47. Uma luz no fim do túnel, parte 3

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Archie

Eu possivelmente estou louco, mas continuo fazendo visitas esporádicas no trabalho de Chelsea. Ela não tem qualquer problema com isso, já que sou um dos clientes, entretanto, às vezes me sinto como um esquisito.

Não sei uma maneira melhor de interagir com ela, e Chelsea não se incomoda com minhas atitudes. Sei que seria franca caso esteja passando dos limites, e eu tento respeitar qualquer sinal de incômodo que demonstre, afinal, não sou um babaca.

— Ah, o namorado da medusa está aqui de novo — fala um trio de mulheres passando por mim e acenam rapidamente, sequer me dão tempo de corrigir o que acabaram de falar.

Essas palavras podem acabar causando um problema para Chelsea se ela for mal interpretada, e é tudo que menos desejo no momento. Falar com ela continua sendo confortável, por isso faço com que esses encontros aconteçam, não tem outros motivos por trás.

Apoio uma palma contra os meus olhos e me questiono mentalmente se eu deveria falar para Chelsea sobre o que ouvi. Corrigir boatos quanto antes impede que eles se espalhem como praga e no local de trabalho tem muitos meios de eles serem prejudiciais.

— Archie — chama Chelsea, chegando por trás de mim e o susto momentâneo é engolido quando olho para ela e noto como o seu rosto é tão brilhante quanto em outros momentos em que nos vimos. — Você deve amar mesmo a torta de morango daqui — fala e prefiro continuar em silêncio para evitar quebrar a imagem que ela criou de mim.

Se eu disser que gosto do lugar porque me sinto confortável somente por saber que ela está aqui, também não seria estranho demais? Com certeza poderia criar rusgas que seriam difíceis de lidar.

— Vai ser o seu primeiro pedido do dia? — Me questiona baixinho, já que tende a falar comigo fora do seu personagem. Acredito que ainda se preocupe com a possibilidade de eu ter um colapso nervoso caso me trate como os outros.

— Prefiro começar com café e cookies — balbucio a minha resposta rapidamente e ela anota o meu pedido com um sorriso no rosto.

— Certo, até um babaca como você pode ter bom gosto — fala e estou acostumado com os momentos em que age no personagem para que aqueles em torno de nós pensem que tenho tratamento diferenciado. — É melhor não chorar enquanto me espera.

Nem espera que eu dê uma resposta, apenas se vira e vai buscar o meu pedido.

Esse com certeza é um jeito de sair da rotina que a empresa cria na minha mente.

Seja o modo grosseiro dela de falar ou a maneira gentil como se preocupa com meus sentimos. Gosto de ambas as partes dela e sei que isto a torna ainda mais incrível. Aquele que a conhecer inteiramente terá muita sorte, é inegável.

Entretanto, eu estou fazendo o melhor que posso nessa situação?

Meus dias tem sido mais tranquilos, não tive nenhuma crise como aquela, mas tudo bem apenas deixar que as situações transcorram dessa maneira? Tenho medo de acabar perdendo mais alguma coisa no caminho.

Sei que não é possível lidar com as consequências do destino.

É impossível prevenir todos os acidentes, mas e aquelas partes que posso controlar? Não seria melhor colocar as minhas mãos nelas antes que outro ponha?

— Aqui o seu pedido, é melhor não entalar somente porque não para de me seguir com os olhos — articula Chelsea, ou deveria chamá-la de Medusa? Quando está atuando, até mesmo aqueles que não são o alvo, querem ver o que fará.

— Vou tentar, mas é bem difícil já que é tão linda — respondo e por um segundo demonstra certa surpresa pela minha resposta, visto que no geral, apenas deixo que ela comande toda a situação, falo muito pouco por não querer atrapalhá-la.

— Um cachorrinho como você acha que só abanar o rabo para mim é suficiente? Tem que melhorar muito antes de conseguir o que quer — contrapõe com um sorriso perfeito nos lábios. O seu desejo de consumir toda e qualquer intenção que possa ter mediante um único olhar é palpável. — Aprenda a morder antes de tentar.

— Se eu aprender a morder terei mais chances? — outra vez exibe a sua surpresa, somente por breves segundos, mas logo retorna a uma atuação com perfeição. Nunca pensei que seria divertido rebater o que ela diz, mas é como se eu tivesse encontrado uma nova maneira de passar o meu tempo.

— Quem sabe, depois de ver quão afiados são os seus dentes, eu posso decidir — replica e sendo atuação ou não, essa mulher tem um tipo de charme que é impossível de lidar. Ele consome tudo no seu caminho para tornar-se mais intrínseco a ela.

Nenhuma das armas que tenho em mãos no momento são o bastante para lidar com ela. Reconheço que a minha posição não é favorável, mas talvez eu deva tentar com mais confiança. Quem sabe o que receberei no fim.

Não tem nada de errado em tentar.

Perseguir uma luz no meio da escuridão é o normal e quando o túnel é tão comprido, tudo o que se pode fazer é correr mais rápido antes que ela desapareça completamente.

Ninguém quer perder uma oportunidade de ser feliz.

Às vezes ela se apresenta de uma maneira que nunca esperou. O que mudará o seu futuro será a maneira como decide reagir diante disso.

Posso permitir que a minha possibilidade escape ou correrei mais rápido?

Mesmo que eu esteja errado e ao invés de uma luz isso seja somente mais uma enganação da minha mente, ainda quero tentar, porque se chorarei de toda maneira, que pelo menos saiba que tentei tudo o que estava nas minhas possibilidades.

Aceito ser chamado de muitas coisas, menos de covarde.

— Posso mostrá-los quando quiser — atesto, e sua resposta é um sorriso que gostaria de apreciar em vários momentos do meu dia se pudesse, porque faz com que meu coração bata mais tranquilamente.

Mesmo que não entenda que tipo de poder ela tem, eu o aprecio.

É estranho pensar nisso, mas tenho a sensação de que aceitaria tudo o que ela me mostrar.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora