38. Você me entende, parte 2

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Chelsea

Me sinto um pouco culpada por tocar em um assunto sensível para Archie. Mesmo que ele diga que está bem, pude ver nos seus olhos que a dor não se foi, mas acho que ela nunca vai de verdade. Creio que nós apenas ficamos mais fortes para conseguirmos enfrentá-la.

Como uma tentativa de pagar pelo incômodo que causei, aceitei a ideia de virmos para um petcafé. Jamais pensei que ele fosse alguém que gostaria de lanchar enquanto vê filhotinhos fofos correndo de um lado para o outro.

O lugar não está repleto de pessoas, mas o público é bem dividido entre adultos e crianças, pelo que posso ver. Da nossa mesa, o vejo brincando com alguns filhotes enquanto se esforça para não deixar que Melissa pule no meio deles por acreditar que eles são um dos seus bichos de pelúcia.

Será que esse é um hobby dele? Conheci muitas pessoas com interesses diferentes nos meus trabalhos, principalmente quando trabalhei no Maid Café, já que tinha que interpretar um papel grosseiro para lidar com os clientes. Ainda consigo me lembrar de como pareciam satisfeitos, mesmo quando eu os xingava.

Rio, porque mesmo que venha a um lugar como esse, acho difícil que meu antigo local de trabalho fosse um lugar para onde Archie iria. Era um local muito disputado entre os universitários. Era o meio deles de desestressarem vendo pessoas bonitas interpretando papéis de sua escolha.

— Sua sobremesa — fala a mulher, colocando a torta de nozes na minha frente. Não é um desejo da gravidez, mas assim que vi o cardápio, senti a necessidade de provar. Me sinto bem mais à vontade com o que comer agora.

Talvez pela influência de Archie em me convencer a comer tudo que vejo na minha frente, ainda que de um modo controlado. Ele se sairia muito bem como nutricionista se decidisse deixar o cargo de CEO de lado.

— Seu marido é muito empenhado — murmura a mulher, pegando as xícaras de café vazias. Archie quase engoliu o café de uma vez para apaziguar o desejo de Melissa em ficar mais perto dos cachorros.

— Ele... tem razão — profiro, deixando a negativa imediata diante de suas palavras de lado para observá-lo por mais tempo. Essa mulher está certa, Archie é muito empenhado e creio que tem ficado bem claro que suas intenções vão além da amizade que ofereceu em primeiro lugar.

Posso ser muito boa em criar histórias na minha cabeça, mas é nessa direção que todas as suas ações apontam. Sua pergunta sobre o capitão deixou isto um pouco mais claro. O modo como falou acerca da sua família, apesar de ser um tópico sensível, foi outro indicador óbvio.

Além disso, é impossível que uma pessoa seja gentil no nível dele sem ter intenções ocultas. Entretanto, ainda me pego questionando sobre querer ou não ouvir a verdade saindo de sua boca.

As coisas vão mudar se certas palavras foram ditas.

A mulher saiu de perto de mim silenciosamente, após perceber que minha atenção foi para outro lugar, que tentar conversar comigo não seria tão fácil. Estou aproveitando esse momento para mais do que descansar.

— O que estou fazendo? — Me pergunto, sorrindo com ele apesar da distância.

Se eu queria que as coisas fossem diferentes, não deveria ter imposto imites desde o início? Naquela noite, quando decide deitar do seu lado, selei o meu futuro? Ou será que foi no dia em que deixei que me ajudasse com a entrega? É difícil dizer, contudo, revendo os acontecimentos, percebo que ignorei muita coisa.

— Tenho a sensação de que será melhor listar os meus problemas e priorizar o que devo resolver primeiro — falo, notando que o motivo para que meu celular toque sem parar é uma ligação daquela mulher. Ela com certeza sabe como persistir. Preciso acabar com esse assunto.

Devo aceitar a ideia do Yahya? Posso não deixar que ele faça uma investida, mas continuo conseguindo me mexer. Apoio minha mão em cima da minha barriga e a lembrança dos meus dias no orfanato me atinge com força. Era melhor ter resolvido esse assunto no dia em que descobrir o que estava fazendo com minha irmã.

Bato com o indicador no tampo da mesa e assisto aos olhares que Archie recebe de todas as mulheres presentes. Elas estão muito perto de babar, e eu entendo. Já o vi com menos roupas que isso e sei o que ele esconde embaixo delas. Suas horas na academia são muito bem aproveitadas.

Certo, tenho ainda mais certeza do quanto seu corpo é malhado devido a todas às vezes em que me segura em seus braços durante a noite. Seria impossível ignorar, assim como há dias em que senti mais do que seus músculos. Ele guarda uma arma muito perigosa no meio de suas calças.

Baixo a cabeça rindo, porque me sinto como uma pervertida.

Parece que meus piores lados estão voltando gradualmente agora que meu corpo tem se acostumado com a gestação. Yahya brincou sobre eu ter ficado mais mole depois de descobrir sobre a gravidez, e creio que ele não estava tão errado.

— Chelsea — chama Archie com uma voz doce demais enquanto coloca uma mão em meu ombro. Ele nem tem ideia de que eu estava pensando no que já vi e senti do seu corpo, ainda assim, me olha com tanto cuidado.

— Não me chame de Chelsea — peço e ele parece confuso demais. — Encontre outro meio de me chamar.

— Por quê?

— Porque acho que somos próximos demais para me chamar assim — digo, admirando a sua capacidade de reagir a qualquer coisa que eu digo. Já estive em muitas conversas com outros caras. Trabalhei com isso por muito tempo.

Mas ele, o seu ritmo, não se perde quando tenta seguir o meu.

— Devo te chamar de querida? — Pergunta.

— Soa estranho — retruco rapidamente.

— Então, o que acha de eu te chamar de Medusa? — Fala, contudo, eu não pensei que ouviria esse nome saindo por sua boca. Ninguém que desconheça o meu trabalho no Maid Café deveria saber esse nome, então como ele sabe?

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora