19.

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tento gritar, tento pedir socorro. mas ninguém me ouve porque tenho a mão do homem que não reconheço na minha boca. tenho lágrimas que me escorrem pelo rosto. tenho uma garrafa de vodka ao meu lado. o homem está bêbado.

por favor. para. - digo numa voz abafada. a remexer-me enquanto ele abaixa os calções.

não escolhesses o antónio. - a voz do homem. é demasiado parecida com a de matheus. não quero acreditar que é ele.

matheus, por favor. - digo a chorar. ele abaixou as minahs cuecas ainda com a sua mão na minha boca. é o maior sofrimento que já tive. ser forçada a fazer algo que não quero. tento berrar quando o sinto a entrar em mim contra a minha vontade.

para! - gritei abafadamente.

o mesmo não ouviu e continuo. estou sem voz. rouca de tanto gritar.
ardem-me os olhos de tanto chorar.
quero sair daqui. quero que alguém me oiça gritar. que me socorra. que me ajude. só isso. mas isso não é possível. quando matheus ouve passos, puxa as calças por cima. agarra na garrafa de vodka e foge. estou sem forças. no chão. com o rimél borrado. de tanto chorar.
e sem forças para me levantar. fico lá por um bom tempo. quando me consigo levantar. cruzo os braços para me tapar com a camisa. está um frio de rachar. entro no hotel, graças a deus é o antónio que abre a porta. arqueou as sobrancelhas preocupado.

o que aconteceu? - disse ele. eu ignorei-o e segui caminho. ele acompanha-me. porque é que estás a chorar? - diz ele mais alto.

eu só quero ficar sozinha. - disse a subir as escadas. antónio não desistiu. por favor, vai-te embora. - disse a começar a chorar novamente.

margarida. - diz ele a agarrar-me no braço. começo a ter flashbacks.

não te quero dizer, consegues-me deixar sozinha? - retiro a sua mão do meu braço. olho para ele e ele para mim. a tentar perceber o que acabou de acontecer.

não te quero deixar. podes me dizer o que aconteceu? - gritou ele.
todos já estavam a dormir. e ninguém ouviu nada. eu suspirei.

para. não vai acontecer. - disse eu. o mesmo cruzou os braços. eu suspirei e deitei uma lágrima. ele limpou-a. olhei para ele e ele para mim.

eu estou aqui. o que aconteceu? - fisse ele a abraçar-me. chorei mais.
ele apertou o abraço.
está tudo bem. - beijou-me a cabeça. joão está a observar. noto nisso quando viro o rosto. afastei antónio de mim.

estás bem? - joão perguntou. eu acenei com a cabeça e sorri levemente. ele acenou a cabeça e continuo o seu caminho. volto o rosto para antónio. e ele para mim.

foi o matheus. ele.. - mais lágrimas escorreram. está podre de bêbado e.. - não conto o resto. mas antónio percebe. logo. abre ligeiramente a boca. eu acenei com a cabeça.

eu vou mata-lo. - disse ele a tentar ir até ao quarto de matheus.

antónio espera. - digo mais alto.

ele violou-te margarida! - disse ele mais alto. as palavras dele são como facas neste momento. suspirei.

podemos apenas, voltar para o quarto e dormir? eu.. - disse ainda de braços cruzados. suspirando.

ele olha para mim e para o piso debaixo. e finalmente olha para mim. acenando com a cabeça.
abraçou-me com força. não entende a dor que eu estou a sentir. mas tenta melhora-la. abraço-o também.

cheiras a vodka. - disse antónio ainda no abraço.

ele está podre de bêbado. - disse a suspirar. e disse que me estava a fazer aquilo por te ter escolhido a ti. - antónio separa o abraço.

sem fôlego - antónio silva.Onde histórias criam vida. Descubra agora