KALI (MEADOS DE 2200 - 2210)

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Kali arrumou os cabelos crespos e volumosos no banheiro pela centésima vez no dia. Na noite anterior, teve uma conversa rápida, privada e promissora com o humano Castiel, onde ele passou as exigências de suas senhoras e de seu povo, protegido por elas. Ficou feliz porque as solicitações feitas por ele não eram nada demais para ela. Além disso, acreditava que, no fim, pouquíssimos daquela raça sobreviveriam ao enfrentar os alienígenas superiores. Conversaria com os líderes das bases do Governo quando fosse apresentar o modelo de estratégia para que aquelas criaturas místicas fossem à frente dos humanos e servissem de escudo contra os primeiros ataques. Portanto, mesmo escondendo essa parte de seu plano, acatou e permitiu que ele dormisse mais uma noite sob seu teto.

O ICN I estava em estado de alerta quanto a possíveis ataques exteriores, que não deveriam interferir em um momento tão crucial como o das negociações com outras espécies. Se a guerra acontecesse antes do previsto, perderiam sua vantagem e não teriam tempo de organizar tropas de maneira estratégica, mesmo que não tivessem números o suficiente.

Mas a diretora Kah tinha certeza da vitória humana, pois, além dos novos aliados, havia uma arma muito mais poderosa em seu poder, capaz de limpar completamente aquela prisão onde estava fadada a viver sem ter conhecimento do que ocorrera com o resto da raça humana fora das fronteiras do Território de Origem: noalienígenas do ICN I e do ICN II. Estes últimos, apesar de serem deficientes em habilidades, tinham resistência física e um incrível manejo com armas variadas.

O problema era que seus preciosos indivíduos de genética modificada e habilidades catalogadas podiam ser imprevisíveis. Precisava atrair ou visitar sua prima, líder do segundo Instituto, chamada de capitã ou presidente Núbia. Uma mulher humana que, aos olhos de Kah, estava no auge de sua beleza, com estatura e postura marcantes: quase dois metros de altura, musculosa, cheia de curvas acentuadas, negra, e sempre sorrindo com seus lábios carnudos — um sorriso que, ao mesmo tempo em que intimidava, acalentava.

Kali sentia certa inveja de Núbia e temia que sua visita abalasse sua liderança oculta. Mesmo assim, a união dos dois institutos era inevitável, bem como o conflito de poderes, onde provavelmente Kah, mesmo sem perceber, abdicaria de sua autoridade para sua prima, que possuía um traço terrível e irresistível: carisma.

Ela tocou o celular holográfico em seu pulso, que geralmente mantinha a aparência de um relógio prateado. A tela flutuante mostrava alguns números, incluindo aquele que ela deveria discar.

Agora, esses dispositivos de comunicação funcionavam por tecnologia híbrida: alienígena furtada e humana. Complicada demais para ser explicada, mas simples para ser usada.

Noaliens não tinham acesso a essa ferramenta de comunicação. A ideia era deixá-los alheios a distrações que pudessem proporcionar relacionamentos menos táteis.

Kali enviou uma mensagem para Núbia, e seu retorno foi quase imediato: um "olá", que dispensou qualquer outra resposta, seguido de "estarei aí o mais rápido que puder".

Tudo indicava que a aliança entre os ICNs estava encaminhada. Só faltava notificar o Governo sobre a parceria com as elementais e assegurar o vínculo com outro grupo distinto preso dentro do território. Observando o desempenho rápido de seus híbridos escolhidos, podia dar-se ao luxo de um pouco de descanso mental.

O covil externo mais fácil de se aproximar era, de fato, o das elementais. Havia o garoto que nasceu humano, mas foi tomado por uma das mais poderosas dessa espécie sobrevivente ao fim dos tempos. Graças a ele e seu relacionamento inesperado com uma integrante do grupo noalien, a aproximação entre humanos e essas criaturas se tornou possível. No entanto, criar laços poderia reverberar de forma não tão positiva a longo prazo.

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