45. Uma luz no fim do túnel, parte 1

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Archie

Não precisava que ela continuasse cuidando de mim, mas acredito que é impossível para ela ver uma situação problemática e não se envolver, é a única explicação na qual consigo pensar.

O que uma pessoa comum teria feito no lugar dela? Se envolver com um estranho, trazê-lo para perto, é muito mais do que outros se disporiam a fazer, mas ela não comenta nada sobre retribuição.

É um poço de bondade por acaso?

— Se quiser pode continuar aqui ou então pode se sentar em uma das mesas lá fora — propõe uma solução que vejo como adequada, afinal sou um estranho enfiado no seu ambiente de trabalho e ainda que o seu chefe não tenha lhe criticado, o melhor que faço é impedir que haja motivos para reclamações.

Apenas no caso de a sua ajuda acabar retornando para ela como um malefício.

Não sou uma criança, preciso me ajustar aquilo que acabei de fazer.

Creio que a maioria das possíveis consequências foram minimizadas.

— É melhor sair, até que possa ir para casa — profiro, porém, minhas palavras deveriam ser outras, visto que parece que continuo querendo a sua ajuda por um período, quando já fez muito.

— Ok, apenas não se sinta estranho pelo que vai ver, hum, deixe a mente aberta — pede, e me pergunto que tipo de lugar é esse no qual trabalha para que se preocupe que eu aja estranhamente, sendo que me ajudou.

Além disso, é a sua vida. Como poderia lhe julgar por como a vive?

Apesar de esse uniforme ser interessante demais. Ele atrai olhares mesmo que ela esteja somente parada. Com uma beleza como a sua seria impossível evitar os olhares ansiosos. Seus olhos são afáveis, ignoráveis.

Se levanta e eu a sigo de perto quando ela sai pela porta pela qual entramos anteriormente. Uma mulher acaba ficando no nosso caminho e é nítido que se surpreende pela Chelsea ter companhia.

— Pensei que não trabalharia hoje — fala Chelsea para a mulher.

— A Cachinhos teve um problema, vim cobri-la — profere a sujeita, com sua expressão mudando. Pelo visto, a estranheza não é o bastante para julgar sua colega de trabalho o que é bom.

Talvez tenha uma percepção diferente da situação, já que continuo me apegando a peça de roupa que Chelsea me deu. De alguma maneira, faz com que me sinta mais calmo.

A situação no geral é muito estranha, assim acredito que não tem problema em me apegar naquilo que pode aliviar o meu coração, fora que, neste momento, a dona dela não reclama da maneira como ajo.

— Está doente ou foi outro tipo de problema? — Pergunta Chelsea, demonstra um certo nível de preocupação, considerando a expressão de sua colega, é algo que faz com frequência.

— Ela disse que está doente, mas posso apostar que esqueceu que tinha algum trabalho da faculdade para terminar — brinca a outra e o sorriso de Chelsea é estranho. Segue o ritmo da conversa, mas não gosta da ideia de acusar outra pessoa injustamente, pelo menos é o que parece para mim.

— Provavelmente vai ser um turno difícil, já que estavam esperando ela — pondera Chelsea para a mulher, e ela não se sente incomodada pelo aviso que recebe.

Me sinto ainda mais curioso sobre o trabalho dessas mulheres.

— Desde que eu receba umas gorjetas gordas topo tudo — afirma, de fato, suas palavras parecem verídicas. — Nos encontramos no intervalo — fala a mulher, se afastando depois que chegamos na área principal do local e está lotado.

Diferente de quando entrei, tem tantas pessoas que sinto uma leve vertigem.

Entre as mesas, caminhando com o que acredito ser menus em mãos, estão outras mulheres vestidas como Chelsea, mas também a alguns homens. Seus uniformes seguem um estilo bem semelhante aos das mulheres.

— Tem alguma mesa na minha área para o meu amigo? — Pergunta Chelsea apoiando-se contra o balcão e esta ação tão inocente faz com que parte de sua roupa suba mais mostrando um pedaço maior da meia calça que usa.

— Tem certeza de que é bom colocá-lo lá? — Questiona o chefe e ela apenas dá de ombros, outra vez, elevando o nível da minha curiosidade. — Tudo bem, faça como quiser, mas está bem cheio. A Elektra já começou.

— Obrigada chefe — fala, pisca para o sujeito que ignora o seu charme revirando os olhos. — Me segue — demanda enquanto passa pelas mesas e é notável a diferença entre as áreas assim que colocamos os pés nelas. — Pode se sentar aqui enquanto faço alguns atendimentos — explica-se me entregando o menu do lugar.

— Ok — murmuro e a vejo afastando-se de mim ligeiro, no entanto, cessa seus passos e volta para minha frente com certa preocupação nos olhos.

— Não precisa ficar por muito tempo, assim que se sentir confortável pode ir embora, também não é necessário se despedir, já que tudo entre nós foi tranquilo, ok? — Tenho algumas indagações que gostaria de incluir nessa conversa, mas creio que elas não importam para ela.

— Tudo bem — respondo apesar de na minha mente haver outras palavras a serem ditas.

— Aproveite a comida, já sabe que ela é boa — articula, dá um pequeno aceno e seu modo de caminhar muda completamente enquanto se afasta indo na direção de outra mesa onde está um sujeito curioso.

O modo como olha os arredores, evidência que não veio muitas vezes a este lugar.

Nem posso julgá-lo, visto que o motivo para estar aqui hoje não te m a ver como meu interesse pelos serviços oferecidos, mas sim pela ajudada oferecida por uma das funcionárias. Sendo franco, eu poderia ir embora agora, entretanto, continuo me apegando no conforto que recebi.

O luto pode ter começado a devorar o meu cérebro, o que me leva a tomar decisões estranhas que certamente serão vistas com olhos dúbios em algum momento. Apesar disso, pelo menos aqui dentro sei que não serei julgado, visto que todos que entram tem um único interesse.

Tenho somente que me cuidar, comer mais um pedaço de torta e ir para casa.

No entanto, as coisas hoje estão completamente fora do meu controle.

Por que eu não posso resolver nada como eu quero?

Seria bem mais fácil se eu pudesse somente girar uma chave e resolver os problemas.

Um ceo em minha vida | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora