Capítulo 35 - Cretino

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Pov - Capitã Lima

Confesso que o que eu fiz durante a perseguição foi loucura.. mas algo dentro de mim não deixa eu me render. Eu tenho fome, sede de justiça e talvez esse seja meu maior defeito.

Foi esse meu jeito que fez com que eu e Roberto nunca nos déssemos bem.. bom.. na primeira semana. Pois depois daquela nossa transa na praia, tudo mudou da água para o vinho. Não tínhamos muito em comum, na verdade, éramos totalmente diferentes. Mas com o passar dos dias e semanas, foi ficando impossível ficarmos longe um do outro.

E agora nos encontramos apaixonadas e ele de uma forma que nunca imaginei. Eu ainda sentia o mesmo tesão desde a primeira ficada, na verdade, desde que nossas mãos se encontraram em um aperto.

Estávamos passando por um momento delicado, minha vida nunca esteve tão agitada como agora. As últimas semanas foram tão intensas que não consegui nem falar com minha família, eles sabiam que era tudo muito complicado.. mas uma gravidez assim como pra mim foi um choque, para eles serão mais ainda.

Aqueles pensamentos me levaram para o meu pai, era muito doloroso pra mim. Estar passando por aquilo e não poder compartilhar com ele, o que me aliviava era ter Roberto tão perto. Eu via ele como um alicerce, meu porto seguro. Eu soube, dias atrás que com ele eu poderia contar.

E por falar em Roberto... Ele conversava com Matias, estávamos no cemitério. Tinha algumas pessoas chorando, deduzi que eram familiares. A Equipe se organizava para erguer a bandeira e eu estava um pouco afastada. Lembrei que os mais velhos sempre diziam que mulheres grávidas não podem ir ao cemitério, decidi seguir aquela superstição.

- Vamos?

- Aí que susto!

- Calma amor.. sou eu..

Sim, era ele. Eu ri de canto, eu estava amando aquele apelido. Era a primeira vez que eu me sentia amada por outra pessoa sem ser familiares.

- Eu..

- Temos que ir.. é rápido.. te quero ao meu lado.. está acontecendo igual o pesadelo que tive.. mas você não estava lá. Eu quero que seja diferente, eu preciso de ver.. saber que aquele pesadelo não controla minha vida..

- Tudo bem.. eu vou com você!

Ele riu e seguiu caminho para onde o Neto seria enterrado. O segui.

Fizemos uma breve marcha até seu túmulo, Roberto cobriu a grande caixa de madeira com a bandeira do BOPE e o caixão foi içado para dentro do buraco. Uma lágrima escorreu do meu olho, aquilo tudo me fez voltar ao passado. Ainda doía como se fosse ontem, de pensar que o Neto também queria ser como o meu pai, um homem bom e honesto me deixava bem emocionada.

Deixamos a família fazer suas condolências e nos retiramos do cemitério. As viaturas estavam estacionadas do outro lado da Avenida. Ficamos aguardando o sinal fechar para atravessarmos.

Quando retornamos ao batalhão já não havia mais sol. Fomos liberados do turno e eu só retornaria no outro dia a noite. Juntamente com Roberto.

- Dorme comigo?

Eu sussurrei ao surpreende-lo no estacionamento.

- Até se você não quisesse eu iria.

- Eu trancaria porta!

- Eu quebrava a janela!

- Nossa.. então eu namoro um homem corajoso?

Perguntei o abraçando.

- Namora!

Ele concordou e eu o olhei tentando decifrar o que foi aquilo.

- O que foi?

CAPITÃO NASCIMENTO | VOCÊ VAI CUMPRIR?Onde histórias criam vida. Descubra agora