25. Dividindo a cama

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Chelsea

Depois de ser convencida mais uma vez pela comida de Archie achei que os meus problemas do dia tinham acabado, afinal, ele pode ficar mais um dia se quiser. Não é como se estivesse me atrapalhando, e trouxe toda aquela comida para garantir que nada faltaria.

Entretanto, vê-lo deitado na minha cama causou um turbilhão de coisas em minha mente. Com um braço em cima dos olhos, ele respira lentamente. Me pergunto se ele já dormiu, já que trabalhar na estufa é um trabalho cansativo para quem não está acostumado. Ainda assim, ele me ajudou sem reclamar.

O que eu faço?

Nós não conversamos sobre como seria na hora de dormirmos, visto que eu conclui que ele iria embora depois do jantar. Me enganei um monte de vezes hoje, e em todas elas tinha dedo de Archie no meio.

Consegue quebrar minhas expectativas e escolher diferente do esperado.

No entanto, em todos os momentos em que tirei um tempo para observá-lo, fazia algo que me dava mais motivos para me interessar. É como estar enredada numa teia da qual não se pode escapar.

Nem sei se é possível.

Devo somente ignorar a confusão e deitar?

A cama é minha, no fim das contas.

Duvido que ele vá me comer, não é um lobo, é só um homem. Um homem que tem me ajudado muito, mas que não se mostrou como um risco. Isso mesmo. Não é a primeira vez que divido uma cama com alguém.

Ainda que seja a primeira vez em que um homem com quem não tenho a intenção de transar deita-se nela. Tudo bem, somos ambos adultos e sabemos o que desejamos. Preocupar-se vai somente tirar o meu sono.

Depois de me ajudar tanto, não posso pedir para ir até outro lugar, também não temos um quarto de hóspedes e eu fechei o quarto de Bea. Mal entro nele, já que o lugar ainda cheira como ela. Tenho medo de que a sua essência desapareça.

Concentrando-me somente na simples tarefa que tenho que fazer, deito-me do seu lado e me escondo embaixo do lençol. Como está meio quente, procuro pelo controle do ar-condicionado e ajusto um pouco a temperatura.

Se ficar muito frio, acredito que ele vai me avisar.

Agora, tudo o que preciso é dormir e aproveitar que meu corpo se manteve firme no hoje. Espero que seja o mesmo amanhã. Sorrio, porque me sinto satisfeita pelo dia transcorrido, ainda que haja detalhes diferenciados nele.

— É difícil dormir comigo aqui? — Pergunta-me a voz que eu não esperava ouvir neste momento. Tinha certeza de que já dormia.

— Não, eu só estava pensando em algumas coisas — digo, notando em seguida que perdi a oportunidade de dizer que se deitou na minha cama. O que não muda o fato de que não tem outra cama que ele possa usar.

— Apenas durma — pede depois de pousar uma mão em cima dos meus olhos e seu toque é tão confortável que a sensação se espalha dos pontos onde a ponta de seus dedos me tocam. — Precisa dormir bem.

— Acho que vai ser um pouco difícil de dormir se você continuar com a mão no meu rosto — retruco, segurando sua mão para tirá-la de onde estava e Archie não se incomodou com a minha ação. Deixou que eu a tirasse.

Entretanto, demoro a perceber que o lugar para onde a arrastei não é muito melhor, já que ficou repousada em meu colo. Talvez por notar primeiro que eu, ele não fez qualquer movimento e permitiu que continuasse segurando a sua mão.

— Trabalhou muito, deve estar cansada — fala, mais uma vez me dizendo para descansar, ainda que as palavras não tenham sido diretas. "A todo momento, ele se preocupa com alguma parte da minha vida?" Essa questão circula a minha mente sem parar, mas não a profiro, acredito que seja o melhor.

— Minha rotina foi bem mais leve com você aqui me ajudando — comento, evito dar qualquer agradecimento, já que fica incomodado sempre que tento fazê-lo.

Nunca conheci uma pessoa que se recuse tanto a receber agradecimentos merecidos por suas atitudes. Entretanto, há tantas pessoas no mundo. Devem existir outros como ele, apenas não conheci.

Usar a sua gentileza deve ser comum, apesar de acreditar que se tornar um hóspede na casa de uma estranha seja um pouco além da conta. Porém, também entendo que pessoas tendem a se preocupar demasiadamente com mulheres grávidas e que dei motivos para que ficasse receoso.

— Sou uma ótima aquisição, não acha? — Questiona com um tom brincalhão e, por mais que queira evitar os seus olhos, o leve reclinar do meu pescoço para um lado diferente me faz encará-lo.

A cor firme de suas íris é tão intensa quanto as palavras que costuma proferir. Elas dão ordens silenciosamente. Sua boca não é a única que tem o poder de comandar quem ele quiser.

— Tem razão, você é — afirmo, mas o meu tom sarcástico faz com que ele sorria ao invés de devolver o elogio. Nem era minha intenção receber mais alguma coisa dele.

— Seu jeito é perfeito — atesta, creio que ninguém nunca me elogiou dessa maneira, mesmo que minha irmã tenha me dito algumas vezes que quem quisesse ficar comigo ficaria, independentemente do modo como me expresso, a minha personalidade nunca foi motivo para elogios.

— Acho que você não é tão são quanto eu acreditava — professo, sentindo que as ondas do sono estão me alcançando, talvez pela calmaria dos batimentos do meu coração. Sua voz terna sussurrando sobre coisas comuns também deve ajudar.

— Eu faço o meu melhor. — Foi a última coisa que o ouvi dizer antes de a penumbra do sono me engolfar inteiramente, me levando para aquele lugar escuro do qual costumo correr com tantas forças, porque ao invés de bons sons, tenho memórias dolorosas para rever.

Durante a noite, tudo o que se deseja é um bom sono, mas às vezes há partes de sua mente que ignoram esse pedido e, enquanto me afundo mais na escuridão, apenas desejo que possa descansar, assim como Archie queria, porque dessa maneira talvez tenha outro dia tranquilo.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora