16. Conte comigo

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Chelsea

Não acredito no que está acontecendo hoje.

Entretanto, creio que tudo é culpa minha, considerando que segui uma pessoa que pouco conheço até a sua casa. Me deixei levar por todas as suas boas atitudes e acabei mostrando um lado ruim de mim. Eu deveria ser mais cuidadosa, sei muito bem o quanto homens podem ser escrotos.

Contudo, sempre que olho para a expressão dura de Archie, seus olhos se suavizam, como se quisesse afirmar que não tem a intenção de fazer nada de mal comigo. Quem sabe esteja me enganando.

Não seria a primeira vez, porém, dessa vez não estou sozinha.

Preciso ser muito mais cuidadosa, não só por mim, mas por essas crianças.

Rolo na cama levando Melissa comigo. Ela está bem animada, até mostrou certo descontentamento por ser deixada para trás por Archie. Nunca pensei que a veria recriminando um adulto com os olhos do modo como fez com ele.

Deitada de lado e puxando-a para ficar encaixada contra mim, a vejo brincar com minha roupa enquanto bate com a mão pequena em meus seios. Minha produção de leite não está como deveria, se estivesse, poderia dar o que ela quer.

— Mel, a mamãe tem que se sair bem, não é? — "Malditos hormônios", grito em pensamentos enquanto sinto os meus olhos arderem.

"Não pense no que está comendo o seu coração com dor, não pense", imploro em minha mente, sentindo o meu aparelho vibrar em um dos bolsos da minha roupa. Rio a contragosto para a notificação de conta a ser paga.

Quantas delas ainda preciso pagar antes de ficar livre?

Olhando para o papel de parede que é uma foto minha com a minha irmã, melissa e Yahya sinto que as lágrimas tomam o caminho inverso, rolando para dentro, apesar de a ardência em meus olhos se manter. Deveria mandar uma mensagem para Yahya dizendo onde estou, só para o caso de algo dar errado.

Não quero estar enganada sobre Archie, mas, se eu estiver, minha posição é fraca para lidar com as problemáticas de qualquer problema causado por ele. Além disso, Yahya é a única pessoa de confiança que ainda tenho na minha vida. Outros são colegas de trabalhos anteriores e clientes frequentes.

Sou boa em fazer colegas, mas amigos, daqueles que podem fazer algo semelhante ao que Yahya se dispõe a fazer por nós, eu não tenho. Talvez eu não seja tão boa em relações humanas quanto deveria.

Observo o pacotinho que ama estar tão perto de mim, gosta do calor humano, quem sabe se lembre de Beatrix, já que minha irmã amava dormir com ela perto dela, como se tivesse que sanar a falta de um pai para a criança recém-nascida.

Beatrix fez tudo o que podia por essa menina enquanto podia, ainda estaria se esforçando aos montes se estivesse conosco, com certeza brincaria sobre eu acabar gravida quando não tinha a intenção. Maldito preservativo. Se ele não tivesse se rasgado, as coisas seriam diferentes.

Minhas preocupações seriam reduzidas.

Devido a alguns problemas com meus hormônios, tomar pílulas contraceptivas sempre foi um problema, e pela falta de dinheiro era muito difícil gastar dinheiro em procurar outra maneira de prevenção. Devido a isto, optava por preservativos, entretanto, as coisas tinham que sair do meu controle.

Esse é um problema que eu pensava que conseguiria contornar por um bom tempo, mas naquela noite a situação saiu do controle. Nunca vi um preservativo acabar daquele jeito. No entanto, o que poderíamos fazer? Já tinha acontecido.

Afasto esses pensamentos. Não importa como aconteceu. Eu decidi ficar com as crianças. O que tenho que fazer agora é consequência dessa decisão. Aquela noite apenas tem que ser ignorada.

Engolfada por meus pensamentos, não ouvi o barulho de ninguém adentrando no quarto, apenas notei a diferença no colchão quando parte dele afunda com o peso da outra pessoa próxima a mim. A mão repousando em meu ombro cautelosamente parece ter medo de me quebrar.

— Você dormiu? — Pergunta baixinho, teme me acordar, quando estou me sentindo queimar embaixo dos seus dedos. O toque de nossas peles arde. — Chelsea — chama, ainda mais baixo, quase sussurrando, o que nubla minha mente.

— Estou acordada — respondo meio exasperada, e giro o meu pescoço, notando que a expressão dele é tomada pela surpresa. Pensou mesmo que eu estivesse dormindo? — Não conseguiria dormir com a cabeça tão cheia de interrogações — digo, querendo remediar a situação, mas creio que a piorei.

Uma vez que a sua expressão fica mais sombria, sinto que toma a culpa disso para ele, mas do que é responsável? Apenas me ajudou quando eu precisava. Nada do que ocorre dentro da minha cabeça está em suas mãos.

— Posso resolver alguma delas? — questiona, depois de demorar um tempo em silêncio. Mordo o meu lábio enquanto tento compreender o que essas palavras representam. Ele pensa que estou preocupada com algo que fez?

Tem que ser algo desse tipo, por que mais ponderaria sobre ser capaz de resolver os meus problemas? Conhecemos muito pouco um do outro para termos a habilidade de resolver as questões um do outro.

— Não tem a ver com você — articulo ligeiro, acredito que o melhor seja evitar que pense que é um empecilho para mim quando sou eu me aproveitando do que me oferece no momento. — Só estou cheia de problemas — prossigo com a minha explicação, esperando que meu convencimento seja o bastante.

Duvido da minha capacidade de ser clara, visto que seus olhos continuam me analisando com cautela. No instante em que me viro, ficando de barriga para cima, ele me ajuda a colocar melissa em cima de mim após notar o que eu faria.

Trabalha em silêncio, remói o que acabou de ouvir, já que não foi o que eu esperava, entretanto, o que esperava ouvir de mim? O que está na sua cabeça enquanto me ajuda? Seria mais fácil se eu pudesse ler sua mente.

— Conte comigo se achar que sou confiável — professa, com sua voz soando como um sussurro. — Me deixe ajudar se eu puder — pede, mas tenho a sensação de que suas palavras são mais intensas do que deveriam.

O que devo dizer?

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora