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U - S E O K — 07

Ofereço um cigarro pra Nove quando ela aparece. Ela recusa e sorri fraco, depois de senta do meu lado e crava os olhos na piscina.

— A Cinco veio falar comigo. — ela fala devagar — Ela quer desamarrar os andares de cima.

— Você acha que ela deve? — pergunto com um certo nervosismo no corpo — Quem garante que o Seis não vai se vingar?

— Se o Seis se voltar contra a gente, você vai junto. — ela me lembra — Eles sabem que você não 'tá preso, sabem que você 'tá do nosso lado.

— Não acho que a Cinco deve soltar eles. — acendo meu cigarro e a Nove me olha curiosa — Vocês sofreram na mão deles e agora simplesmente vão soltá-los?

— Você tem razão. — ela se ajeita no banco do meu lado, se deitando — Isso não faz sentido nenhum.

Levo o cigarro até a boca, puxo a fumaça e depois assopro, sem tirar os olhos da Nove. Quando tive que prender ela, me senti a pior pessoa do mundo, não aguentava pensar que ela estava machucada por minha causa, mas tinha consciência de que precisava fazer isso. Precisava fazer isso pra que ela estivesse aqui agora, livre.

Ela me olha e sorri, mas em alguns segundos seu sorriso se desfaz em uma expressão preocupada.

— Sete! — o Seis grita do sexto andar. Ele segura a Cinco, que está com uma fita na boca. A Oito e a Quatro descem do primeiro andar com o Um amarrado — 'Tô de volta, colega!

K I N A — 09

O Sete joga o cigarro no chão e pisa nele. A medida que vejo a Oito se aproximar, me levanto e a vejo correr na minha direção, como se ela não fosse me deixar escapar.

Corro também, buscando algum lugar que me salve das maluquices da Oito, mas ela joga o salto na minha frente. Sem ver, tropeço e caio. Levo a mão ao nariz e vejo que ele está sangrando.

— Fofa. — ela chega até mim e puxa meu cabelo. Arfo de dor — Agora você não escapa, não. — sua mão empurra minha cabeça pra baixo e sinto uma forte dor na testa.

Não enxergo mais nada, e provavelmente fico assim por um bom tempo, porquê quando acordo, tudo está diferente.

Estou deitada de frente pro carrossel. O Sete, a Dois, o Um e o Três estão do meu lado enquanto a Cinco está amarrada. Minha visão ainda é turva e não consigo me levantar sozinha, então a Quatro vem me ajudar. Nossas mãos estão amarradas e agora todos estão ajoelhados de frente pro Seis.

— Um de vocês arrancou minhas unhas. Deixou só duas no pé.— quase vomito ao imaginar isso — Eu admito que subestimei todos vocês. Mas, mesmo assim. Quem foi?

Olho para trás e vejo a Oito segurando uma arma. Sinto à vontade de chorar vindo rapidamente enquanto a morte se aproxima.

— Foi você? — ele pergunta pra mim primeiro. depois passa por todos— Eu entendo. Mesmo vocês tendo me amarrado, eu entendo. — ele fala carinhoso — Mas vocês fizeram uma coisa que não deveriam ter feito.

Ele se senta no chão e começa a gargalhar, depois pega uma arma e uma bala. Pressiono minha unha contra as minhas mãos e deixo arder.

— Sabe o que eu pensei enquanto estava amarrado? "O que eu faço pra achar essa pessoa de forma divertida?" — ele coloca a bala na arma. É só uma.

Roleta Russa.

Roleta Russa. Geral conhece. — ele vem até mim e aponta a arma na minha cabeça, depois aponta pra minha perna. Abaixo a cabeça e deixo com que as lágrimas caiam.

Não olho para os outros, mas tenho certeza de que estão me olhando, principalmente o Sete.

— Vou atirar na perninha. E vai doer pra caralho. — ele dá uma risada — Vai ser show de bola.

Ele aponta a arma ainda mais fundo na minha perna e segura o gatilho.
— Quem foi?

— Eu não sei. — sussurro. Ele faz uma contagem e então...atira. Minha respiração acelera e parece que um peso enorme sai do meu corpo. Ele sorri e comemora — Parabéns. Gosto de você.

— E você? — ele vai até o Sete — Vai falar quem foi ou não vai?

— Eu não sei de nada.

— Não sabe? — ele se ajoelha até ele e aponta a arma na sua coxa — Vai doer um pouquinho.

Não escuto mais nada além do disparo. Ele grita muito alto e começa a se contorcer. Gritos de desespero saem da minha boca, mas eu não consigo me mexer.

— Ajuda ele! — grito — Seis, ajuda ele!

A Quatro corre até ele, tira sua blusa e pressiona no machucado. Ele grita mais alto ainda e se desespera. O Seis coloca mais uma bala na arma e aponta pra perna do Três.

— Por favor, na minha perna não! Não, não! Eu imploro.

— Espera! — o Três grita — Eu sei como descobrir quem fez isso!

— O que?!

— As câmeras! Tem gente vendo a gente! As câmeras! Compra a filmagem daquele dia!

A Oito começa a subir pro seu quarto e o Seis vai atrás.

— Foi você, não é?! — a Dois pergunta pro Um e ele começa a chorar — Queria mais grana, né?!

Ele começa a chorar.
— Eles usam a gente pra conseguir dinheiro. Por que a gente não pode.

— Sete?! — sussurro devagar. Ele dá um gemido de dor — Sete...

— Seis! — a Quatro grita e o Seis sai do quarto— Foi aquele idiota! Foi o desgraçado do Um.

O Seis desce das escadas raivoso, mas a Oito da um choque nele e ele cai.

— Que porra...— sussurro.

[...]

A Oito nos prendeu e comprou as gravações das câmeras. Ela assistia e saboreava tudo com gosto, como se fosse uma comida gostosa. 

Passei dias da minha vida deitada, gemendo de dor e de fome. Não sei se ainda sou um humano, nem sei dizer se estou viva. Penso no Sete e na Dois o tempo todo, e na minha família também.

As vezes, alucino que minha mãe entrou no meu quarto, as vezes vejo o Sete andando por aqui, tocando na minha cicatriz, mas tudo se esvai rapidamente.

Para me lembrar de que ainda estou viva, as vezes me machuco com as minhas unhas ou bato a cabeça no chão. É o que me mantém viva.

Sabia que não a Cinco não devia ter libertado eles.

Minha vida é um inferno.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora