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K I N A — 09

Tiro um dipirona da cartela e bebo, depois abro a caixa de curativo e tiro um, pego meu espelho e observo o corte na minha testa. Tive que comprar algumas coisas depois de ganhar um soco no rosto e ficar morrendo de dor.

Essa foi a tarde mais complicada desde que eu cheguei aqui e provavelmente os dias só vão se complicando cada vez mais.

Cubro o corte com o curativo e deixo as coisas em um canto do quarto. Ele é tão grande que as coisas parecem desaparecer nele.

— Nove? — uma voz fala pela porta. Aproveito que estou de pé e vou até ela — Sou eu, o...

— Sete. — abro a porta rápido. Já esperava ele aqui. Virou uma rotina — Oi.

Ele sorri fraco antes de entrar. Fecho a porta e encontro ele sentado na minha cama.

— Eu andei pensando. — ele sempre pensa — A nossa convivência pode ficar completamente diferente agora.

— Isso não é óbvio? — respondo com uma pergunta — Praticamente todo mundo se bateu hoje.

— Você viu como os andares de cima estão tratando os andares de baixo? — ele pergunta curioso. Me sento do seu lado — É automático. A Dois, o Três e o Um já se juntaram, andam juntos pra todo lado.

E o Seis e a Oito também.
Eu e o Sete também.

E os andares de cima também. A Oito e o Seis, você e eu...— ele ajeita os óculos e fica tenso — É questão de tempo pra excluírem a Quatro também.

— A Quatro não é do tipo que se juntaria com os andares de baixo. Por mais que ela faça parte deles, ela não quer. — me escoro na parede e ele encara o movimento — Ela sempre faz tudo que a Oito manda. É mais fácil a Cinco se juntar aos andares de baixo.

— Você é o último andar.

— Sou.

— Você acha que isso é bom agora? — ele pergunta, mas não respondo.

Ele observa o quarto e os olhos dele pousam no painel. Os números aumentam em quantidades absurdas.

— Eu nem precisei me esforçar pra ser a que recebe mais. — comento — Você acredita nisso?! Eu só escolhi um papel.

— Todo mundo só escolheu um papel. Talvez a sorte esteja do lado de certas pessoas. — ele me encara.

— A Cinco e o Um parecem ter filhos. Eles mereciam mais. — puxo os joelhos pra perto e ele estica as pernas.

— Qual é sua razão pra estar aqui? — ele pergunta curioso.

— Eu te conto no último dia de jogo. — eu não vou contar — E a sua?

— Te conto no último dia. — ele sorri e eu também.

— Tá bom. — respiro fundo. Encaro seu rosto.

Por algum motivo eu gosto dele. As vezes eu converso com a Dois e digo um "oi", "bom dia", "como vai?" para o Três, mas com o Sete é diferente. Ele entra no meu quarto quando quer, fala o que quer, faz o que quer. Está até na minha cama.

— Seu rosto. 'Tá machucado.

— Tomei uns socos hoje. — ele me lembra.

— Meu Deus! — me levanto e escondo o sorriso — Você me defendeu. É verdade. Como posso ter me esquecido?! — falo comigo mesma enquanto pego os curativos que deixei no canto do quarto.

Ele se levanta também enquanto caminho até ele de volta.

— Não precisa fazer isso. — ele ri. Não é um sorriso, é uma risada. — É até vergonhoso.

— É uma honra. Você ajudou duas mulheres a se protegerem do Seis: a Dois e eu. — tiro um curativo da embalagem, mas ele impede que eu continue.

— Eu apanhei.

Faço que não com a cabeça e coloco um curativo próximo da sobrancelha dele, onde tem um corte.

Ele me encara enquanto coloco.

— Que bom que te conheci. — ele fala baixo como se fosse um segredo.

— Gostei de te conhecer. — conto um segredo a ele.

Ele passa o polegar em cima do meu curativo e sorri fraco.

— Você quase arrancou a língua dela. — ele comenta rindo.

Passo a mão no seu curativo também.
— Você tirou ele de cima de mim.

Ele desce a mão do meu curativo até meu pescoço. Aproxima nossos rostos e tenta me beijar, mas eu o afasto pressionando minhas mãos contra seu peito.

— Você não sabe nada sobre mim.

Ele não discorda. Quando percebo, já estou sozinha no quarto.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora