39. Lembranças esquecidas

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Chelsea

Será que os meus pensamentos tempestuosos fizeram com que eu escute o que não deveria? É possível, certo? Dado que nenhuma pessoa fora do meu trabalho deveria me conhecer por esse apelido. É basicamente um nome de palco.

— Como conhece esse apelido? — pergunto diretamente, já que aquele que pode me dar uma resposta adequada está bem na minha frente. Como eu deveria agir? Archie sorrir nesse momento não ajuda, porque me faz questionar quantas coisas desconheço sobre ele.

Deveria ficar mais cautelosa a partir de agora?

Mas do que serviria depois de ter permitido que se aproximasse tanto?

— O que acha? — Ao invés de me responder, faz sua própria indagação.

O que eu faço? Insisto para que me dê uma resposta primeiro? Ou é mais fácil obter alguma vantagem se jogar o mesmo jogo que ele? É difícil dizer no momento. O que deixei de ver em suas intenções?

— Sabe que trabalhei no Maid Café próximo à universidade Blackville — exponho um pouco dos meus pensamentos, visto que ainda estou tentando organizá-los em minha mente.

Creio que a situação não é a ideal, mas como ele está sendo sincero, não tem porque ficar cautelosa a ponto de querer chutá-lo para longe de mim. Além disso, no momento estamos em um lugar público.

Considerando como é reconhecido, se houver qualquer fofoca sobre uma discussão entre nós pode acabar sendo prejudicado, ainda que sua intenção fosse a melhor possível.

Preciso analisar as circunstâncias na totalidade e só depois decidir se preciso fazer com que a polícia dê um jeito nele. Respiro com calma e pondero acerca do que aconteceu comigo naquele período, mas talvez por estar sempre correndo, as lembranças também são confusas.

Contudo, para ele não, posso ver em seus olhos que algo está muito claro.

Teve algum momento importante naquela época?

Acredito que me recordaria se alguém como ele se aproximasse.

Não, realmente posso ter ignorado a sua presença, visto que minhas preocupações estavam limitadas a minha irmã e quanto dinheiro ainda possuíamos em nossa conta. Qualquer outro detalhe era evitado para não me causar mais problemas.

Quando comecei a namorar o Marshall, foi por acreditar que ele me apoiava de verdade. Constantemente se dispunha a me ajudar, até que isto começou a diminuir, não antes de ele me convencer a lhe dar alguns quadros. Apenas não esperava que ele fosse usá-los para lucro próprio.

Somente para em seguida começar a roubar aqueles que não o pertenciam. Como pintava constantemente, dormindo menos do que deveria, havia pinturas em que não coloquei meus olhos por muito tempo, e foram essas que ele pegou silenciosamente para conseguir dinheiro.

Se percebi mais rapidamente o que fazia, foi pela sua ganância elevada. No instante em que percebeu que poderia começar a ganhar muito mais dinheiro, passou a tirar mais de mim, e enfim notei o que ocorria.

Espanto esses pensamentos. O que Marshall fez não é o tópico mais importante no momento, mas sim como conheci Archie. Pelo que consigo pescar de informação em seu rosto, é óbvio que espera que as lembranças sejam recordadas.

O quanto tenho que pensar naquele período? Começo a acreditar que meus problemas recentes fizeram questão de apagar parte das minhas recordações para que somente as partes mais obscuras ficassem em primeiro plano na minha mente.

— É tão difícil lembrar quem eu sou? — Indaga, meu silêncio deve ter sido demais para que somente esperasse. — Tudo bem se não se recordar, porque eu me lembro muito bem.

— Nos conhecemos no meu antigo trabalho? — Inquiro, esperando que ter mais informações façam as memórias retornarem a minha mente.

— Não, conheci você e depois o seu trabalho — conta, creio que realmente não se sinta magoado pelo meu esquecimento, dado que me dá as pistas que peço sem me recriminar.

Conheci tantas pessoas naquela época. Havia tantos clientes. O lugar ainda é bem movimentado atualmente. Claro, me lembro de vários rostos que se tornaram regulares e demandavam por mim, mas é impossível saber quem eram todos.

— Você não é um pervertido, é? — Investigo e ele gargalha. Depois de ajeitar Melissa em seus braços, analisa o modo como o observo. Talvez queira saber se estou sendo franca com minhas questões.

— Se eu fosse um, meu trabalho é bem ruim, não acha? Já que estou te contando a minha identidade secreta — declara, e sim, tem razão. Tiveram alguns esquisitos que queriam mais do que minha atuação, entretanto, nenhum deles agiu igual a Archie. — Você se lembra de uma jaqueta marrom com um furo no bolso esquerdo?

Isso é específico demais para não pensar que é estranho.

— Acho que é pior do que eu imaginava — murmura, mas ainda está rindo. — Não deixei nenhum sentimento marcado em você, apesar de ter me lembrado tanto de você nos últimos anos.

— Anos? — questiono, com minha mente visualizando uma miniatura minha correndo desesperadamente como se o bicho-papão estivesse prestes a engoli-la, e olhando bem para ele, tenho a sensação de que posso ser devorada.

Entretanto, em algum momento ele escondeu esse desejo?

Estava apenas o ignorando, deixando que passasse por mim.

— Acho que você é louco — falo, mas de novo, a reação não é ruim.

Archie está se divertindo com o que acontece. Poderia mostrar que ficou magoado, já que eu não me lembro de nada, apesar de me dizer que esteve pensando em mim por tanto tempo.

Quem sabe o motivo para ser cautelosa não seja o fato de que não o reconheço, mas sim o modo como é alguém com parafusos a menos. Que tipo de coisa fiz com ele para que se recorde tanto do dia em que nos conhecemos?

Será que bati nele? Acertei alguns caras que agiram indevidamente. Entretanto, se eu tivesse agido dessa maneira com ele, seria mais certo que buscasse retaliar de alguma forma, gastar seu tempo me ajudando é contraditório.

— Certo, antes que conclua que sou verdadeiramente um pervertido, me deixe te contar quem somos um para o outro — pede e um instante era tudo que precisava para escapar, mas me mantive em meu lugar, esperando que me explique a situação.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora