Como ousa me enganar capítulo 5

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Sexta-feira, 08/09/2023
O silêncio se instala no ar, criando um clima tenso. Todos estão olhando, sem entender a cena.
— Eu sabia, realmente é você! — digo, sentindo uma onda de incredulidade.
— É que... — ele tenta se justificar, mas eu o interrompo.
— Não diga nada. Eu já confirmei tudo. Você é Kim Tae-mo, filho de Kim Jun-ho... o meu padrinho!
— O quê? — exclama Vittorio, surpreso.
— O que está acontecendo aqui? — Paulo Vitor pergunta, confuso.
— Vamos embora, Vittorio!
— Tá bom… depois nos falamos, querido. — diz Vittorio, lançando um último olhar para Paulo Vitor.
  Seguro o braço de Vittorio e o puxo comigo para longe. A frustração me corrói por dentro, e tudo o que consigo pensar é no quão idiota fui. Como pude acreditar naquele mentiroso? Eu estava tão envolvido, a ponto de cogitar dar a ele meu primeiro beijo… e tudo não passava de uma farsa.
  As peças do quebra-cabeça finalmente se encaixam. Primeiro, descobri que o filho do meu padrinho também havia sido sequestrado. Depois, soube que ele era o garoto que sofreu ao meu lado. Agora estou no dormitório de Vittorio, sem vontade de voltar para casa. Sinto como se todos estivessem escondendo a verdade de mim — inclusive Ariana. Usaram minha deficiência como uma ferramenta de manipulação, e isso me revolta.
O celular começa a tocar incessantemente. São ligações do meu pai, de Ariana, e… do mentiroso. Todos ligando um atrás do outro.
— O que você vai fazer? — pergunta Vittorio, olhando para mim com preocupação.
— Não sei… mas por enquanto, só não quero ouvir a voz deles.
— Não seja tão duro com a Ariana. Provavelmente ela foi obrigada a manter segredo, — diz ele, em um tom cuidadoso.
— Puxa-saco! — digo com um meio sorriso, tentando aliviar a tensão. Deito-me na cama, buscando um pouco de descanso.
Mal fecho os olhos, sinto alguém me cutucando levemente.
— Acorda, Ariel! — diz a voz familiar do meu pai.
— Papai? — digo, ainda meio sonolento.
— Vamos para casa. Precisamos conversar. — Ele segura minha mão e começa a me conduzir para fora. Durante o caminho, meu pai toca no assunto de forma direta.
— Então, o Tae-mo finalmente te contou a verdade?
— Não… eu descobri por conta própria, — respondo, a voz carregada de ressentimento.
— Como?
— Eu… prefiro não falar sobre isso. Mas como puderam manter isso de mim?
Meu pai respira fundo, como se tentasse organizar seus pensamentos antes de continuar.
— Desde o incidente no seu aniversário, o Tae-mo demonstrou uma felicidade que eu não via desde o sequestro.
— E o que mais?
— Quando você se envolveu com aquele garoto da escola, o Tae-mo soube.
— Como? — pergunto, sentindo o coração acelerar.
— Vocês estudavam na mesma escola. Ele sempre quis estar ao seu lado, e quando soube que você estava saindo com o Marcos, ele procurou o pai e disse: “Eu amo o Ariel”. Foi a primeira vez que ele admitiu isso.
— Então… ele foi quem contou sobre o Marcos… — sinto meu peito apertar, a sensação de traição crescendo ainda mais.
Meu pai desvia o olhar, parecendo desconfortável, e finalmente confessa:
— O Jun-ho veio falar comigo. No começo, eu não queria aceitar, mas ele me convenceu, e… acabou investindo na minha empresa.
— Papai? — digo, incrédulo, sentindo um nó na garganta. — Você me vendeu?
— Graças a você, meu filho, hoje sou dez vezes mais rico, — ele responde com uma frieza que me atinge como uma lâmina.
— Eu sou o seu melhor investimento, — ele diz, e aquelas palavras ecoam na minha mente como uma sentença. Sinto-me mais do que traído… sinto-me como um objeto, uma peça no jogo dele.
  Finalmente, chegamos em casa. Subo para o meu quarto, o coração pesado e a cabeça cheia. Quando abro a porta, vejo Ariana dormindo, o leve som do seu ronco quebrando o silêncio. Ela parece tão em paz, tão alheia a tudo isso, mas sei que, como eu, ela também é apenas um “investimento” para o nosso pai.
  Caio na cama, o peso de todas essas mentiras e manipulações me esmagando. As lágrimas finalmente caem, silenciosas e desesperadas. Meu mundo se desfez, e me pergunto se algum dia alguém vai me amar por quem eu sou, e não por algo que posso dar.
Sábado, 09/09/2023
É de manhã, e passei a noite inteira pensando em Tae-mo. Se ele realmente gostava tanto de mim, por que nunca demonstrou o que sentia? Que tipo de amor é esse, tão estranho e contido? Ariana acabou de confessar tudo, e sua voz soou aliviada. Papai a ameaçou para que ela não me contasse a verdade. Sinto uma mistura de raiva e decepção com todos eles.
Chego ao shopping e vou em direção à praça de alimentação, onde combinamos de nos encontrar. Logo vejo Vittorio, com uma expressão abatida e uma voz trêmula quando diz “oi”.
— O que houve, amigo? — pergunto, preocupado.
— O Paulo Vitor terminou comigo! — Vittorio desfaz-se em lágrimas, seu coração despedaçado à mostra.
— Amigo! — digo, puxando-o para um abraço forte e tentando transmitir algum conforto.
— Ele estava tão estranho comigo esses dias... E hoje de manhã ele me chamou para conversar.
— Você sabe que foi melhor assim, não sabe? O Paulo Vitor nunca te tratou como você merece! — tento encorajá-lo, mas vejo a dor em seus olhos.
— Ariel, eu só queria meu amor de volta… — diz Vittorio, enquanto soluça ainda mais.
Faço o melhor que posso para consolá-lo, mas, em meu íntimo, sinto uma ponta de alívio. Meu amigo finalmente se livrou daquela relação que o fazia sofrer. Ele está um pouco mais calmo, e decidimos ir ao cinema, que fica no último andar do prédio. Entro no elevador e espero que ele entre também.
— Amigo, vai indo na frente. Preciso comprar uma coisa. Me espera lá em cima! — diz ele, saindo apressado.
As portas do elevador se fecham, e noto que há outra pessoa comigo. Aquele cheiro… será possível?
— É você, Tae-mo?
— Sim, — ele responde, e meu coração acelera.
— O que faz aqui?
— Queria te ver. Precisamos conversar. — Quando ele termina de falar, o elevador para repentinamente.
— Ai, não... por que isso justo comigo? — digo, frustrado.
— Que sorte a minha, — diz Tae-mo com um tom alegre. — Assim finalmente podemos conversar sem interrupções.
— Por que está tão feliz? — pergunto, tentando manter a calma.
— Porque finalmente tenho a chance de falar o que guardei por tanto tempo…
— Então diga. — respondo, tentando esconder o nervosismo.
— Queria pedir desculpas.
— Desculpas? Por me enganar todos esses anos? Ou por ter me atirado de cara naquele bolo?
— É que…
— Ah, e nem posso esquecer do Marcos. Sei que foi você quem contou ao meu pai sobre ele!
— Me desculpa. Quando descobri que ele gostava de você, fiquei cego de ciúmes. Não pensei direito no que estava fazendo.
— Você diz que gosta de mim desde aquela época, mas nunca nem tentou me beijar!
— Eu tinha medo… medo de que você me rejeitasse. — ele murmura, a voz hesitante.
— Agora é tarde, — digo, tentando soar indiferente.
— Por quê?
— Porque eu não vejo mais você como um interesse amoroso.
— Mentiroso. — Tae-mo sorri, aproximando-se. Sinto meu rosto esquentar, e meu coração acelera.
— O que você está fazendo?
— Se você realmente não gosta de mim, por que está com o rosto todo vermelho? — Tae-mo coloca uma mão em meu rosto, enquanto a outra fica apoiada ao lado, me prendendo contra a parede do elevador. Ele está tão próximo que sinto sua respiração tocar minha pele. Meus pensamentos se confundem, e toda a raiva que eu deveria sentir se mistura a algo mais profundo e perigoso.
— Tae-mo… — murmuro, com a voz trêmula, sem conseguir me afastar.
Ele inclina o rosto, e sinto seus lábios se aproximando dos meus, em um toque suave, mas carregado de sentimentos reprimidos.

Compromisso com terapia(Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora