Dejavu, supostas lembranças vem a tona! capítulo 13

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Segunda-feira, 08/01/2024

— Você é um monstro, papai! Machucar a própria filha... — Ariana delira, com a voz tremendo, mergulhada em um pesadelo. A aflição em seu tom me despedaça.

— Ariana, calma, estou aqui! — murmuro, acariciando seus cabelos, tentando apaziguar sua dor.

Vitório, ao meu lado, se levanta num impulso. — Vou chamar a médica! — grita ele, saindo em disparada. Em poucos instantes, ele retorna com a médica.

— Vou aplicar um calmante — diz ela, com a voz firme, enquanto prepara a seringa.

Terça-feira, 09/01/2024

É de manhã, e estou tomando café com Vitório. Ele parece animado, contando as novidades sobre seu novo namorado e como o rapaz é cuidadoso e atencioso.

— Amigo, acredita que ele quer que eu o chame de hyung? — diz Vitório, com uma risada nervosa.

— O que tem de mais nisso? — pergunto, sorrindo com a simplicidade do pedido.

— Eu nunca tive um hyung! — exclama ele, empolgado, quase gritando no meu ouvido.

— Ai, meus ouvidos são sensíveis, esqueceu? — reclamo, rindo.

— Desculpa, mas é que não estou acostumado a esses apelidos.

— Seja direto e diga que não se sente à vontade. Eu chamo Tae-mo de hyung porque me sinto bem com isso, sabe?

— Não quero magoá-lo...

— Então chama ele de hyung.

— Tá bom, vou com a primeira opção!

Trocamos uma risada leve, mas não demora para o tom voltar à seriedade. — Vamos logo — digo, me levantando. — A doutora disse que Ariana pode acordar a qualquer momento. Quero estar ao lado dela quando isso acontecer.

— Vamos! — responde Vitório, me guiando pelo braço. Caminhamos juntos até o quarto de Ariana.

Ao entrarmos, reconheço uma presença indesejável. Sinto o cheiro familiar e o ar fica pesado ao redor.

— Oi, Ariel — diz meu pai, sua voz seca. Está no quarto, como se tivesse o direito de estar aqui.

— O que está fazendo aqui? — digo, tentando conter minha raiva.

— Vim visitar minha filha — responde ele, com desdém.

— A Ariana não te suporta... assim como eu! Então, some daqui! — ordeno, com o tom gelado.

— Olha como fala comigo! — replica ele, com a voz carregada de ameaça.

— Sai daqui. Some daqui! — insisto, sem medo.

— Respeite o seu pai, moleque! — ele grita, a voz ecoando.

— Você ouviu o Ariel, suma daqui! — A voz de Tae-mo interrompe a tensão, firme e cheia de determinação.

— Hyung? — digo, surpreso e aliviado ao mesmo tempo.

— Some daqui agora, ou te tiro à força! — Tae-mo avança, sua presença forte e protetora. Meu pai não tem escolha; ele sai, mas não sem deixar uma última ameaça.

— Vocês não vão me impedir de ver minha filha! Eu vou voltar! — diz ele, furioso, e sai, batendo a porta.

— Hyung, você foi incrível! — digo, abraçando Tae-mo com força.

— Botou o velho pra correr! — exclama Vitório, impressionado.

— Não quero esse monstro perto da Ariana — murmura Tae-mo, com a voz carregada de angústia.

— Não se preocupe, amor. Eu vou provar que foi ele quem atacou Ariana! — prometo, sentindo a fúria e a determinação dentro de mim.

— Infelizmente, as câmeras do terraço estavam desligadas... — acrescenta Vitório, frustrado.

Sinto o ar pesar novamente. Mas uma coisa é certa: não vou parar até que a verdade venha à tona, e meu pai pague por cada crime, por cada ferida que causou.
Quarta-feira, 10/01/2024

É de manhã. Passei em casa para pegar algumas roupas para Ariana; a qualquer momento ela pode acordar. Volto para o hospital, onde deixei Vitório cuidando dela. Quando entro no quarto, encontro meu amigo com uma expressão inquieta, quase desesperada.

— Amigo, não tenho boas notícias — diz ele, a voz nervosa.

— O que aconteceu? — pergunto, sentindo o coração acelerar.

— Seu pai... Ele esteve aqui e vai levar Ariana.

— O quê?! — O grito escapa dos meus lábios, uma mistura de choque e raiva.

— Ele a levará para ser “tratada” em casa...

— Isso eu não vou permitir!

— Ariel, infelizmente não podemos fazer nada. Ele é o pai e já conseguiu a permissão do hospital. Hoje à tarde, a ambulância a levará — Vitório explica, a angústia evidente.

— Não, ele está tramando alguma coisa... Quer machucar minha irmã, tenho certeza! — digo, desesperado, enquanto minha mente se afoga em mil pensamentos.

— Ariel, calma! — tenta Vitório, colocando uma mão reconfortante no meu ombro, mas a determinação me faz resistir.

— Eu nunca permitirei que minha irmã volte para aquela casa! — respondo, saindo apressado em direção à recepção.

— No que posso ajudar, Ariel? — pergunta a enfermeira, tentando manter a voz gentil.

— Não permitam que tirem minha irmã daqui! — insisto, quase implorando.

— Ariana está fora de perigo, respira sem ajuda de aparelhos, e seu pai contratou uma enfermeira para cuidar dela em casa.

— Então eu a levo para a minha casa! — declaro, decidido.

— Só se seu pai permitir — ela responde, hesitante.

— Ariana não quer voltar para aquela casa! Vocês ouviram os delírios dela... Ela tem medo do papai!

— Ariel, não comece com essa história de novo...

— Foi ele que a machucou! Sei disso!

— Você tem provas?... Porque, pelas câmeras de segurança, ele nem estava aqui no dia do acidente.

— Não, mas eu vou conseguir! — afirmo, determinado, e volto para o quarto com a mente fervilhando.

Quando entro, Vitório está lá com um rapaz desconhecido.

— Ariel, preciso te apresentar alguém — diz ele, me puxando para perto. — Esse é Kevin. Ele estagiava com Ariana no hospital.

— Oi — diz Kevin, nervoso.

— Oi — murmuro, ainda preso à tensão do momento.

— O Kevin viu seu pai aqui... poucos minutos antes de encontrarem Ariana desacordada.

— O quê? Mas as câmeras não filmaram nada disso! — falo, confuso.

— Mas os meus olhos viram — Kevin responde. — Eu estava lá quando ele chamou Ariana para conversar.

— Por que você não contou isso antes? — questiono, a incredulidade crescendo.

— Eu contei, mas, por alguma razão, parece que minha palavra não tem valor — responde Kevin, frustrado.

— O hospital está acobertando meu pai? — sussurro, tentando absorver a extensão do que isso significa.

— Pelo jeito, sim — afirma Vitório, suspirando.

— Precisamos acessar as câmeras de segurança e descobrir o que está sendo escondido — sugere Vitório.

— Vamos ter que fazer isso de forma discreta — comenta Kevin, tenso.

— Mas não temos tempo, eles vão levar Ariana hoje à tarde! — falo, com o pânico crescendo dentro de mim.

Vitório pensa por um instante. — Tive uma ideia! — diz ele, com um brilho nos olhos.

— Qual? — pergunto, esperançoso.

— Você se passa pela Ariana!

— Tá louco? — rebato, surpreso.

— Você só precisa fingir que está dormindo — explica ele.

— Mas a enfermeira vai perceber!... E, aliás, sou um garoto!

— Sei disso, mas você e Ariana são praticamente idênticos. É só usar uma peruca e se cobrir bem — argumenta Vitório.

Kevin concorda. — O plano pode dar certo...

— E se meu pai tentar fazer algo comigo? — pergunto, apreensivo.

— A enfermeira que ficará com Ariana é nossa amiga, e tenho certeza de que ela ficará do nosso lado — diz Kevin, tentando me tranquilizar.

— E onde faremos a troca? — pergunto, ainda hesitante.

— O único jeito é dentro da ambulância! — Vitório responde.

— E o motorista? — pergunta ele, preocupado.

Um silêncio cai sobre nós enquanto consideramos o risco, mas a necessidade de proteger Ariana e descobrir a verdade é mais forte. Esse plano tem que dar certo.

A tarde finalmente chega. Estão preparando a ambulância para levar Ariana, e meu coração não para de bater descompassado. Kevin conseguiu convencer todos a nos ajudar, inclusive a enfermeira e o motorista. A troca já foi feita, e estou deitado na maca, minha respiração controlada para não denunciar o nervosismo. Vitório coloca um smartwatch no meu pulso, preparado para ouvir tudo e intervir em caso de emergência. Assim que me deixarem na casa do meu pai, levarão Ariana para a casa de Vitório, em segurança.

Finalmente, o carro para, e sinto a vibração dos passos ao redor enquanto eles empurram a maca para dentro da casa do meu pai. A sensação de entrar ali, fingindo ser alguém vulnerável e indefeso, desperta em mim um arrepio gélido.

Me deitam na cama, e mantenho meus olhos fechados, minha mente fervilhando. A enfermeira me prometeu que não me deixaria sozinho. Rezo para que esta noite eles consigam as gravações e, finalmente, tirem minha irmã do alcance dele. Decidi não contar o plano a Tae-mo, pois ele nunca aprovaria. Para ele, disse que estava com dor de cabeça e precisava descansar.

— Ariel? — a voz da enfermeira soa baixa, hesitante.

— Oi — murmuro, ainda com os olhos fechados.

— Seu pai chegou e está lá embaixo. Fique atento.

— Não me deixe sozinho com ele. Nem por um segundo, por favor.

— Tudo bem, prometo que estarei por perto.

O tempo passa, mas os minutos parecem se arrastar, cada som amplificado pela tensão. Então, ouço a porta do quarto se abrir. Minha respiração fica suspensa, meu corpo se contrai involuntariamente.

— Boa tarde, senhor — diz a enfermeira com uma calma forçada.

— Vamos conversar aqui fora. Preciso entender o estado dela com mais detalhes — responde ele, a voz fria, sem emoção.

— Está bem.

Então você ainda está viva, desgraçada… Eu te odeio, Helena! A voz do meu pai corta o ar, cheia de rancor, e logo sinto o peso do travesseiro esmagando meu rosto. A pressão aumenta, roubando-me o ar.

— O que… o que você está fazendo? — minha voz é um murmúrio, abafada pelo travesseiro, enquanto me debato e o empurro de lado.

— O quê? Você… está acordado? — A voz dele soa confusa, mas ainda furiosa.

— Por que está me chamando assim? — pergunto, tentando entender, enquanto meu coração martela no peito.

— Por que você sempre volta? — A voz dele se eleva, carregada de ódio. — Eu já te matei duas vezes! Por que não me deixa em paz, Helena?

— Você… você matou a mamãe? — A pergunta sai em um sussurro, minha mente girando, tentando entender.

Ele não responde, apenas grita: Dessa vez, você não vai sair daqui viva! De repente, sinto o peso dele sobre mim, e suas mãos envolvem meu pescoço. O toque é áspero, os dedos se cravando na minha pele, apertando com uma força brutal. O ar escapa dos meus pulmões, meu corpo luta, mas minha mente começa a se desfazer.

— Papai… sou eu, Ariel… eu não sou… a mamãe! — Tento falar, mas as palavras saem em fragmentos, engasgadas pela pressão em minha garganta.

— Morre, desgraçada! — Ele rosna como um animal. Estico a mão para o lado, procurando desesperadamente algo, qualquer coisa. Meus dedos tocam algo pontudo na mesa ao lado da cama. Com um esforço desesperado, acerto as costas dele. Um grito de dor rasga o ar, e ele finalmente solta meu pescoço. Sinto o alívio do ar voltando aos pulmões e o empurro com toda a força, fazendo-o cair no chão.

— Você está completamente louco! — digo, a voz trêmula. Levanto-me da cama e tateio ao redor, tentando encontrar a porta. Estou sem minha bengala, mas preciso sair daqui.

— Volta aqui, Helena! — Ouço a voz dele, cheia de uma fúria que faz meu corpo tremer. Estico as mãos para a frente, sentindo o ar até meus dedos encontrarem o corrimão frio da escada. Vitório, me ajuda! grito, apertando o botão do smartwatch. A resposta é apenas o silêncio.

De repente, sinto o aperto da mão do meu pai em meu pulso. Seu toque é de aço, me puxa para trás, e o pânico me invade.

— Me solta, papai, por favor! — imploro, sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.

— Cala a boca! — ele grita, a voz com uma intensidade que parece ecoar dentro da minha cabeça. Em um instante, o som me transporta para outra lembrança, um déjà vu aterrorizante. Vejo, em um lampejo de memória, os olhos dele cheios de ódio, segurando meu braço… e eu caindo.

"Tá vendo, Tae-mo, o que você tá me obrigando a fazer? Isso é culpa sua!" A voz dele soa fria na minha mente. Estou no cativeiro, de novo. Vejo Tae-mo gritando o meu nome ao pé da escada, e meu pai, com um sorriso cruel, me empurra sem hesitar.

— Não! — O grito de Tae-mo ecoa na minha mente, cortando minha lembrança.

De volta ao presente, sinto o peso da queda, cada degrau machucando meu corpo enquanto rolo escada abaixo. No meio do impacto e da dor, aquela sensação de pavor volta com força, tão real como se eu estivesse lá, naquele cativeiro, preso nas memórias.

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