፝֯֟⋆˖❛◌ ༾ཻུ۪۪⸙ 44 Por amor

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O choque e espanto haviam inibido a minha audição, que naquele momento, pareceu muito afetada pelo rugido selvagem. A sensação era a mesma de ter presenciado o estrondo de uma alta bomba ao explodir. O grunhido alto do animal, afetava diretamente os meus tímpanos, de tamanha a sua intensidade.

E minha alma também estava sendo afetada.

Eu tonteei em meio o ar e apenas não caí desfalecida de medo no chão, porque Neytiri e seu pesado peso no corpo, me certificava que eu ficasse exatamente assim, no mesmo lugar.

Exatamente no chão.

O povo parecia estar gostando, se maravilhando e aproveitando o espetáculo que Toruk os proporcionava. A minha morte parecia ser a vitória, para cada um dos Na'vis presentes ali na aldeia.

Nunca me senti tão odiada quanto agora. Chega até mesmo ser um retrocesso, uma infelicidade tão grande que é até capaz de inibir todas as boas sensações e momentos que vivi nesse lugar, nessa floresta e ao lado dos omatikayas.
Era assustador o sentimento de não pertencimento permanecer, mesmo depois de vários meses tentando lutar contra ele. Mas essa sina, parecia nunca mais me abandonar. Como se o acolhimento fosse uma ilusão.
Um luxo e privilégio que eu, como Corine Sigrid, parecia até mesmo incapaz de possuir em minha vida.

Mas se não fosse em Pandora, ora do lado alien ou do humano. Onde é que eu acharia o meu real lugar de se estar? Havia mesmo, realmente, espaço para mim nesse vasto universo?. Ou tudo seria apenas uma grande e lúdica ilusão? Pela qual, assim como todas as outras, teve o período de término e início bem definido e traçado pelo destino?.

Mas eu não acredito. Simplesmente não consigo acreditar com facilidade que o meu fim seja, de ossos esmagados pelos dentes gigantescos dessa coisa e na barriga de uma fera voadora dessa forma. Eu não acredito porque sei, que mesmo que fuja do meu conhecimento, ou da minha capacidade de raciocínio ou percepção, algo maior me manteve viva até agora. Me fez passar por cada desafio com vitória e mestria, traçando a minha própria marca e história em meio a aliens gigantescos. E foi isso, foi exatamente esse mesmo sentimento que aumentou meu fôlego de viver. Minha garra e ânsia da vitória, que naquele momento, eu sabia exatamente qual era.

Lutar contra Toruk Makto, e vencer por minha vida.

Era isso.

Eu não me renderia facilmente daquela forma, tolo foi quem pensou que esse poderia ser o meu fim. Que eu, mesmo sendo uma renegada, mesmo agora estando quebrada, humilhada e estirada no chão desta maneira, teria o meu fim traçado e definido por uma alien racista e extremista que não atinge nem de longe os parâmetros de uma boa mãe.

Eu não iria me permitir a tanto. Por mais que a situação tenha parecido sem saída. De onde eu venho, aprendi que quando a situação parece sem saída você tem que criar uma nova rota. Quando se está no fundo do poço é necessário cavar uma outra passagem. E quando se é jogada para os lobos.

Precisamos voltar liderando a alcateia.

Fecho os olhos e sorrio sutilmente, sendo iluminada por uma ideia em meu pensamento.
Neytiri me solta por fim, tirando seu exorbitante peso de minhas costas.
Foi inegável que ao espalmar as mãos no chão para me erguer, meus braços trêmulos falharam em me manter de pé, e a dor que sentia em meus músculos eram tamanhas que não me aguentava em pé. E com um grunhido de dor e os olhos espremidos um contra os outros, ouço Neytiri em meio um risinho se afastar por fim de mim.

Sem essa peçonhenta atrás de mim eu consigo ser liberta e livremente executar o meu plano.

Mas estava difícil me manter de pé, eu estava com muito peso concentrado em minhas costas por um tempo, e após com muito esforço eu conseguir de mãos espalmada no chão erguer meu tronco para cima, foi inevitável não arregalar os olhos no mesmo momento, tussindo, puxando o ar com esforço, sem ar, com dificuldade de respirar. Meus pulmões haviam sido comprimidos, eu não conseguia respirar ou ao menos senti-los encher sem doer ou arder feito enxofre e ácido felico, as paredes de pele pareciam danificadas, e nem em meio a minhas incontáveis tussidas eu parecia ser capaz de normaliza-las sozinha.

❖ 𝐓𝐡𝐞 𝐖𝐨𝐫𝐥𝐝 𝐨𝐮𝐭𝐬𝐢𝐝𝐞 𝐄𝐚𝐫𝐭𝐡 | 𝐍𝐞𝐭𝐞𝐲𝐚𝐦Onde histórias criam vida. Descubra agora