Formação de Cinzas

PERDAS (MEADOS DE 2200 - 2210)

A chegada no ICN foi igualmente silenciosa para os três companheiros que, ao descerem da nave, apenas cumprimentaram Anástic, que os esperava, sinalizando que tudo correra bem. Após atravessar o caminho e andar por todo o corredor, um tanto cabisbaixa, Skirah entrou no chuveiro que ficava dentro do banheiro de seu dormitório e, enquanto a água escorria pelo seu corpo, buscava lavar de sua mente as preocupações acerca do que aconteceria depois que a marca invisível da qual Nixie falou ser amplificada. Ao sair da ducha, já vestida com um dos moletons de cor cinza, se deparou com James bastante carrancudo, sentado em sua cama.

— Você voltou cedo.

— Sim, a missão foi rápida, mas felizmente pudemos fazer o acordo.

— E onde está aquele seu amigo?

— Ficou lá com a parceira dele, a vila e toda complicação deles. — Ela respondeu ao suspirar, sentindo uma ruga de estresse se formar entre suas sobrancelhas. Cada vez mais, a garota sentia menos vontade de responder a qualquer coisa que James perguntava.

— Parceira?! Eu vou matar aquele humano de merda! — O rapaz disse, se levantando, suas mãos em punhos.

— James, por favor, Melory já chegou, vá vê-la também. — Pediu, percebendo que talvez a alteração dele estivesse maior por conta da interferência amplificada da marca.

— EU NÃO LIGO PARA NENHUMA OUTRA FÊMEA, VOCÊ SEMPRE SERÁ MINHA ÚNICA! — Berrou, apontando para ela.

— Calma. Não falei nesse sentido... Eu sei o que está acontecendo e a culpa não é sua, mas eu vou consertar tudo e logo você verá que as coisas que diz não fazem sentido. — A glond respondeu, se aproximando dele, resolvendo pousar ambas as suas mãos no rosto do rapaz, fazendo-o sentar na cama, soltando um suspiro de alívio diante do toque dela.

— Você vai me beijar? Se for, pode beijar, eu não ligo. — Ele disse, sentindo seu coração saltar de expectativas diante da ação inesperada dela.

— Por que eu faria isso? Nós somos apenas amigos, James. — De repente, não fazia mais sentido sentir raiva dele. Skirah percebeu que ele não passava de um escravo da marca.

— Eu te amo.

— Isso não é amor, Jay. É... eu não sei como chamar, mas não é. Você é doente pelo que vê, mas o que enxerga em mim não sou eu de verdade. Entende? — Perguntou, ajoelhando-se diante dele.

Sky gostaria muito que ele a ouvisse, mas isso parecia impossível na prática. Naquele momento, tomou uma decisão: pararia de ser algo que não era para se encaixar ali. Ela tinha passado por muita coisa. A partir daquele momento, ditaria as regras de sua vida.

— Como você esteve tanto tempo lá fora e fala tão bem? É um dom. Você nasceu completamente especial, Sky.

— Boa noite. — Foi tudo o que ela respondeu antes de suspirar pesadamente, resolvendo abandonar de vez a personagem amigável que fizera para si naquele lugar, buscando se encaixar no grupo do qual não se lembrava, e apagar a luz antes de ir para o outro lado da cama dormir.

***

Prédios cinzentos em chamas, combinando com a coloração pesada do céu, decoravam o cenário ao redor da estrada asfaltada onde a menina estava de pé, em frente à sua irmã gêmea.

— Já se decidiu? Vai me entregar quando eu estiver no bebê?

— Me livrar de você foi fácil de decidir. Não me leve a mal, mas não é culpa minha tudo o que houve com você.

— E é minha? Está mostrando suas garras agora depois de todos os anos?

— Sinto muito, Moriá. Mas se eu mantiver você e meu filho ao meu lado, o governo o matará ou o tornará um escravo.