LÂMINA ALIEN (MEADOS DE 2200 - 2210)

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Naquela manhã, Skirah acordou com uma forte dor de cabeça. Esfregou os olhos com as mãos enquanto tentava se lembrar da noite passada, que parecia um grande borrão em sua mente.

- O que eu bebi de madrugada...? - perguntou, sentada na cama, com o rosto entre os joelhos, sentindo um peso extra em seu corpo.

- Perdição de línken. É feita de uma flor afrodisíaca que geralmente não provoca sintomas tão evidentes. Mas acho que você engoliu tudo rápido demais. Sinto muito por ter pedido para você beber. Normalmente, você lida bem com líquidos entorpecentes, e eu não sabia que a perda de memória iria amplificar os efeitos - respondeu James de maneira relaxada enquanto saía do banheiro vestindo um moletom, secando os cabelos brancos molhados com uma toalha de algodão cor cinza.

- Eu preciso dormir mais... - continuou Skirah, antes de ser interrompida pelas mãos frias do noalien em seus braços.

- Infelizmente, hoje não tem como. Aqui há regras sobre o quanto dormir em dias especiais como este, porque teremos que nos reunir no gramado para reagrupamento e organização dos grupos de patrulha pós-ataque.

- Patrulha... alguém me falou sobre isso ontem?

- Fui eu, mas você dormiu. Vou poupá-la das explicações agora, já que estamos em cima da hora. Só entenda que tive que convencer as enfermeiras daqui de que você está em plenas condições de lutar, e, dadas suas demonstrações anteriores, elas não reclamaram muito. Além disso, você tem dez minutos para me encontrar no fim do corredor, pronta. Hoje não terá café da manhã - disse ele, levantando-se da cama e saindo pela porta sem se alongar no diálogo, deixando a toalha ali.

Apesar de ter citado as informações perfeitamente, como havia ensaiado no espelho do banheiro, James estava secretamente nervoso. Agora, do lado de fora do quarto, tentava controlar a própria respiração. Havia pensado em tentar beijar Skirah. Afinal, eles eram um casal, certo? Deveria ser natural que se tocassem, e, na verdade, já deveriam estar tentando procriar há muito tempo. Logo, a direção poderia intervir pela demora dos resultados esperados. Era exatamente isso que ele temia, contudo um pouco de pressão talvez a fizesse notá-lo como parceiro, finalmente.

- Bom dia - Lexy disse de forma carrancuda ao passar por ele no corredor, despertando-o de seus devaneios românticos.

A garota de olhos cor-de-rosa tinha asco de James, e mais ainda de Sky. Achava ridículo vê-lo rastejar por alguém que claramente não tinha interesse nenhum nele.

Para ela, Skirah era cínica.

Dentro do quarto, Skirah praticamente rastejou até o banheiro, desejando que um banho frio amenizasse a dor em sua cabeça. Desejava um remédio, uma bebida forte, ou quem sabe até uma enfermeira para dar uma olhada no calo gigante em seu couro cabeludo, escondido pelos longos e volumosos cabelos vermelhos. Mas o ICN, aparentemente, não tinha essa assistência disponível. Pelo menos, o desconforto inibia os pensamentos ruins que costumavam vir à tona sobre sua própria existência, o que estava acontecendo, e como sua mãe deveria estar se virando sozinha no mundo caótico ao redor da estrutura do Instituto.

Pensar na ausência do café da manhã talvez ajudasse a atiçar sua curiosidade sobre qual seria o rumo daquele dia. Noaliens não tinham a necessidade de se alimentar com frequência. A maior parte de sua energia vinha do ato de dormir e, curiosamente, da exposição ao sol, que os afetava de forma positiva. Mesmo assim, o governo exigira a construção de um refeitório no Instituto, "para aproximá-los de sua parte humana", justificaram. Apesar da baixa necessidade de alimentação, comer ajudava a curar-se mais rápido. Seus corpos funcionavam de forma similar à digestão humana, e ficar muito tempo sem comer causava doenças graves, até mesmo fatais.

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