QUEBRA (MEADOS DE 2200 - 2210)

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A pontada em seu ventre veio mais forte do que a garota esperava. Skirah andou rapidamente para o gramado, o Sol se pondo, deixando tudo alaranjado ao seu redor, bem como o dia que assumia para si um ar fresco e calmo, apesar do desespero que se apoderava da híbrida.

Olhou as naves assim que alcançou o pátio de aterrissagem, frio e tremor escorrendo por suas pernas, junto com o líquido de sua bolsa ao estourar.

A maior parte dos noaliens estava em suas respectivas patrulhas. Já o seu time se encontrava reunido naquele momento, mesmo em sua ausência, debatendo sobre quem iria para o ICN II na próxima missão. Stella tentava pôr juízo na cabeça de Laycan a muitos metros dali, reforçando a ideia de que ele não estava em seu estado mental normal e deveria esquecer um pouco sua obsessão para focar em algo que realmente importava agora. Nessa altura do campeonato, a mestiça de olhos verdes se questionava se deveria continuar tentando investir naquele relacionamento que, ao seu ver, não tinha mais salvação. Foi aí que deu um ponto final e se retirou do quarto que eles dois agora dividiam, assumindo que iria enfrentar a solidão para não precisar se humilhar mais para ninguém.

Mais uma pontada. O vestido cinza estava molhado no centro das pernas até a bainha. A glond mordeu a boca com tanta força que o gosto de sangue pairou fortemente em sua língua; seus lábios trêmulos agora estavam anestesiados por seus próprios dentes. Mais um choque em seu ventre. Joelhos foram ao chão, o impacto subindo repentina e dolorosamente por sua espinha. Entretanto, apesar da agonia, precisava de uma nave para chegar até Nixie, que era a sua prioridade. Seu bebê precisava ter uma chance de viver, estava fazendo isso por ele e daria tudo por isso. Mas estava sozinha. Como sempre.

Mais um golpe, dessa vez mais pesado, mais intenso. Um grito sufocado saiu de sua boca, enquanto inutilmente a garota tentava se colocar de pé. Precisava chegar a alguma nave. Se a encontrassem ali, tirariam a criança dela. Uma lufada de ar preencheu seus pulmões. Uma luta parecia estar sendo travada em seu organismo. Seria tarde demais? Ela se perguntava, tentando focar o olhar, suor gélido se prendendo a sua testa, colando o cabelo solto. Tentou prendê-lo, mas a dor a inundou mais uma vez. Precisava agachar, contudo, antes que o fizesse, duas mãos a apararam.

— Por que nunca pede minha ajuda para roubar naves? Você não sabe pilotar. — Zyon disse, apoiando-a pelos cotovelos até o transporte que havia anteriormente levado eles para o covil das elementais.

O rapaz correu para abrir a porta o mais rápido que pôde, retornando para buscá-la, aninhando o corpo da garota em seus braços para subir a pequena escada metálica e, ao entrar, deitou-a no banco da nave, programando o painel no ponto de velocidade máxima.

— Aguente firme, glond. Vamos em toda a potência.

— PORRA! — A garota gritou, cravando as unhas no forro do assento diante de mais uma contração.

— Já vi isso acontecer muitas vezes na enfermaria. Precisa tirar qualquer roupa embaixo desse vestido. E respira fundo. Já vamos chegar. Você vai ficar bem. Qualquer coisa me grite.

As poucas horas que levaram, enquanto o híbrido pilotava pelo percurso que eles tinham tomado na última vez, foram as mais dolorosas da vida da garota. Por mais que ela gritasse e fizesse força ao mesmo tempo em que as intensas pontadas vinham, o bebê parecia se recusar a nascer.

Assim que pararam a nave no ponto mais próximo que conseguiram aterrissar, o rapaz merch a carregou em seus braços pela floresta, gritando "Nixie" até que ela surgiu como uma ilusão detrás das árvores, em um vestido longo e justo de um estonteante prateado brilhante com um enorme sorriso no rosto, ao lado do humano ruivo e robusto que também apareceu, aproximando-se deles para que Nixie pudesse acariciar a bochecha suada de Sky, que gemia e chorava de dor.

Formação de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora