39.

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deixei o antónio adormecer no meu sofá, a cheirar a vodka pura. estou na minha cama a dormir. quando sinto olhos postos em mim, custumo dormir de sutiã e cuecas. não me sinto demasiado desconfortável, porque é algo que ele já viu, e tenho boas recordações assim. esfrego as mãos na cara e ele vira as costa.

importaste que tome um banho? - ele perguntou de costas viradas, consigo ver os músculos delas, porque está sem camisola.
fazem-me gaguejar.

sim. sem. problema. - eu disse. e ele desce as escadas. eu volto a deitar a cabeça na almofada. e suspiro fundo, sorrindo. tomo banho na casa de banho do meu quarto. ele está a tomar na casa de banho do piso de baixo. acabo de tomar banho e enrolo-me numa toalha, seco-me e não consigo vestir o top para ficar por casa. berro. antónio abre logo a seguir a porta. e mete as mãos nos olhos. eu ri-me.
eu não consigo vestir o top, com uma só mão. - digo com as bochechas avermelhadas. ele retira as mãos dos olhos e dá um passo em frente. agarra no meu top e veste-o em mim. tocando-me nas costas. é como um choque eléctrico. tinha me esquecido do quanto ele é grande, aproveitou a situação para se colar a mim, sim. sinto a respiração dele no meu ouvido. e afasto-me.
obrigada. - digo e visto os calções com alguma dificuldade. ele percebeu, e ajudou-me também. agora têm as mãos na minha cintura. não, guida. o que ele fez é imperdoável.
devias ir. - digo a limpar a garganta. ele acenou com a cabeça, sorriu vestindo a cabeça.

obrigada. por ontem. - ele diz a fechar a porta. e eu sento-me no sofá. e suspiro fundo. estou a suar em bica. o que não é nada normal. ligo a ventoinha e o spikey dirigiu-se á mesma. eu ri-me dele.

está mesmo calor, spikey. - digo. a abrir o frigorífico. retiro água fresca e coloco ao lado da coisa onde o spikey têm a comida. ele bebe a água fresca. volto a meter a garrafa no frigorífico e tiro a fanta, enchendo um copo. e metendo de volta. levo o copo á boca. nada melhor do que uma fanta neste calor do inferno.
aproveito o calor e vou correr.
equipei-me e saio de casa. o edgar está a frente da minha casa.

como sabes que ia correr? - digo a sorrir. e tranco a porta de casa. ele dá de ombros.

um pássaro contou-me. - diz ele a sorrir. eu ri-me minimamente. e começo a correr ao lado de edgar.
estou com um fone no ouvido. a ouvir música do julinho e do deejay telio, os únicos que me motivam a correr neste calor. e tenho edgar que me acompanhava. fomos os dois para minha casa, tomo outro banho e edgar toma na casa de banho lá debaixo, seco-me e visto-me. tenho as pernas a doerem-me horrores. edgar volta para cima. têm um moletom azul claro, e uns calções cinzentos. e está de meias. aproxima-se de mim. e já sabemos o que vêm a seguir. foi uma experiência nova, não é tão bom quanto o antónio. mas foi uma boa foda. pretendo que não volte a acontecer.

estás bem? - ele perguntou. eu acenei. ele beijou-me levemente. e eu viro-me para o outro lado e começo a pensar. sinto-me péssima.
vou ter que falar com ele amanhã, porque é que deixei isto acontecer, tenho tesão acumulada, por causa do antónio. não o posso perdoar com sexo, sou melhor do que isso. edgar já dorme. eu retiro a mão dele da minha cintura e o mesmo não acorda. levo o meu telemóvel para a casa banho e ligo á constança.
e digo o que acabou de acontecer.
ela berrou. e eu mando-a calar. ela assim o faz.

tens de o esquecer, rapariga, tens os gajos todos, tirando o tomás, todos estão malucos para te levar para aqueceres os lençóis deles. não podes ficar presa a esse nojento. - constança mais uma vez tinha razão. eu suspirei.

é fácil falar. - digo a olhar-me ao espelho. ela suspira. oiço uma porta a abrir-se e oiço alguém a falar.
acho que estou prestes a ser assaltada. - digo e constança fica preocupada. - não desligues. - abro a porta da casa de banho com o telemóvel na mão e não vejo o edgar. a porta está aberta. estou a tremer.
fecho a porta e procurei alguém que não sei bem quem, pela casa. encontrei antónio sentado no sofá. com os braços apoiados nas pernas.
ele olha para mim. eu desliguei a chamada e sentei-me ao seu lado.

eu não consigo. - diz antónio. mas não consegue o quê? esquecer-te. - ele acaba a frase. eu suspirei.

eu também não consigo esquecer a merda que fizeste. e sabes bem que vai demorar para te perdoar. - digo a cruzar os braços. ele roda o rosto para mim.

aquela aposta perdeu o sentido. quando, eu me apaixonei. - ele volta o rosto para a parede. eu olho para ele. e ele volta a rodar o rosto para mim. por um lado quero beija-lo, mas por outro quero bater-lhe ou até mata-lo. suspirei fundo.

como é que eu vou voltar a confiar em ti, antónio? - os meus olhos tornam-se um dois lagos.
ele cerra os maxilares e coloca uma mão na minha perna. consigo senti-lo. eu senti falta disto. olho para a mão dele, pousada na minha perna.

eu não sei guida. mas, se me deres uma chance, eu prometo. eu prometo que isto vai ser para sempre. - ele diz. não consigo confiar nele. eu apenas não consigo.

tens de me esquecer, antónio, e beber até cair não vale. - cruzo os braços. e ele suspira. metendo as mãos á cabeça.

não consigo. - ele mexe no cabelo.
e olha para mim. está prestes a engolir-me mas isso não vai acontecer. levanto-me do sofá.
e ele está atrás de mim.

antónio, não. não acontecer. - digo a recuperar fôlego. ele desce os dedos pelos meus braços. eu dou um passo á frente.

guida, eu imploro. - ele susurrou ao meu ouvido, eu estremeci. uma noite, e eu vou tentar. tirar-te da minha cabeça. - eu viro-me para ele.
abano com a cabeça.

e eu vou dizer que não, porque se esta noite tiver continuação, vai haver outras e outras noites. - digo, com a minha testa encostada á dele.

fodeste o edgar, guida. eu vi-o a sair da tua casa. estás a começar a gostar dele. - ele susurrou.

andas a seguir-me, agora? e como sabes que gosto dele? - digo alto. ele abana a cabeça.

anda lá guida. o edgar, o miúdo perfeito para todas. come mulheres como come gomas. - ele mete uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. eu bato na mão dele e ele sorri. e eu não sou assim. - ele aproximou-se. arrepiei-me.
eu só te quero foder, a ti. - ele mete a mão dele na lateral do meu pescoço. e o seu polegar percorre o meu lábio inferior. eu caio na realidade e afasto-me dele.

vai. - digo a meter a mão no meu próprio cabelo.

—  eu vou. - ele diz e eu acenei com a cabeça. ele vira costas e volta-se para mim. - mas depois não digas que não te avisei. o edgar não te merece. - ele volta a virar costas.

e tu mereces? - volto-me para ele. e ele volta-se para mim.

não sei, mereço? - pergunta com a mão na minha porta. eu engoli em seco. ele abana a cabeça e fecha-a.
eu sento-me no sofá e começo a chorar.

antónio silva pov'

fecho a porta, mas permaneço ao lado da casa da guida. inclinei a cabeça e uma lágrima escorreu-me pelo rosto, limpo-a e quase me dirigo ao carro. quando a oiço chorar e a murmurar algo. volto para ao pé da janela.

por favor, deus, por favor. - diz ela, choramingando. - eu ainda o amo, mas eu não quero amá-lo. eu não me quero magoar mais. - pausa. porfavor, ajuda-me a esquece-lo. - eu cerrei os maxilares e começei a deitar lágrimas pelos olhos. ajuda-me a deixa-lo ir. - diz ela. limpando as lágrimas e a encostar uma almofada á cara, e chora cada vez mais. o meu coração parte-se em mil pedaços, a última coisa que quero ver é alguém assim, por minha causa. muito menos, a guida.

sem fôlego - antónio silva.Onde histórias criam vida. Descubra agora