19. Família, parte 2

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Chelsea

Hoje o dia de trabalho foi bem proveitoso, mas pessoas do que imaginei vieram até a floricultura e algumas disseram que vieram por indicação da empresa de eventos com a qual trabalhei anteriormente com os arranjos.

Agradeci mentalmente à mulher mais vezes do que posso contar.

As pessoas tendem a confiar em quem tem dinheiro. Se ela diz que o meu trabalho é bom, todos que a veem como uma forma de garantir qualidade se interessarão pelo que faço.

Saio ganhando na situação, o que é ótimo.

Entretanto, ainda tenho que tomar cuidado com o dinheiro para poder continuar comprando tudo o que é necessário para manter a floricultura, os gastos com água e luz continuam. Manter a estufa também não é simples. O dinheiro é necessário, precisa entrar com mais frequência na minha conta.

Agradeço por poder ver Melissa dormindo tranquilamente. Pensei que ela estava adoecendo, já que teve um leve aumento de temperatura durante o dia, mas acabou que não teve nenhum sintoma depois que dei o antitérmico.

Os seus sustos com barulhos altos também diminuíram.

Só pensar no que ela estava sentindo faz com que eu queira quebrar a cara do meu ex. Aquele bastardo foi o motivo para que ela tenha se assustado, também é o responsável por me deixar ansiosa em momentos inoportunos, visto que disse que voltaria.

O conheço o suficiente para saber que a sua cara lisa o permitirá tentar mais vezes. Se eu tivesse meios de fazer com que se responsabilize pelo roubo, eu faria, porque talvez assim me livrasse dele de uma vez por todas.

Pessoas como ele tendem a persistir mesmo estando erradas.

— O que posso resolver primeiro hoje? — Me pergunto e coloco a babá eletrônica do lado de Melissa, sorrindo por ela se acostumar cada vez mais com o seu berço.

Sem estar por perto, odeio a ideia de deixá-la em qualquer lugar alto, receio até mesmo quando está no berço, mas já vi algumas vezes que, mesmo que se esforce, não pode correr para fora dele.

— A mamãe já volta, Mel — sussurro depois de passar delicadamente um dedo em sua cabeça.

Tenho alguns arranjos pedidos para serem colocados em lojas pequenas. Costumeiramente voltam para fazer o pedido de novo, já que as flores não ficam viçosas para sempre. Mesmo que seja pouco, é um dinheiro recorrente.

Enquanto desço as escadas, sinto a vibração do meu telefone e sinto o meu coração bater no compasso errado. Apoio-me na parede e decido por me sentar antes que a sensação faça com que minhas pernas amoleçam.

— Olá, Chelsea, como você está? — Me pergunta a voz feminina do outro lado. Meu coração ainda bate estranhamente. Só ouvi-la causa-me um intenso incômodo no estômago. — Queria dizer que sinto muito por conta do que houve com a sua irmã, eu não pude te ver depois do funeral.

— Está tudo bem, você não precisa se incomodar — digo, mas ela sorri inocente demais para qualquer pessoa ver através de suas ações e notem a sua maldade. Tosse compulsivamente antes de falar de novo.

— Sinto tanto, mas você sabe como as coisas estão difíceis no orfanato e, agora que a velhice faz com que fique cada vez mais difícil, é complicado sair e deixar as crianças — articula em um tom baixo e até posso ver o seu rosto diante de mim.

Foi com uma expressão chorosa que ela fez com que minha irmã se sentisse obrigada a doar dinheiro generosamente para o orfanato?

Assim como o seu relacionamento abusivo que a feria, Beatrix escondeu de mim que doava dinheiro mensalmente para o lugar onde fomos criadas. Este não seria um problema se eu não tivesse visto todas as conversas que teve com essa mulher, como ela manipulava as situações para receber cada vez mais.

Desde que descobri, tenho evitado qualquer um dos seus meios de contato, mas continuar ignorando não mudará o fato de que ela acredita que ainda há formas de conseguir dinheiro de mim. Esse é um mal que precisa ser cortado pela raiz antes que piore.

Contudo, a ideia de que minha irmã foi enganada persiste em ser um motivo para me enojar. Aquele nunca foi um lugar que vimos como um lar. Nenhuma daquelas pessoas nos via como algo além de um problema, mas Bea se sentiu responsável. A sua bondade fazia com que ela cometesse erros vez ou outra.

— Sinto muito que tenha que sofrer desse modo, mas eu também tenho os meus problemas — digo e minha voz sai estranha, já que sinto o desejo de vomitar. Relembrar as mensagens lidas deixa meu estomago revirado.

— Como você pode falar com um tom tão grosseiro? — Pergunta-me como se não soubesse exatamente quais seriam os motivos que me fariam agir desse modo com ela. — Nós cuidamos tão bem de você e da sua irmã depois que o seu pai abandonou vocês e...

— Trabalha em um orfanato, queria cuidar de que ao invés de crianças? De porcos? É claro que terá que cuidar de crianças abandonadas — respondo, dessa vez, com a ignorância passando por cima do meu desejo de me arrastar até o banheiro.

Não posso vomitar o jantar. Tenho que evitar colocar o que como para fora. Será difícil fazer outra refeição depois de cuspir meus preciosos nutrientes. Também tenho que resolver a maior quantidade de problemas que puder.

— Essa sua língua... sabe que esse sempre foi o problema, não é? — Sua pergunta desce como ácido pela minha garganta.

Sua ignorância entra em conflito com a minha e eu estava prestes a desligar a ligação, já que é maneira mais rápida de me livrar dela, entretanto, suas palavras me pararam.

— Sabe que você é o único motivo para não terem sido adotadas, certo? Esse seu comportamento ridículo e mal-educado fazia com que todos evitassem vocês — afirma e levo uma mão à boca, querendo impedir que o desejo de vomitar se torne maior.

"Como eu posso chegar no banheiro mais rápido?" penso, mas ela não para.

Pouco se importa com o que ouço.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora