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K I N A — 09

Passei a noite sem dormir direito. Fiquei pensando no Sete o tempo inteiro. Não é como se eu pensasse por que gostasse dele e sim porque ele me intriga demais.

Nós já ganhamos algumas horas só por conversar, as pessoas parecem gostar das nossas conversas, mas não sei até quando isso pode durar e nem sei até que ponto posso confiar nele, já que ele pode estar me usando para conseguir tempo.

— Dois. — sorrio para ela assim que chego no seu andar.

É de manhã e eu preciso descer todos os andares até chegar no térreo. Todos.

— Nove. — passo por ela pronta para seguir na nossa rotina: cumprimentar e sorrir quando cruzamos os olhares sem querer, mas não é isso que ela pensa — Nove, eu quero falar com você. — ela me dá uma leve puxada e eu me volto para ela.

— 'Tá bom. — concordo. Vejo a Oito e a Quatro descendo os andares juntas — Acho melhor a gente entrar.

Ela concorda, abre a porta do quarto e me deixa entrar pra fechá-la depois.
Observo seu quarto. Ele é algumas vezes menor que eu e é completamente desconfortável.

— Não precisa ficar com dó. — ela pede — Já me acostumei.

Ignoro o comentário, me sentindo envergonhada e muito idiota. Ninguém é digno de merecer dó e ninguém é digno de sentir dó.

— Você e o Sete estão sempre juntos, pra cima e pra baixo.

— Eu tenho afinidade com ele. — tento me justificar, mas ela revira os olhos.

— Ontem aconteceu a maior briga e hoje o clima já pesou. O Um e o Três são os que mais falam comigo enquanto você e o Sete andam juntos, a Quatro e a Cinco viraram mãe e filha e a Oito e o Seis transam o dia todo.

— Não sei porquê estamos afastadas. — admito.

— Você bateu de frente com a Oito, não teve medo do Seis e não se deixou levar pelo dinheiro. Gosto de você. — ela admite também — Mas acho que você devia tomar cuidado com o Sete. Se excluir agora é uma péssima ideia.

Ela tem razão.
Eu passei tantos dias isolada com o Sete, sem coragem de falar com os outros que me tornei a mais excluída do jogo. As pessoas mal lembram que eu existo.

— Você vai gostar do Três e do Um, eles são legais.

Antes que eu pudesse concordar, o Três entra no quarto.

— Você não sabe bater na porta? — a Dois questiona ele.

— Nove. Oi. — ele ajeita as roupas e pega na minha mão.

— Oi, Três. — agarro sua mão com força e sorrio para ele.

— O Sete 'tá chamando todo mundo pra uma conversa.

— Ele sempre quer conversar. — a Dois parece irritada.

— Então vamos. — peço — Pra acabar logo.

Só olho para a frente quando piso no último degrau. Uma roda se formou e nós fomos os últimos a chegar. Faço questão de ficar ao lado da Dois, que está do lado do Três.

O Sete me olha antes de começar a falar.
— A gente decidiu mandar o lixo para o Um já que ele corria menos, mas os lixos estão acumulando no quarto, que é o menor quarto, e descobrimos que subir ou não as escadas não muda nada.

— E agora? — a Quatro pergunta assustada.

— E agora o que? — a Dois pergunta — Cada um com o seu lixo.

— Eu não gosto dessa ideia. — a Oito opina.

— E se a gente mandar pro seu quarto? Ele é gigante mesmo.

Gelo. Se eles escolherem mandar para o quarto maior, vão mandar para o meu. Posso não ser a mais egoísta daqui, mas dormir do lado de lixos nojentos me faz querer vomitar.

— O que vocês acham de decidirmos ter um novo banheiro? — a Quatro pergunta — Não 'tô falando pra alguém se voluntariar, mas é um jogo. Quem perder é o banheiro.

— Como a gente vai decidir? — o Três pergunta nervoso.

— 'Vamo votar. — o Seis fala.

— Não viaja. Esse papo é só uma proposta de escolher alguém pra maltratar. — a Dois contesta.

— É democracia. — ele fala.

[...]

Decidimos votar.

Estou muito preocupada porque, além de ter o quarto maior, eu não participei do show de talentos. São dois ótimos motivos para votar em mim.

— Nove! — a Quatro aparece correndo assim que estou para entrar no meu quarto.

Todos foram pro seus quartos pensar.

— Oi.

— 'Tô pensando em votar na Oito. O quarto dela é gigante!

Ah, ela veio combinar votos.

O meu quarto é o maior. — ela fica nervosa quando falo isso, talvez tenha se arrependido.

— Mas você é legal! — ela pega na minha mão — Te acho uma ótima amiga.

Amiga?! A gente não se fala a dias!

— Eu não vejo problemas em combinar voto. — falo com sinceridade. A Quatro não quer lixo no quarto dela e nem eu no meu. Nessa ocasião, combinar voto é até necessário.

A Quatro é tão falsa que nem quero falar com ela. Se ela decidir em votar em qualquer um eu voto só pela insistência.

— Você votaria na Oito?! — ela pergunta desesperada.

— Nós duas saímos nos tapas. Votar nela é simples.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora