Assim que Skirah alcançou o gramado, avistou o amontoado de noaliens já sentados nas cadeiras de metal do refeitório. Deviam tê-las carregado de lá até o local das lutas. No meio deles, cinco círculos de bronze aparentemente pesados estavam no chão, como cinco anéis deitados, demarcando as mini-arenas.
A vice-presidente começou a repetir as instruções. As lutas aconteceriam entre duplas. Cada anel deixava um espaço interno de cinco metros de comprimento por cinco de largura. Caso o oponente fosse lançado para fora, a vitória seria de quem permanecesse dentro do círculo.
O objetivo era simples: lançar para fora, incapacitar ou deixar perto da morte. Caso um homicídio acontecesse, o noalien assassino seria enviado para uma das bases governamentais humanas, afim de passar pela reeducação social oferecida de bom grado pelo governo.
Os últimos classificados iriam se enfrentar. O grupo de patrulha liderado por Melory e o grupo liderado por Laycan. Os dois finalistas que melhor se saíram anteriormente.
Skirah torceu a boca em desaprovação ao se lembrar que nem ao menos tiveram a possibilidade de lutar para merecer estar ali, porque o outro grupo, terceiro classificado e sem parasitas em sua composição, havia se acovardado ao ver James e Ynnori. Em meio às falas da vice-presidente, que naquele dia estava vestida com moletom cinza, a glond encontrou James perto de um dos círculos de bronze. Seu olhar estava frio e em seu rosto pairava uma expressão impenetrável, apontando para o nada. Observando-o, ela se perguntou se ele sempre fora assim, ou se Mel tinha razão sobre o que dissera mais cedo.
— Está pronto? — Perguntou ao se aproximar.
Ele se virou para ela, o olhar rígido, mas não teve tempo de responder, sendo interrompido por Ynnori.
— Hey, imbecil, fico feliz que tenha tomado banho, esteja lúcida e menos agressiva. Confesso que tive medo de que, depois da cena do refeitório, você inventasse de pular outras sacadas da vida e recebêssemos seu corpo como prêmio de consolação por perdermos a luta.
— E nós vamos perder? — A garota de cabelos vermelho-sangue questionou, ignorando parte do que foi dito por ela.
— Você por acaso viu o grupo deles, queridinha? E uma dica... para de puxar assunto com meu irmão se não quer ele se metendo na sua vida.
— Não, eu só vi o meu grupo. — Sky respondeu, mais uma vez ignorando a parte da fala que achou ofensiva.
— Você atrofiou a cabeça lá fora ou é só sonsa mesmo? — A voz de Lexy a atingiu como um murro na boca do estômago.
A raiva borbulhou, e a voz iria aparecer. Antes que isso acontecesse, Skirah engoliu a irritação como um caroço que a engasgava, repetidas vezes. E ficou calada, vendo Lexy se afastar.
— Vai trapacear, Skirah? — James perguntou.
— Não preciso trapacear. — Respondeu entre dentes, desvencilhando-se do braço de Ynnori, que agora pendia em seus ombros.
Skirah não via sua habilidade como trapaça. Muito pelo contrário, fazia parte dela toda a sua velocidade. Notar isso sobre si mesma fez um arrepio de satisfação correr por suas costas. Não havia percebido o quão pouco se conhecia, e ali, naquele caos, tomou a noção de que, pela primeira vez, tinha a oportunidade e a necessidade de ser ela mesma. Descobrir quem era atrás da maldita voz que a enlouquecia. Não precisava de nenhum deles, afinal.
Seus devaneios foram interrompidos assim que viu Zyon abaixado na grama, ajustando seu sapato cinza, mesma cor da farda do time dele naquele dia. Um sorriso espontâneo e cheio de dentes brotou em seu rosto ao vê-lo, sendo logo dissolvido pelo estresse que a invadiu. Mal podia se segurar para tirar a irritação de sua cabeça, então correu ao seu encontro.
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Formação de Cinzas
Science FictionUm universo futurista que mistura romance, fantasia e ficção científica. Acompanhe Skirah em um mundo pós apocalíptico, onde humanos e híbridos lutam pra sobreviver.