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K I N A —09

Acordo em um lugar completamente diferente de onde estava antes. Quando abro os olhos, tudo está claro e uma sombra familiar se aproxima. Ela vem até mim e beija minha testa.

– Você demorou chegar...– quando minha visão volta ao normal, percebo que é minha mãe quem fala comigo.

Ela está com vários fios brancos na cabeça e seu rosto aparenta ter mais rugas, mas continua linda. Ela passa a mão na minha testa e faz uma expressão de susto. Ela também toca meu pescoço por debaixo da roupa e seu toque frio me faz arrepiar.

– Mãe...– chamo o seu nome, mas ela não responde, apenas me manda um sorriso.

Não sei se estou sonhando ou se morri. Faz anos que não vejo minha mãe desde que ela morreu. Ela lutou contra o câncer por bastante tempo, mas não resistiu. Depois que ela se foi, as dívidas dos remédios e hospitais foram pro meu nome e eu não consegui me manter, então parei aqui, nesse jogo perturbador.

– Você 'tá com muita febre.

– Mãe, eu preciso de ajuda. –falo tão baixo que mal consigo me escutar.

Ela passa a mão pelo meu braço antes de sua imagem desaparecer. Minha mãe caminha em direção a luz. Fico impressionada porque ela está com um longo cabelo, mas no seu caixão ela estava completamente careca.

Uma bomba de nervosismo toma conta de mim. Minha mãe foi pro paraíso e me deixou no inferno? Ela realmente veio me ver ou foi só uma alucinação?

Mesmo depois de sua imagem sumir, ainda sinto o toque familiar, mas dessa vez está tudo escuro. A Cinco está tocando a minha testa e falando algo que não consigo escutar. Depois, um borrão familiar se ajoelha do meu lado.

– Nove! – a Cinco me chama. Ela sacode meu corpo devagar e me dá um pouco de água, mas isso não é o suficiente. Fiquei dias sem beber uma gota de água!

Quando ela afasta a garrafa, gemo de dor e choro. Não sei se estou chorando de dor no corpo, de sede, ou pela conquista que foi beber água. Nessa altura do campeonato só quero que esse jogo maldito acabe.

A Quatro me desamarra e a Cinco vem me dar comida na boca. Enquanto como, deixo várias  lágrimas caindo e vejo que ela chora junto. Ela pede desculpas diversas  vezes, mas sou incapaz de responder qualquer coisa, só peço mais comida.

– Precisamos conversar. – a Quatro fala quando acabo de comer. Dessa vez ela parece mais séria, concentrada. Balanço a cabeça, concordando, mas sinto que não vou entender nada dessa conversa. Minha mente ainda está na imagem da minha mãe me visitando.

– Vou te atualizar de tudo!– ela fala contente e eu sinto um embrulho na barriga – a Oito prendeu os olhos de todo mundo e não deixou eles dormirem, menos você e o Seis. Ela queria prender você, mas a Cinco disse que você não ia sobreviver naquele estado.

– O quê? – pergunto com dificuldade – O que vocês fizeram com eles? Como eles estão?

A cinco aperta os olhos e passa a mão na cabeça. Provavelmente se sente envergonhada, mas eu não ligo mais. Ela merece sentir isso.

– Nove! – a Quatro me chama de novo – O Um descobriu um jeito de trocar de quarto, e agora vamos libertar todos eles!

Quase pergunto a elas como ele vai fazer isso, mas não gasto meu tempo com essas perguntas. Ao contrário, sou a primeira que desce as escadas para libertar os outros. Quando chegamos no oitavo andar, a Quatro nos manda ficar em silêncio e diz que vai enrolar a Oito enquanto libertamos os outros.

– Vamos nos separar. – a Cinco fala e eu concordo.

Corro até o quarto do Sete enquanto ela vai pro terceiro andar. Quando abro a porta vejo a pior cena do mundo. Tapo minha boca para evitar um grito. Tem um espécie de prendedor fazendo com que seu olho fique aberto e uma bacia de água ao redor de seu pescoço. Mesmo fraca, vou correndo até ele.

Ele começa a gritar. Está com medo de que eu machuque ele.

– Sete, eu não vou te machucar! – o puxo para perto e empurro sua cabeça pra frente, vendo a água cair. Ele geme de dor enquanto tento tirar a bacia. Depois de tirar, desgrudo aquela coisa de seus olhos e ele cai no meu colo. Nos levo para o chão e agarro seu corpo.

– Nove. – ele sussurra – 'Tô com tanto sono...

Deposito beijos na sua cabeça e ele fecha os olhos devagar. Sei que não devo, mais deixo que durma. Vou até a porta averiguar a situação e encontro a Quatro no quarto do Seis. Ela se afasta para que eu veja dentro do quarto. É a Oito caída, com um pouco de sangue na cabeça.

– Você matou ela? – pergunto assustada, esperando sinceramente que a resposta seja "sim", mas a Cinco vai até ela e confere se ela está respirando, balança a cabeça negativamente e respira aliviada.

– Porra, cadê a Dois? – pergunto indo em direção a porta, mas sorrio imediatamente ao ver quem está parada lá.

É a Dois. Mesmo sabendo que ela não gosta de abraços, puxo seu corpo pra perto. Choro quando percebo que ela também me abraçou. Seu corpo amolece, provavelmente começou a dormir, já que ficou dias sem pregar os olhos.

[...]

Todos nós (menos o Seis) descemos para vermos a Oito amarrada. O Três começa a chorar e todos o seguem no choro. Deixo que lágrimas saiam dos meus olhos mais uma vez.

Aqui dentro choro diariamente, mas não me envergonho. Sei que não senti nem a metade do que os andares de baixo sentiram, na verdade, fui a mais acomodada aqui, mas choro por um motivo: me tornei humana de novo.

De repente a Cinco nos pede uma coisa:
– Quero cumprir nosso acordo.

– Que acordo? – o Três pergunta.

A Cinco fica tensa, então a Quatro explica:
– A Cinco concordou em me ajudar se...ela castrasse o Seis.

É uma loucura pensar que a Cinco seria capaz de fazer isso com alguém, mas é real. Quando uma pessoa é testada como nós fomos, ela enlouquece. Todos sabemos que vai doer, todos sabemos que é errado, mas deixamos.

Porque no final, estamos todos loucos.





os últimos capítulos tão chegando e eu tô tão nervosa pra escrever eles

não botem tanta expectativa 😭😭😭😭

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora