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K I N A — 09

Alguns dias se passam e eu continuo no quarto. Nos primeiros dias, o Seis permitia que a Dois viesse me visitar, tanto pra saber como eu estava, tanto pra saber como ela estava, mas de uns dias pra cá, ele não permite mais.

— Ela precisa vir pro nosso lado logo! — ele falou.

— Calma. Ela é uma peça importante. — o Sete disse.

Ele tenta me defender de todas as maneiras aqui, e eu até fico grata. Ele não me leva mais pro seu quarto, me deixa ficar aqui sozinha e por mais que ele leve a chave, me sinto completamente confortável: não participo dos jogos, não recebo castigos físicos, como bem e fico mais rica.

Estando nessa posição tão maravilhosa, as vezes eu me esqueço de que os andares de baixo estão sofrendo. Geralmente quando a comida chegava eu torcia para que ela fosse
parar lá em baixo, mas agora a comida chega e eu simplesmente mando ela pro andar debaixo mesmo sabendo que talvez eles não comam.

Minha humanidade está sumindo aos poucos.
É isso que o dinheiro causa nas pessoas?
Isso também acontece com o Sete? E se ele decidir simplesmente me mandar lá pra baixo?

— A gente precisa conversar. — o Sete entra no meu quarto. Me afasto na cama para que ele sente — Eu 'tô te deixando ficar aqui faz muito tempo. Todo mundo 'tá se movimentando no jogo, menos você.

Um calafrio passa por todo meu corpo. O medo de ser tratada como os outros me mata aos poucos.

— O que vocês vão fazer comigo? — pergunto assustada.

— Nove, eu preciso que você finja concordar com o Seis. — ele toca o colchão. De uns dias pra cá o Sete tem andado distante também. Não que eu me incomode com isso, mas fico tão sozinha que sinto falta de conversar com pessoas e não com as paredes.

— Que?!

— Chega de ficar nesse quarto. Você fica aqui achando que vai mudar alguma coisa, que vai fazer algum plano mirabolante mas a verdade é que não vai! — ele se altera — Ou você se junta a eles ou você apanha todo dia.

— Quem é você, Sete?! — me levanto — Eu realmente não te entendo!

— O que você não entende? — ele se levanta também — Não entende a minha capacidade de levantar todos os dias e sobreviver?

— Eu não entendo a sua capacidade de mentir! — bato com o indicador contra seu peito — Eu não te entendo! Não entendo de que lado você 'tá, não entendo o que você pensa, o que você quer fazer. Você fala que vai mudar o jogo, que os andares de baixo são importantes pra você, mas você não muda! Eu não te vejo fazer nada!

— Você passa o dia todo no seu quarto, porra! — mesmo ele gritando, não tenho medo de que bata em mim. Não sei porquê, mas sinto que ele não bateria em mim — Você fica aqui recebendo tudo na mão! Tem sorte de que o Seis não se cansou de você.

— Sorte?! — dou uma risada.

— Eu não posso fazer tudo sozinho. — ele abaixa o tom e se aproxima de mim — Toda vez que vejo eles apanhando...toda vez que eles sangram...eu imagino a dor deles. Eu penso "e se fosse eu ali?", "e se fosse a Nove?"

Suspiro fundo e me sento de novo.

— Eu não consigo parar um grupo inteiro ao mesmo tempo sozinho. — ele pega na minha mão e tento fingir que não gostei de sentir seu toque depois de dias sem ele — Eu preciso de você, Nove, por favor.

Ele tem razão, mas...
— Sete, eu não sei se devo confiar em você. — sussurro — Você já me feriu tanto...

— Nove.

— Eu não sei quem você é...não sei se...

— Nove! Eu tenho um plano!

[...]

Estou no quarto da Oito. Ela joga golfe com a Quatro enquanto o Seis está comendo.

— Oi. — entro no quarto sorridente.

— Olha quem apareceu! — a Oito sorri.

— Amiga! — a Quatro me abraça. O Sete parece inquieto e nervoso do meu lado.

— Oi, mocinha. — o Seis sorri — Você finalmente veio.

— Eu conversei com o Sete. — dou mais um sorriso.

Olho por toda a mesa e acho uma coisa extremamente importante: a arma de choque nova.

— Eu 'tô com tanta fome. — coloco a mão na barriga e fico de olho nas marmitas que estão próximas da arma.

— Fica a vontade! O quarto é seu! — a Oito fala antes de voltar a jogar.

Sorrio como forma de agradecimento e vou até a mesa. O Sete vem atrás de mim. O Seis se levanta pra fumar, então o Sete pega a arma e mexe em algumas coisas nela. Ele aperta o botão que deveria sair o choque, mas ele não funciona.

Toco sua mão e sorrio. Enquanto como, o Sete se junta com o Seis e eu faço questão de os deixar longe da arma.

Depois de horas vendo as chatas da Oito e da Quatro jogando, o Seis fumando o tempo todo e meu coração bater desesperadamente, o Sete finalmente decide descer.

Ele disse que queria passar no quarto da Dois para averiguar as coisas porque eles parecem muito quietos. O Seis concorda e já pega seu taco, louco pra machucar alguém.

— A arma. — eu o lembro — Com um choque eles ficam quietinhos.

O Seis vem até mim e me dá um soquinho no ombro antes de pegar a arma.

— Gostei de você!

Ele sorri completamente feliz, e eu sorrio também, porque se o plano der certo, daqui a alguns minutos o Seis vai estar amarrado e pagando por tudo que ele fez.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora