APRESENTAÇÕES ESQUECIDAS (MEADOS DE 2200 - 2210)

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Skirah abriu os olhos vagarosamente, tentando reconhecer a aparência do lugar ao seu redor, que tomava forma aos poucos enquanto seu cérebro processava a informação: estava em um cômodo branco, decorado por grandes janelas de vidro espalhadas pelas paredes claras. "Uma enfermaria?", deduziu em pensamentos, lembrando-se de algumas fotografias antigas milagrosamente preservadas, achadas por sua mãe na grande biblioteca dos Ácuras, que retratavam uma época em que estruturas assim eram consideradas comuns.

O ambiente era preenchido por várias camas ocupadas por feridos vestindo roupas padrão na cor cinza. Mesmo diante de híbridos machucados e enfermeiras humanas correndo de um lado para o outro, o local parecia extremamente limpo em comparação aos cenários das ruas que Skirah via no dia a dia.

O som ambiente lentamente voltou à consciência dela. "Barulhento", notou, enquanto seus ouvidos saíam do vácuo em que pareciam estar.

"Talvez eu esteja no ICN I. Talvez tenha sido sedada por Lúcia e enviada à força para cá", pensou ao ler o nome "Instituto de Controle Noalien I" no macacão cinza fino que vestia e no jaleco branco de uma das cuidadoras que passara apressada por seu leito.

Ler era uma das habilidades humanas que sua mãe lhe ensinara na infância, e isso a ajudava a entender muito do que estava escrito nas paredes abandonadas dos lugares por onde passara com seu grupo.

Skirah tentou se levantar da maca, apoiando-se nos cotovelos, mas sua cabeça latejava, e a luz excessiva por um momento a cegou. A vertigem a fez perder o fôlego, forçando-a a cair de volta no colchão, despertando uma menina branca de cabelos rosa que até então dormia tranquilamente, debruçada ao lado de seu quadril.

- Você acordou, Sky! - A menina gritou repentinamente entusiasmada, apesar do rosto marcado pelo vinco do inútil lençol branco que lhe dava um ar cansado.

Enquanto ambas se encaravam confusas, a outra menina passava as mãos pelo próprio cabelo curto e cheio de cachos, numa tentativa frustrada de alinhá-lo, antes de segurar os pulsos de Skirah. A pele da menina estava fria, o que ajudou Skirah a se concentrar mais na realidade ao seu redor.

"Como ela sabe meu nome? Quem é você?", Skirah quis perguntar. No entanto, havia uma sensação peculiar de familiaridade na voz e no toque daquela estranha. Apesar de abrir a boca, não conseguiu formular as perguntas.

Enquanto analisava os traços físicos da menina de cabelos rosa, Sky se tornava cada vez mais curiosa e sem respostas. "De que clã ela é? Pela cor do cabelo, é uma glond como eu... Mais mestiça, talvez, mais humana."

Uma enfermeira carrancuda, de pele negra e aparência jovem, embora marcada por rugas de estresse, aproximou-se da cama com um medidor de temperatura.

- Acredito que não precisará mais de medicações, mas gostaria que ficasse mais tempo aqui, para observação da... sua... condição.

Sky estava confusa demais para entender. Até mesmo reagir parecia um esforço enorme.

- Ela não poderá ficar. Estamos cheios de doentes, precisamos de mais espaço - disse outra mulher de jaleco branco, com um rabo de cavalo preto que esticava a pele pálida de seu rosto. Outra cuidadora, ao que parecia.

- Mas, Sadic, não é cedo... demais para uma liberação? - questionou Chelsea, a enfermeira franzina.

- Entendo sua preocupação, Chelsea, mas não é. E não discuta comigo na frente deles - Sadic falou, encerrando abruptamente a discussão.

Chelsea, agora calada, aferiu a temperatura de Skirah e anotou algo em uma espécie de caderno digital. A garota de cabelos rosa também ficou muda. Sky logo aprenderia que, na frente de alguns humanos, o melhor era não irritá-los com perguntas bobas ou opiniões indesejadas.

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