Apesar disso eu não consigo te odiar capítulo 6

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Sábado, 09/09/2023
Tae-mo está tão perto de mim que posso sentir sua respiração quente roçar meu rosto. Um frio toma conta do meu estômago, e meu coração bate acelerado, como se pudesse sair do peito a qualquer instante.
— Está muito perto, criatura! — resmungo, tentando disfarçar o nervosismo.
— Eu sempre quis fazer isso. — ele sussurra.
— E por que nunca fez? — questiono, tentando manter o controle.
— Quando nos conhecemos, seu pai me proibiu de tocar em você ou de demonstrar qualquer tipo de carinho. — Tae-mo confessa, com um olhar triste.
— Meu pai me dizia que você era tímido e que eu não deveria pressionar você. — retruco, sentindo a raiva crescer.
— Que mentiroso! Por causa dele, nunca tivemos a chance de realmente nos conhecer. — Tae-mo responde, com uma dor evidente na voz.
— Meu pai sendo meu pai... mas saber que seu pai o subornou, isso realmente me chocou. — minha voz soa amarga, sem conseguir esconder a decepção.
— Eu sei que o que meu pai fez foi errado, mas ele fez isso por mim. Seu pai não queria que eu me aproximasse de você, então essa foi a única maneira de podermos nos conhecer. — Tae-mo responde, tentando justificar o passado.
— Tá bom, agora se afasta! — digo, empurrando Tae-mo para longe, fazendo-o cair no chão.
— Ariel… — ele murmura com uma voz tão doce que quase me faz fraquejar.
— Para com isso! Não tô te reconhecendo. — rebato, tentando manter minha armadura intacta.
— Esse sou eu de verdade, Ariel. — ele insiste, com um olhar que parece ver dentro de mim.
— Pois eu não gosto, prefiro o meu hyung tímido! — digo, tentando esconder o quanto ele realmente mexe comigo.
— Sério? — Tae-mo pergunta, sua voz se enche de tristeza.

O elevador finalmente volta a funcionar, e, assim que as portas se abrem, saio rapidamente, sentindo meu coração ainda batendo descompassado. Tento racionalizar: foi só um susto... um susto por ter ficado preso no elevador, certo? Não tem nada a ver com ele. Ou tem?
— Ariel! — ouço a voz de Vittorio.
— Você sabia que ele estava no elevador, né, seu inconveniente! — digo, acertando ele com minha bengala.
— Ai, isso dói! — Vittorio se contorce, rindo, embora claramente sentindo o golpe.
— E o mentiroso ainda tentou me beijar! — disparo, tentando esconder o embaraço.
— O quê? Como assim, o Tae-mo?! — Vittorio pergunta, surpreso.
— Ele mesmo! De tímido, a criatura não tem nada! — reviro os olhos, tentando demonstrar indiferença.
— Me explica isso direito. — ele insiste.
— Papai. — digo com um suspiro pesado, sem vontade de entrar em detalhes.
— Não entendi.
— Papai tinha proibido ele de flertar comigo. — explico, ainda indignado.
— Mas não foi o tio quem escolheu ele para você? — Vittorio pergunta, confuso.
— O papai me vendeu. Pronto, falei. E não me faça repetir isso de novo! — confesso, com um nó na garganta.
Vittorio percebe minha dor e, sem dizer mais nada, sugere que nos apressemos para não perder o filme. Seguro em seu braço e seguimos para a sala de cinema, onde tento distrair minha mente.
Quando o filme termina, admito para mim mesmo que foi divertido, mas ainda estou atordoado. Meu motorista nos aguarda, e o caminho até o dormitório de Vittorio é silencioso. Fico o tempo todo mergulhado em pensamentos, tentando entender o turbilhão de sentimentos que Tae-mo despertou em mim.
Por mais que eu queira odiá-lo... não consigo.
Domingo, 10/09/2023
É de manhã e estou me arrumando com Ariana para descermos e tomarmos café. No entanto, percebo que minha irmã está inquieta, parecendo escondida em seus próprios pensamentos.
— Por que você está tão para baixo hoje? — pergunto, com uma preocupação leve.
— Nada, só estou com cólica... vai passar logo. — responde, forçando um sorriso.
— Humm... — murmuro, desconfiado.
— Ariel! — grita meu pai, interrompendo nossa conversa.
— Estou ouvindo! — respondo, enquanto ele continua:
— O doutor quer ver você!
Desço as escadas e, ao me aproximar da sala, ouço a voz de Tae-mo e do doutor. Eles parecem estar falando sobre algo sério, mas, assim que me aproximo, fazem-se silenciosos. Mais uma vez, os segredos preenchem o ambiente.
— Bom dia a todos! — digo, forçando um sorriso.
— Ariel, como você está? — pergunta o doutor.
— É só isso que tem a dizer? — respondo, com certa frieza.
— Sei que está chateado comigo, mas precisava que descobrisse tudo sozinho. — ele suspira.
— Eu também quero que me perdoe, meu filho. — diz meu padrinho, com pesar. — Nunca quis enganar você, mas foi a única maneira que encontrei para que você e Tae-mo se conhecessem.
— Me comprando em um leilão? Tratando-me como um objeto? — rebato, sentindo a mágoa transbordar.
— Já chega, Ariel! — meu pai interrompe, irritado.
— Não repreenda o garoto, ele está no seu direito. — meu padrinho intervém, olhando para meu pai.
O doutor se aproxima e, pegando no meu braço, me guia até o sofá.
— Venha, sente-se aqui, Ariel. — ele diz.
— Olá, Ariel. — Tae-mo diz, com um sorriso tímido.
— Oi, hyung. — respondo, sem conseguir disfarçar meu tom de desconfiança.
— Nos últimos cinco anos, vocês participaram de uma terapia em conjunto. — começa o doutor. — Primeiro, usaram cartas em braille, depois código Morse, até que começaram a conversar por telefone e, por fim, chegaram às conversas verbais.
— Hoje, vocês têm que ir a um lugar especial. — diz meu padrinho, com um tom enigmático.
— Para onde exatamente? — meu pai questiona, desconfiado.
— Isso faz parte da terapia. — responde o doutor, sorrindo levemente.
— Exijo saber onde levarão meu filho! — diz meu pai, elevando a voz.
— É um grupo de terapia. — meu padrinho tenta acalmá-lo.
— E o Tae-mo precisa aprender a se comunicar sem o auxílio do álcool. — diz o doutor, severo.
— Então, está cem por cento sóbrio, Tae-mo? — pergunto, fitando-o com desconfiança.
— Sim. — ele responde, hesitante.
— Ah, então por isso você está tão caladinho agora... — murmuro.
— E, a partir de hoje, você está proibido de sequer tocar numa gota de álcool! — meu padrinho decreta, firmemente.
— Então você mentiu ontem, Tae-mo, ao dizer que aquele era você de verdade, quando, na verdade, estava alcoolizado? — pergunto, com um tom magoado.
— Ariel... — ele murmura, com uma expressão de arrependimento.
— Vamos lá, hyung, responde! — insisto, sem dar trégua.
— Sem álcool, ele não costuma falar muito. — o doutor comenta.
— Eu só tinha visto ele beber no noivado de Ariana. — acrescento, pensativo.
— Ele começou a beber após completar dezoito anos, mas eu não imaginava que fazia isso diariamente... — admite meu padrinho.
— É só... um copo... só para me dar coragem. — Tae-mo confessa, nervoso. Estendo a mão e toco seu rosto, sentindo-o gelado e suado. Ele parece realmente lutar contra algo.
— Podemos ir. Eu os levarei até lá. — diz o doutor.
— Vou deixá-lo aos cuidados do doutor. Mas lembre-se, Tae-mo: se eu descobrir que voltou a beber, mando você direto para a reabilitação! — ameaça meu padrinho, sério.
Já no carro, o caminho segue em silêncio. Percebo, pela textura das árvores e pelo cheiro úmido de folhas, que estamos em um local repleto de natureza. Algo dentro de mim sussurra que já estive aqui, como um déjà-vu que não consigo explicar.
— Essa casa te lembra algo, Tae-mo? — pergunta o doutor.
— Sim... — ele responde, em tom distante.
— Onde estamos? Alguém pode me dizer? — questiono, ansioso.
— É... o nosso... cativeiro, o lugar onde ficamos presos. — Tae-mo responde, com dificuldade.
— Cativeiro? Pensei que viéssemos para uma terapia em grupo... — olho para o doutor, confuso.
— Se eu dissesse ao seu pai que traria você para cá, ele certamente não permitiria. Seu pai não quer que você se lembre do sequestro. — explica o doutor.
— Mas... por quê?
— Foi uma exigência do início da terapia, que você só interagisse com Tae-mo. — ele responde.
— Para ser sincero, não vejo muito benefício nessa terapia para mim. Durante esses anos, a única pessoa que realmente se beneficiou foi o Tae-mo. — digo, com frustração.
— Um dos sequestradores, antes de morrer, falou que você passou por uma situação terrível aqui dentro. É disso que você precisa se lembrar. — o doutor revela.
— Não lembro de muita coisa... só lembro de ver o hyung passar por momentos difíceis. Talvez ele tenha se confundido. — respondo, tentando lidar com a confusão crescente.
De repente, Tae-mo me puxa pelo braço e começamos a caminhar em direção à casa. Ao abrir a porta, ele para e sua voz, firme, rompe o silêncio:
— Entrar aqui me traz lembranças terríveis. — ele diz, sem gaguejar, pela primeira vez.
— Eu... eu não tenho muitas lembranças. Acho que, por ser muito novo, as memórias se apagaram. — confesso.
Tae-mo me encara, sua voz tomada por tristeza:
— Você me odeia muito?
— Quando descobri a verdade, sim... mas agora entendo que você também passou por situações horríveis. — digo, com sinceridade.
— Sério? — ele sussurra, emocionado.
— Mas ainda não esqueci o que você fez com o Marcos... ele desapareceu da minha vida! — comento.
— Ele ganhou um intercâmbio. Meu pai pagou para que ele fosse embora, para que vocês não se vissem mais. Sinto muito, Ariel. — ele abaixa a cabeça, arrependido.
— Então ele me trocou por um intercâmbio? — murmuro, tentando esconder a mágoa.
— Eu nunca quis magoar você. O que aconteceu no seu aniversário... quando empurrei você no bolo... eu fui imaturo, e me arrependo. — Tae-mo admite, com tristeza.
— Pelo menos isso fez você demonstrar alguma emoção. — digo, abrindo um sorriso.
Ele sorri e, sem hesitar, me puxa para um abraço apertado. Nesse instante, sinto a barreira entre nós desmoronar, um passo em direção à cura.
— Vamos, pessoal! Vocês precisam explorar o lugar, por que ainda estão só na sala? — o doutor diz, cortando o clima.
— Não quero ficar aqui. — murmuro, desconfortável.
— Eu também quero ir embora! — Tae-mo responde, com firmeza.
— Vocês realmente não querem se lembrar? — o doutor pergunta.
— A nossa vida está ótima assim. Se o passado não nos faz falta, então não há o que buscar. — afirmo.
— É isso. Estou sóbrio, e me sinto melhor do que nunca. — diz Tae-mo, confiante.
No carro, Tae-mo apoia a cabeça em meu colo, e começo a fazer cafuné em seu cabelo. Ele suspira, dizendo:
— Começar a namorar logo ali, na casa do nosso pior pesadelo... foi algo tão estranho.
— O namoro é nosso, e podemos começar onde quisermos. Se quer que comecemos agora, tudo bem. — digo, sorrindo.
— Então... quer namorar comigo, amorzinho? — ele pergunta, com aquele tom fofo que só ele tem.
— Claro, fofinho. — respondo, beijando sua testa.
— Só na testa? — ele diz, com um brilho safado nos olhos.
— Não tenha pressa, hyung. Tudo no seu tempo.
Segunda-feira, 11/09/2023
Acabei de me encontrar com Vitório no intervalo da universidade. Ele ainda parece tão triste, e sua voz está fraca, o que desperta minha preocupação.
