MORIÁ (MEADOS DE 2200 - 2210)

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— Já disse que não podemos matar ele. Para de crise. — Zyon falou de maneira calma.

— Ela não tá acordando, porra! Onde aquele merda está?! Eu vou lá! — A voz desesperada de James adentrou a escuridão, puxando a consciência de Skirah das profundezas de sua mente.

Seu rosto estava de lado. Parecia ter sido deitada em cima de uma das mesas do refeitório.

A garota abriu os olhos dificultosamente, vislumbrando Zyon sem camisa, andando de um lado para o outro, completamente enxarcado de chuva, com os cabelos soltos. Sky quis avisar que estava acordada, mas suas pálpebras pesavam, como se a pedissem para dormir um pouco mais. Como se o dia já tivesse tido sua conclusão. Talvez refugiar-se na escuridão de sua mente por mais algum tempo a fizesse conseguir descansar. Talvez sua irmã gêmea amaldiçoada fosse uma boa companhia naquele momento.

Tentou entregar-lhe o corpo, relaxar até que sua própria consciência não existisse mais. Desistiu ali de viver, de se importar com qualquer um. Porém, nada aconteceu.

Havia algo de errado.

— Eu tenho que ir. A vice me mandou ir para a nave, você ouviu. E se eu demorar, provavelmente todos nós teremos complicações. Já basta os gritos que eu tive que ouvir por largar o lixo do convidado dela na lama apagado. — Zyon murmurou para o outro merch.

— Deixe-a aqui e vá.

— Sozinha com você, James? Nunca.

— O que acha que eu vou fazer? Tentar violentar ela também?

— Ela disse que o cara ia pegar ela à força. Ela gritou e eu ouvi. Assim como ouvi naquela outra noite os gritos vindos do quarto de vocês.

— Eu não tentaria nada.

— Se tentasse, certamente eu te mataria. Você não é convidado da direção. — Zyon sorriu, encarando o outro merch de uma forma que causaria arrepios em qualquer um. — Mas o problema não é esse. Eu não quero que ela se irrite mais. Assim, ela não vai conseguir seguir em frente. Tinha que ver o jeito que ela... enfim. Parecia ter se apagado, não sei.

— Quem é você pra falar assim dela? Mal se conhecem.

— James, não tenho tempo para continuar nessa discussão, sinto muito. — Respondeu, pegando a glond nos braços, como se fosse feita de papel.

— Deixa ela, sério. Por favor. Devo cuidar dela.

— Se tentar me impedir, vai dormir até a gente voltar.

Zyon carregou a garota do refeitório até a entrada do pátio das naves. Enquanto se aproximava do novo meio de transporte, resolveu parar de fingir não ter notado que ela estava acordada.

— Qual o problema desses caras em querer você dessa maneira a todo custo?

— O James... — Skirah pigarreou. Sua garganta queimava — acha que é loucamente apaixonado por mim. O outro é meu meio irmão tentando fazer um filho em mim, pra dar de presente para a mulher dele. Mas nenhum dos dois realmente gosta ou conhece quem eu sou de verdade, o que é incrível.

O rapaz parou de andar e a pôs no chão de pé, mas sem soltar seus braços para que ela não caísse. Logo, ela notou que vestia a blusa dele.

— O cara de cabelo laranja é seu irmão? Como assim?

— Eu prometo te contar tudo se me ajudar a fugir dos questionamentos dos outros hoje. Eu estou exausta. E com frio. — De fato, a blusa dele estava molhada.

— Eu te daria o meu casaco, mas não estou usando um, como pode perceber.

— No transporte deve ter roupas. Sempre tem. Vamos entrar.

Formação de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora