em anos, sinto que estou em paz.