Capítulo 33: Morro Santa Marta

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Zana disse que poderíamos colocar nossos estilos normalmente, mas avisou que as pessoas quase andam nuas para esses bailes e que não éramos para olhar muito, não entendi o porquê, mas ela parecia falar sério.

—Tem realmente certeza de que é seguro ir para esse lugar?— Pergunto receosa para Zana.

—Não posso prometer nada, mas eu já passei as instruções, não vai dar nada de errado.— Ela ajeita seu cabelo cumprido e coloca duas argolas parecendo uma roda de bicicleta. —Podemos ir?

—Sim!— Morgana estava radiante, Tábata ensinou algumas danças para ela e Apollo durante o dia.

—Gostou do meu óculos?— Apollo chega perto de mim com um óculos diferente do que eu já vi, meio fluorescente. —A Zana disse que isso se chama Juliete, nome legal.

—Você está parecendo uma mosca.— Respondo e ele ri alto, a risada dele era extremamente exagerada.

—Vou chamar um Uber, não quero usar poder agora, vocês precisam passar pela experiência completa.— Tábata diz com um sorriso malvado, enquanto entra em algum aplicativo de carro.

—Que jesus nos ajude.— Roxie junta as duas mãos em forma de oração.

—Que jesus o que minha filha, jesus com certeza não está nesse umbral que chamam de baile de favela.— Resmungo enquanto observo Apollo se requebrar do meu lado, julgo internamente.

—O carro chegou, espero que ele deixe entrar seis pessoas.— Zana nos avisa, descemos as escadas até a rua, um carro estava parado de frente a birosca da Zana.

Depois de Tábata discutir com o motorista sobre o fato de ter seis pessoas em um carro minúsculo, o homem finalmente cedeu com cara fechada. Apollo foi no banco do passageiro, e todas nós fomos no banco de trás, espremidas ao extremo, mas não podíamos reclamar já que possivelmente foi caro para essa hora da noite.

Sim, não era o horário previsto para festas normais começarem, Tábata disse que o baile funk só começava às onze da noite e terminava só de manhã do dia seguinte, mas ela sempre vinha embora mais cedo pela bronca do Joel. Achei a roupa dela curta demais para uma adolescente de quinze, mas era uma coisa tão natural aqui, que eu não ficava mais tão chocada.

Demorou alguns longos minutos para chegarmos em um local escuro, com pouca movimentação e as ruas apertadas demais para entrar um carro, o motorista parou em um ponto específico esperando impaciente todas nós descemos do banco de trás.

—Valeuzão moço, raramente Uber aceita esse horário.— Tábata diz ao homem enquanto desce do carro, ele apenas resmunga um "tanto faz".

—É aqui? Mas eu não estou vendo festa nenhuma.— Roxie questiona com um pouco de medo, a rua realmente estava escura e vazia, escutava um som distante de funk, mas não via nada em volta.

—Aqui é só a entrada da favela, pessoas que não são cidadãos daqui jamais podem entrar sem permissão. Por isso Uber ou qualquer outro aplicativo de corrida tem que parar aqui, e aí a gente vai subindo.— Tábata explica como se fosse um guia turístico, mas eu já estava ficando com medo do local.

Nunca tinha visto tantas casas tortas e desalinhadas uma em cima da outra, aqui era sempre um morro infinito com becos estreitos e com pouca iluminação, conforme andamos, o funk ficava mais alto.

—Mas, permissão de que?— Morgana pergunta, respirando fundo pelo morro já está inclinado demais.

—Você não contou nada sobre isso Zaninha?— Tábata olha preocupada para a sua tia, que só dá de ombros. —Olha só, aqui no Brasil temos facções, é como se fosse máfias, sabe? E em cada favela é uma facção, por isso pessoas desconhecidas não podem entrar sem a permissão do dono do morro.

O Sangue da Magia [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora