Mel nunca foi de falar muito.
Desde nova, quando foi transferida da base governamental para o Instituto novamente, foi praticamente obrigada a interagir com outros de sua espécie. Ao conhecer Ynnori (que, na época, já aparentava ser bem mais velha do que ela), soube que apenas uma parte de sua espécie nasce dentro do ICN I, como era o seu caso. Estes são enviados para uma das bases laboratoriais, onde suas habilidades são testadas desde muito cedo.
A garota, de cabelos num tom azul vivo, sempre se viu como algo saído de um receptáculo qualquer. Não sabia quem eram seus genitores e o que poderia significar ter um. Por um tempo, tentou descobrir, contudo falhou, então desistiu de ter qualquer meta ali dentro, a não ser empurrar um dia de cada vez até uma grande guerra, ou sua morte.
Não mais se esforçava para gerar emoções em si mesma. Assim como James, sempre acreditou que os humanos são uma raça quase extinta, e que os noaliens vivem sob o julgo de um governo controlador que está no poderio de sua própria espécie, se passando por seres terráqueos comuns para manter a discrição por motivos... Quais motivos? A partir daí, a cabeça começava a doer.
Como não se interessava muito pelos outros ao seu redor, Mel passava a maior parte de seu tempo numa biblioteca do Instituto pouco frequentada pelos demais. Lá, ela costumava encontrar informações em arquivos físicos e digitais que não estavam nas aulas gravadas. O que a fez saber muito mais acerca de si mesma do que os outros sabiam sobre ser híbrido.
Através de suas leituras, descobriu que os noaliens têm um controle maior sobre o emocional do que os humanos, assim como têm mais tolerância à dor e aos traumas. Possuem também mais facilidade adaptativa e, apesar de mortais, se continuarem mantendo seus níveis de saúde estáveis, não se sabe até quando podem viver, mesmo após alcançarem uma aparência semelhante à de um ser humano idoso. Envelhecem devagar, poucos no ritmo humano. Havia inclusive em um dos arquivos a teoria de que a primeira noalien nascida ainda estaria viva.
Existiam poucos híbridos com aparência adulta ou infantil dentro do Instituto, talvez apenas três ou quatro no máximo, principalmente porque passavam muito tempo presos à aparência adolescente. Alguns levavam trinta anos de idade sendo facilmente confundidos como seres humanos muito jovens. Apesar de ser estudiosa, Mel não sabia quanto tempo havia passado e passaria presa em sua aparência infantil atual, pois desistira de contabilizar. Tudo o que sabia era que deveria parecer uma humana de dez anos de idade, o que a angariou um quarto solo, por enquanto. A diretora era muito fechada em relação às suas possibilidades de procriar. Estava lá porque era habilidosa, preciosa, diferente.
Ynn e James tinham visualmente a mesma idade desde que ela chegara ao ICN, quando ainda era um pouco menor. Já Lexy e Moix "amadureceram" com ela, em tempos semelhantes, até ela ser abandonada como a criança do grupo.
Outros noalienígenas pareciam nunca sair da infância (aparentando ter em torno de seis a oito anos, no máximo). Quartos solos também e extrema habilidade. Por exemplo, desde que chegara, Mel notou uma menina de cabelo verde bem magrinha, que, assim como ela, tinha cara de criança, só que alguns anos mais nova. Atualmente, a menina permanecia com a mesma forma infantil e, apesar disso, participava ativamente das patrulhas com um grupo. Devia se camuflar muito bem, característica de seu clã.
Melory acreditava que isso foi manipulado nos laboratórios de forma genética pelos cientistas humanos, para que os noaliens passassem mais tempo dentro de seu período fértil e, assim, pudessem se reproduzir com mais frequência. Outra teoria era de que o período jovem prolongado favorece a continuação do trabalho por um grupo fisicamente mais resistente e saudável.
Os bebês que nascem no ICN I inicialmente são mandados para as bases, e alguns não voltam.
Para a garota de cabelos azuis, isso é um mistério. Então, ela deduziu que aquelas crianças que não apresentam habilidades são literalmente descartadas pelo governo.
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Formação de Cinzas
Science FictionUm universo futurista que mistura romance, fantasia e ficção científica. Acompanhe Skirah em um mundo pós apocalíptico, onde humanos e híbridos lutam pra sobreviver.