08 - Uma nova visão - Parte II

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O corpo de Calum parecia inerte e sem vida. Estava pálido, como se todo o sangue de seu corpo houvesse, de fato, sido extraído, e o ferimento causado pela flecha envenenada jazia rubro, com uma secreção fluindo para fora. Ele estava sobre uma mesa de pedra, suas roupas haviam sido tiradas, principalmente a camisa ensanguentada, restando apenas com a calça não muito justa no corpo. Ervas piladas estavam aplicadas em algumas partes arroxeadas da pele. Ele havia sido levado para uma cabana um pouco mais afastada da vila, numa floresta densa, onde as luzes quase não ousavam tocar. As árvores ao redor eram altas e o sol já tinha se posto quando a porta de madeira rústica foi aberta suavemente, e uma luz iluminou o interior do casebre. Passos suaves sobre a madeira que estalava devido à pressão anunciaram a chegada de uma figura encapuzada, usando vestes longas e azuladas. A figura se aproximou de Calum, que estava de costas, e a ferida reagia ao contato com o olhar do Guardião, cujas mãos hábeis tocaram o ferimento, fazendo a pele do rapaz reagir ao contato. O Guardião, com movimentos delicados mas firmes, começou a aplicar uma mistura de ervas sobre o ferimento de Calum. Um aroma pungente se espalhou pelo ar, e a luz suave que emanava de suas vestes parecia intensificar-se, banhando a cabana em uma aura serena. O Guardião murmurava palavras antigas, uma linguagem esquecida pelo tempo, enquanto suas mãos trabalhavam rapidamente. Calum gemeu levemente, sua pele começando a reagir ao tratamento. A cor pálida de seu corpo lentamente começava a mudar, adquirindo um tom mais saudável. A secreção que escorria do ferimento foi gradualmente diminuindo, enquanto a erva aplicada parecia puxar o veneno para fora. A figura encapuzada então retirou um pequeno frasco de cristal de suas vestes. Dentro dele, um líquido dourado reluzia sob a luz. Com cuidado, o Guardião despejou algumas gotas sobre a ferida. Um som de chiado foi ouvido, seguido por um leve brilho dourado que envolveu o ferimento, fechando-o lentamente.

Com o ferimento de Calum agora fechado, o Guardião se afastou e retirou o capuz, revelando um rosto sereno e sábio, com olhos que pareciam conter todo o conhecimento do mundo. Ele olhou para Calum, agora respirando mais tranquilamente, e falou com uma voz grave e reconfortante.

— Durma, Corvo, a noite já chegou.

Calum, ainda fraco, apenas acenou com a cabeça em entendimento. O sono o puxando para o vazio onde adormeceu, dessa vez sem sonhos,

Na manhã seguinte, a luz do sol penetrava timidamente pela densa floresta, iluminando a cabana onde Calum descansava. O Guardião estava ao seu lado, preparando mais ervas e poções. Ele sabia que a recuperação completa levaria tempo, mas com cada dia que passava, Calum se tornaria mais forte. O grupo que havia resgatado Calum da prisão se reuniu do lado de fora da cabana, discutindo os próximos passos. A jornada pela Fenda e a batalha que se avizinhava exigiriam coragem e união. Eles sabiam que Calum era a chave para vencer a escuridão, e estavam dispostos a lutar ao seu lado até o fim. Enquanto isso, Calum, deitado na mesa de pedra, sentia a energia mágica da Fenda pulsar ao seu redor. Ele fechou os olhos, permitindo que a magia o curasse, preparando-se mental e fisicamente para o que estava por vir.

O Guardião, um jovem mago de apenas vinte e dois anos, teve êxito ao curar o rapaz. Sentindo-se mais leve, ele deixou a cabana e retornou aos seus afazeres, deixando um guerreiro no comando para evitar que Calum recebesse visitas durante todo aquele dia, afinal, o rapaz precisaria renovar suas energias. A Fenda, como era conhecida pela maioria dos habitantes, era chamada pelos amigos mais próximos de Elvenear – o Coração de Eslandrill em Ladar. Criada a partir de sua magia, a Deusa da Lua construiu o Santuário para seus filhos e, posteriormente, um lugar de repouso e revitalização, onde as feridas mais profundas podiam ser curadas e a alma lavada no Grande Espelho. Apenas os seguidores e os mais fiéis à Deusa conseguiam passagem, pois os Centauros, seus Guardiões, nunca permitiam que qualquer um passasse pela Fenda, e a Floresta raramente deixava sombras repousarem sobre o local. A Fenda não tinha uma localização exata nos mapas, mas situava-se entre três reinos: Azaban ao Sul, Asgaridir ao Oeste e Esgarill ao Leste, numa floresta densa e impenetrável, cheia de criaturas não-selvagens. Homens de Thafir ajudaram a Deusa na construção, já que os Thafirnianos eram hábeis em construir lugares mágicos, ao contrário daqueles que vieram do Leste, de Berônia, ou do Norte, do Continente de Elesthar.

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