53. Ele avisou, parte 1

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Chelsea

Nossa viagem de folga acabou se transformando em uma coisa completamente diferente, somente porque uma mulher aleatória falou que Archie era o meu marido.

De início, não pensei que haveria tantas mudanças assim a considerar no comportamento dele, já que estavam vivendo juntos por um tempo considerável.

No entanto, é bem nítido que a mudança no rótulo da nossa relação deixou ele muito mais canalha. Sim, canalha, não há outro jeito de descrever, visto que continua aparecendo na minha frente com poucas roupas e água escorrendo pelo corpo.

Ele sabe que a visão é sedutora. Também confio na minha capacidade de não babar sempre que o vejo, mas é inegável que ela tem vacilado. Ainda tenho a imagem em minha cabeça, mesmo que agora tenha uma refeição saborosa diante de mim.

É nossa última noite no hotel e ele decidiu que deveríamos comer as refeições preparadas por eles. Melissa é a bebê calma de sempre. Apoiada em meu colo, apenas avalia o que há em minhas mãos que pode comer.

Anima-se sempre que pensa que estarei lhe entregando o que quer, mas é muito novinha para comer alimentos sólidos. Precisa de mais um tempo antes de sua introdução alimentar ser iniciada. Estou bem atenta para os passos a serem seguidos, porque quero que ela cresça saudável.

— Obrigada — falo quando Archie põe o prato com o bife cortado em fatias na minha frente. Deve ter considerado que seria difícil cortá-lo sozinha enquanto Melissa está comigo. — Ah, certo, sem agradecimentos — murmuro e ele sorri, satisfeito.

Acho que nunca entenderei o porquê de ele não gostar de receber agradecimentos, mas não posso fazer nada para mudar como se sente diante deles. Creio que também considere essa uma ação pequena demais para receber elogios.

— Voltaremos amanhã cedo, tem alguma coisa que você quer fazer antes de ir? Quer se encontrar com o Yahya de novo? — Fico feliz por ele não ter nenhum problema com meu amigo. Seria difícil ter um relacionamento com Archie se os dois não se dessem bem.

Me lembro de como às vezes Marshall reclamava do modo como me relacionava com Yahya e me dava muita dor de cabeça. Entre mim e Yahya nunca existiu nada que merecesse ser visto como algo além da amizade. Diferente de como ele via a minha irmã. Para ele, eu não passo de uma irmã.

— Ele está treinando muito, atrapalhá-lo faria com que me sentisse culpada — profiro, não obstante, quero evitar me encontrar com o capitão, dado que o homem acha que tem uma chance comigo.

Brigar e explicar que seria impossível, mesmo se o meu relacionamento com Archie não existisse, seria desgastante e quero evitar aquilo que pode voltar para Yahya. Desejo que o homem não seja vingativo, mas não o conheço o bastante para evitar os cuidados.

— Duvido que ele veria dessa maneira — fala Archie, e talvez esse seja o caso, mas é como eu me sinto, assim, prefiro evitar. Podemos voltar aqui outras vezes, já que parece tão feliz com o fato de que não estou trabalhando. — Você abrirá a floricultura amanhã, independente do horário que chegarmos?

— Não posso deixar de trabalhar para sempre — digo, mas o olhar em seu rosto é completamente contrário às minhas palavras. Porém, se tem vontade de dizer que eu poderia sim ignorar minha carga de trabalho, se contem, o que eu aprecio.

Mesmo que estejamos namorando, quero diminuir o quanto puder a sua influência financeira na minha vida. Se de alguma maneira continuar dependendo dele, chegará o momento em que será impossível se desvencilhar.

Nossa relação pode ter começado bem, mas ninguém sabe o que o futuro reserva.

— Só quero que pegue mais leve, está carregando duas crianças com você — murmuro, mas seu pedido é implícito. Tem momentos em que é muito claro com aquilo que deseja, mas em outros, provavelmente considera que seria demais pedir diretamente.

Archie entende o que pode me deixar brava de alguma maneira e contorna a situação, o que gosto bastante. Independente de riquezas e necessidades, não me vejo como uma pessoa que poderia deixar de trabalhar.

Estive desde nova correndo atrás do que eu precisava, daquilo que me daria uma vida mais tranquila. Cogitar parar é estranho, como se eu não fosse mais aquela pessoa que cresceu perseguindo as suas vontades.

— Nós logo seremos minoria — profiro, sorrindo, e por mais que me deixe feliz que essas palavras sejam ditas com tanta facilidade, também me sinto acuada, porque parece que ele assume muito de uma responsabilidade que não deveria ser dele.

— Gosto da ideia, cresci com muitos irmãos, seria bom se eles tivessem a mesma experiência — articula e a ideia de como vê o futuro me anima e me assusta em medidas iguais. — Também sei que vai ser uma ótima mãe.

— Você já parece um bom pai — replico, outra vez ponderando sobre os significados implícitos na minha sentença. Archie decidiu que teria um relacionamento comigo sabendo que eu estava grávida, que sou a mãe de uma bebê pequena.

No entanto, a decisão de ser pai deveria ser pensada com cuidado.

Sei que foi diferente para mim, que a responsabilidade veio como um raio dividindo a minha vida entre antes e depois de ter Melissa como a minha filha, mas a chance de escolher ainda é viável para ele.

— Tentarei o meu melhor para ser um ótimo pai — assegura-me, sendo que ajuizar por mais tempo seria o comum. A maioria dos homens corre depois de notar que a mulher com a qual querem se envolver tem filhos. Se recusam a lidar com uma criança que não possui o mesmo sangue que eles.

Archie é muito diferente desde o início, mas e se eu estiver apenas vendo aquilo que eu quero? Não seria a primeira vez que eu me engano. Aperto os meus lábios, mastigando a carne repetidamente antes de engolir. Minha cautela é o suficiente para esta situação?

— Não precisa acreditar em mim agora, pode apenas ver como continuarei do seu lado — profere, fazendo com que eu me questione sobre aquilo que expressei em meu rosto, se tem a capacidade de me ler.

Sim, posso apenas observá-lo por enquanto.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora