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o seu voto me ajuda muito.

KINA — 09

Eu passei horas da minha vida correndo.

Sim, correndo.

O tempo dessa espécie de jogo que estamos vivendo foi pra treze minutos porque a Oito usou as horas que tínhamos para comprar roupas.

Sim, roupas.

O Sete descobriu que estamos em um programa de TV, o que era óbvio, já que temos câmeras em todos os lugares. E depois disso, a Oito descobriu que nós ganhamos tempo quando subimos as escadas. Desde então passamos o resto da tarde correndo.

— É uma merda. — comento — A gente precisar estar aqui é uma merda.

— Não acho que todos que estão aqui precisam realmente estar aqui. — a Dois fala. Talvez ela tenha razão.

— Isso é um tipo de reunião particular?! — A Cinco diz rindo e entrando no meu quarto.

Desde que — finalmente — pagamos de correr, eu e a Dois nos recolhemos no meu quarto. A real é que ela xingou a Oito e uma briga começou. A Cinco mandou ela subir as escadas para aliviar a raiva (e para ganhar tempo) e ela acabou parando no meu quarto.

— Eu invadi o quarto dela. — a Dois se levanta do chão e limpa suas roupas.

— Eu encontrei ela aqui. No chão. — falo.

— Tudo bem, meninas. — a Cinco fala com um tom de mãe — Já 'tá na hora de cada um ir pro quarto. Dois...

— Tá bom, mãe. — ela ironiza — Tchau, meninas. — e ironiza de novo.

— Até amanhã, Nove. — a Cinco sorri e fecha a porta.

Eu não sei em quem confiar, é óbvio, mas eu sinto que a Cinco nunca me decepcionaria.

[...]

Nós passamos dois dias vivendo na mesma rotina: acordamos, corremos e dormimos.
Eu geralmente converso com a Dois, mas são coisas do tipo "Estou cansada" e "Também estou."

— Você pode dividir o pedaço comigo? — pergunto para o Seis. De tanto correr, todos queremos comer mais, mas é impossível.

— Não posso, não. — ele da de ombros e coloca o pedaço de carne todo na boca.

— Filho da mãe. — sem paciência e morrendo de fome, vou até meu quarto. Ninguém se assusta com a minha atitude ou se incomoda com a situação. A real é que todo mundo queria aquele último pedaço.

Tem que dar pra comprar comida.

Oi. É...eu quero um..— passo a mão nos cabelos, nervosa — Tem como comprar comida pronta?!

Espero o painel dizer que sim, ou que não.
"Não."

— Tudo bem, então eu posso morrer de fome?! — ironizo e o painel me diz "sim"

— Filhos da puta. — me sento na única cadeira que eu comprei e analiso todo o quarto.

Tantas pessoas aqui que precisam mais do que eu e estão em andares mais baixos, tantas que não precisam e estão em andares altos...é tudo uma merda.

— Nove. — alguém bate na porta. Abro esperando ver o cabelo platinado da Dois, mas encontro um cabelo bagunçado e óculos.

— Sete. — deixo com que ele entre no meu quarto. Ele passa os olhos por todo o quarto e eu imagino que tenha um pouco de inveja, mas sinceramente não ligo.

— Você ficou muito irritada? — ele pergunta já esperando um belo "sim" como resposta.

— Ele ficou a maior parte do tempo sentado.— me sento na cadeira do meu quarto, e o Sete se senta na minha cama — Mas eu não 'tô passando fome. — ele sorri e ajeita o óculos, traz o joelho pra perto e deita a cabeça, olhando para a porta.

— Você acha que é fácil assim?

— O quê?

— Subir as escadas todo dia. — ele se vira pra mim de novo.

— Se a gente 'tá em um programa de TV mesmo, é impossível que eles queiram ver pessoas subindo em escadas todo dia, né? — questiono e ele concorda.

— O que será que essas pessoas querem ver?

— Pobres desesperados, provavelmente. — falo rindo, mas ele continua sério — É o que a gente é, pelo menos a maioria.

— Eles querem que a gente brigue.

— Brigar por quê? — pergunto inocente.

— Por dinheiro, provavelmente.

— Ou por comida. — falo — Tipo, não precisa ser por um motivo específico, pode ser só...briga.

— E se não for só pela briga? Talvez esse não seja o propósito do programa— ele pergunta curioso.

—Você acha que seria pelo que? — ele não responde — Um programa de namoro? Amizade? A gente nem sabe que tipo de pessoa 'tá assistindo a gente.

— As pessoas mudam. Nem sempre o que elas querem ver hoje, elas querem ver amanhã. — ele comenta — Esse deve ser o motivo de ter tantas pessoas diferentes.

— Tipo eu e o Seis. — comento.

— Mas as pessoas se juntam com quem elas se parecem.  — ele conclui o pensamento, como se isso fosse uma coisa ruim.

— Tipo eu e você.

— Exato. — ele sorri fraco — Mas se você quer saber, acho que eles não querem ver nada clichê como romance. Isso envolve dinheiro.

— Se velhos tarados estiverem assistindo, talvez eles queiram ver sexo. — jogo as palavras no ar e ele da de ombros.

— A Oito é do tipo que dá a eles o que eles querem.

Sorrio.

— Ela é do tipo vadia. — ele sorri também.

De maneira inesperada, Sete levanta, vai até a porta e volta, mas fica em pé.

— O tempo aumentou.

— Acha que é por causa da nossa conversa? — pergunto já sabendo a resposta.

— Com certeza. — ele olha para os números aumentando no painel do meu quarto e vai até a porta de novo, mas dessa vez para ir embora— Você não gastou com quase nada.

É verdade, eu não gastei mesmo. Meu quarto está praticamente vazio.

— Quero economizar.

— E precisa?! — ele sorri, mas eu não. — 'Tá legal.— ele sente o clima pesando e sai do quarto, olha pra mim e sorri. — É muito bom falar com você.

— Bom saber que você gosta de falar comigo.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora