57. Situação que precisa ser resolvida, parte 2

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Chelsea

— Sua ousadia é desmedida, uma criança que precisou ser cuidada por estranhos depois de a própria família tê-la abandonado pode mesmo agir dessa maneira? — Miknelia perdeu os seus argumentos? Porque está começando a se repetir.

Essas palavras não vão me afetar como ela quer.

Depois de escutar a mesma crítica tantas vezes, ela perde o efeito.

— Eu sei que o meu pai me abandonou sem que você fique repetindo — garanto a ela. — Mas isso não te dá o direito de querer dinheiro de mim — profiro, essa é a minha sinceridade, a que minha irmã deveria ter usado. Teria feito com que muito mudasse.

Beatrix não gostava de brigar e foi esse desejo pela paz contínua que a colocou em muitos problemas, no entanto, eu sabia como ela agia. Ter conhecimento disso deveria me colocar à frente dessas pessoas, impedindo-os de usá-la, mas não foi o bastante, já que meus olhos ficaram vendados durante tanto tempo.

Preciso acabar com essa ligação logo. Archie pode chegar a qualquer momento e quererá saber o motivo para que meus ânimos tenham se elevado. Com certeza, me perguntará sobre o que houve até que eu conte todos os detalhes.

Contudo, todo esse problema mudará de um jeito que eu não poderei controlar se ele se envolver.

— Você já tirou tudo o que podia da nossa família — asseguro a ela. — Não tem vergonha de usar a bondade de uma pessoa morta para continuar ganhando dinheiro?

— É o que Beatrix queria, ela gostava de ajudar as crianças, diferente de você — pontua, como se toda a realidade escapasse entre os seus lábios, mas é somente mais uma mentira.

Um dos milhões que conta.

Quantos estão sendo arrastados através de suas mentiras? Muitos devem estar em uma situação parecida com a minha. Com o pouco dinheiro que sobrevivem, ainda acreditam que precisam retribuir o que receberam pelo intermédio de Miknelia, sem saber que é o bolso dela que se enche.

— Fale o quanto quiser do meu caráter, ainda sou melhor do que você — assevero, sem conter o ódio que escorre por cada uma das minhas palavras. É melhor que o deixe ir, já que o acúmulo acabará apenas me ferindo.

Não quero que esses sentimentos ruins de alguma maneira se aproximem de Melissa. Ela merece que eu esteja bem para cuidar dela, que eu seja forte. Apenas assim conseguirei vê-la crescer saudável e feliz.

— Te atendi dessa vez somente para dizer que tenho muitas provas de sua manipulação. Todas as conversas que teve com minha irmã, todo o dinheiro que ela te enviou. Duvido que ele contará nas transações do orfanato — discorro as palavras nas quais ponderei com cuidado.

Conclui que o único meio de lidar com alguém que costuma ameaçar tanto outra pessoa é devolvendo o que recebi na mesma moeda. Se ela me ameaçar, retribuirei em dobro. Se me infernizar, serei o próprio diabo fritando a sua alma podre.

— No momento em que uma investigação profunda for realizada, duvido que o seu nome continuará limpo — aviso, a sua respiração é a única coisa que ouço vinda do outro lado.

Talvez ainda imagine que há um meio de escapar. Uma saída pela tangente, sem consequências, sem danos, entretanto, não poderá, não se persistir na sua perseguição a mim.

Bom, de toda maneira, eu já decidi fazer uma denúncia anônima, apenas estava considerando quando seria um bom momento, e creio que essa é a ocasião perfeita, dado que ela se recusa a escutar qualquer conselho.

Além disso, aquelas crianças precisam de pessoas que realmente se importem com elas por perto. Serão os únicos adultos que elas conhecerão por um bom tempo. Se elas tiverem péssimos exemplos, crescerão achando que é o normal.

Com pouco do meu envolvimento, posso mudar um pouco do que acontecerá com elas. Espero que seja o bastante para que suas vidas sejam mais tranquilas. Tudo que deveria preocupá-las é a hora de comer e dormir. Todas as outras responsabilidades pertencem aos adultos.

— Está blefando, aqui é horrível, mas é o lugar em que cresceu — articula, como se eu devesse ter um grande apego pelo local, e sim, é inegável que foi nele que cresci, onde conheci muito sobre mim.

Entretanto, não era um lar.

Minha irmã e eu queríamos a nossa liberdade para podermos construir um e por um período tivemos o que desejamos. Foram bons momentos, apesar das circunstâncias difíceis, por termos uma a outra e um lugar para chamar de nosso.

É uma pena que só tivemos pouco tempo para aproveitar o que alcançamos.

— Acredite no que quiser, mas se me ligar de novo já sabe o que acontecerá. Não se atreva a pensar em mim ou na minha irmã — mando, sentindo certo alívio em meu peito enquanto as palavras continuam fluindo para fora de mim. — Esqueça que existimos e aproveite seus últimos dias antes de te pegarem.

— Isso não ficará assim, Chelsea, esse tipo de ação sempre terá uma reação, você logo saberá disso e não terá ninguém que te proteja, porque está sozinha — afirma, com o seu veneno escorrendo através de suas sentenças ácidas.

Pode não estar na minha frente, mas consigo visualizar muito bem a expressão em seu rosto. Os olhos injetados de raiva. Os músculos retorcidos na face evidenciam as rugas da idade. As mãos meio erguidas esperando uma oportunidade de me acertar.

Se não fosse a possibilidade de encontrarem ferimentos em nós, tenho certeza de que ela teria aproveitado para nos bater o quanto pudesse. Com certeza, amaria ter um modo diferenciado para lidar com sua frustração.

Todavia, agora não sou mais uma criança que será pressionada pelas suas palavras.

Agora que decidi o que devo fazer, me manterei neste caminho.

Me livrarei de cada um dos problemas que possuo.

— Não estou sozinha — respondo, finalizando a ligação e caminho vagarosamente até o sofá. Me jogo nele e deixo todo o meu corpo relaxar. A situação não é a mesma de antes, mas é bem nítido que ainda me afeta.

Ainda não sou forte o bastante, mas chegarei lá.

Porque eu realmente não estou sozinha.


Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora