Formação de Cinzas

DESCOBERTAS (MEADOS DE 2200 - 2210)

Enquanto conversavam no refeitório, Skirah e Moíx viram a vice-presidente entrar no recinto, parecendo um tanto cabisbaixa. Assim que os avistou, apressou-se até eles.

— Se preparem. Vocês terão que retornar ao covil das elementais o mais rápido possível.

— O mais rápido quanto? — Castiel perguntou, chegando à mesa por trás de Skirah, cruzando os braços e torcendo a boca com desdém.

— Aguardem instruções, mas desde já, se mantenham preparados — ela respondeu, ajustando o moletom cinza antes de sair tão rápido quanto chegou.

— O que será que aconteceu? Ela não parecia muito feliz... — comentou Sky, enquanto Castiel se sentava ao seu lado, observando a chegada de Melory e James.

— Bom dia — Mel disse, sorridente.

— Não sabia que a monstrinha antissocial tinha esse tipo de habilidade... Ver você sorrindo, ainda mais para o Jay e não para mim, me deixa enciumada — brincou Ynnori, juntando-se à mesa ao lado de Moíx. Sua barriga agora estava maior. Bendita gravidez híbrida.

— Isso não está meio... totalmente esquisito? Essa piada e esse clima... — perguntou Moíx, franzindo o cenho. Ele se levantou, pretendendo ir ao dormitório para cochilar por alguns minutos, sem ter que participar de qualquer drama que parecia se formar em sua frente.

— Não é bem isso... — começou James, mas foi interrompido por Melory.

— James disse que vai esperar por mim. Quando eu crescer, vai ser meu parceiro condicionado — respondeu, abrindo ainda mais o sorriso.

— Me largou falando sozinha pra ir encher a cabeça da Mel de merda, filho da puta? — Ynn resmungou antes de morder um pedaço de pão duro.

— Nojento — comentou Sky, enquanto Ynnori fazia sinal de negação com a cabeça, e Castiel a olhava de canto.

— Não mais do que vocês, que se encontraram há dois dias e já transaram. Passei por perto daquela gruta ontem e ouvi uns barulhos estranhos — retrucou Lexy, aparecendo de repente, causando imediatamente uma reação desagradável em James. Seus olhos escureceram.

— Transaram?! — Ele bradou, afastando-se da garota ao seu lado. Investiu quase três meses em Skirah, e, após um trauma, amnésia e mentiras, finalmente conseguira que ela o beijasse por vontade própria. No entanto, o humano aparentemente tinha conseguido tudo isso e mais em poucos dias. Ele sentiu o desejo de matá-la por rejeitá-lo, mas não ceifaria a vida de sua amada e inalcançável divindade. Então voltou seu desejo para o rapaz de cabelos alaranjados.

Talvez para ambos. Esses pensamentos estavam fazendo suas veias escurecerem cada vez mais.

Se a matasse, ela não seria de ninguém, concluiu. Contudo, antes que tomasse isso como uma decisão, o desejo de acabar com a própria vida por sequer cogitar machucá-la o consumiu, deixando-o ainda mais frustrado.

— Isso não é da nossa conta, Jay — interveio Mel.

— Transamos, e qual o problema? — respondeu Skirah, olhando-o fixamente. Só de lembrar do ocorrido, sentia vontade de vomitar e chorar. A dor ainda a consumia por dentro. Entretanto, não daria esse gostinho ao colega, que agora a julgava como uma vadia, mesmo que seus olhos vermelhos ardessem como brasas enquanto proferia as palavras.

Nesse momento, Ynn ria descontroladamente.

— Skirah era virgem. Você ao menos sabe o quanto isso importa para uma noalien fêmea? Acho que nem Skirah sabe.

— Vai com calma, James. Quem te disse que eu era virgem?

E ela era. E só queria comer um pedaço de pão e sair dali com o pouco de dignidade que ainda tinha.