— Está se sentindo melhor, Vitório? — pergunto, tentando soar reconfortante.
— A Clara me contou que viu o Paulo Vitor em um encontro com um cara no shopping... — ele diz, com uma voz quase apagada.
— Amigo, não fique assim. Ele não merece suas lágrimas. Que tal a gente sair hoje? — sugiro, tentando distraí-lo.
— Estou sem ânimo... vamos mudar de assunto — responde, desanimado.
— Tá bom, se prefere assim. — Tento respeitar seu momento.
— Me explica melhor esse seu namoro repentino com o Tae-mo... como aconteceu isso? — ele pergunta, tentando desviar o foco.
— A gente começou a namorar ontem — respondo, ainda surpreso com a nova fase.
— E como foi? Me conta tudo!
— Bom, não foi nada de mais. Eu comentei com o doutor que a gente se comportava como um casal e, de repente, o Tae-mo perguntou: “Estamos namorando?” e eu simplesmente disse “Sim”.
— Que começo de namoro mais... sem graça! Mas pera aí, vocês já não estavam num compromisso?
— Antes, nossa relação era quase como de irmãos de terapia. A gente era próximo, mas faltava o afeto de verdade, sabe?
— Espera... então vocês já... — ele pergunta, chocado.
— Claro que não! A gente começou a namorar ontem, louco! — dou uma risada.
— Ah, sim! — diz Vitório, visivelmente aliviado.
De repente, ele olha para a mochila e seu rosto muda de cor. — Preciso ir ao banheiro, já volto!
Ele sai todo sem jeito, e vejo que seu processo de adaptação à ostomia ainda é delicado, mas ele está se saindo bem. Quando as aulas terminam, estamos na frente da universidade, e ele me faz companhia enquanto espero meu motorista.
— E aí, tudo certo pra hoje à noite? — pergunta Clara, uma colega de faculdade do Vitório, aproximando-se com um sorriso travesso.
— Pra quê? — pergunto, confuso.
— O Vitório se inscreveu num site de namoro e deu match com um gatinho! — revela Clara, empolgada.
— Você me inscreveu! — Vitório resmunga, bufando.
— Ai, tanto faz! O importante é que você tem um encontro marcado hoje, às oito, num restaurante tailandês! — ela diz, sorrindo maliciosamente.
— Com você, né? Porque foi você quem se passou por mim e conversou com o cara! — Vitório rebate, irritado.
— Clara! — reprimo-a com um olhar de julgamento.
— Ai, parem com isso! O importante é que essa é uma ótima oportunidade pra ele! — Clara responde, tentando se justificar.
— Eu... não vou! — diz Vitório, com a voz decidida, embora pareça um pouco nervoso.
— Amigo, eu sei que a Clara é meio louca...
— Ei! — Clara protesta, ofendida.
— Mas talvez seja uma chance de você conhecer alguém legal e finalmente esquecer o Paulo Vitor.
— E se ele não gostar de mim? — pergunta Vitório, com a voz um pouco triste.
— Claro que vai gostar! Vocês combinam em várias coisas! Ele curte anime, jogos e até doramas! — Clara tenta animá-lo.
— E se ele sentir nojo de mim quando ver minha bolsa de ostomia? — Vitório desabafa.
— Se ele for um idiota pra isso, então nem vale a pena — digo, firme.
— Eu nem tenho roupa pra um encontro desses... — Vitório tenta se esquivar.
— Você pega uma roupa minha emprestada! — digo, cortando qualquer desculpa que ele tente arranjar.
Meu motorista finalmente chega e convido Vitório para ir lá em casa se arrumar. Em casa, ele vai direto pro banho e, enquanto isso, minha irmã Ariana aparece.
— Oi, meninos! — diz Ariana, curiosa.
— O Vitório vai a um encontro! — explico.
— Sério? — Ariana parece um pouco triste, mas logo disfarça. — Que ótimo pra ele!
— Você ainda gosta do Vitório? — pergunto, percebendo sua expressão.
— Claro que não! Essa fase já passou — diz, mas parece perdida em pensamentos.
Vitório termina o banho e vai direto ao meu closet para escolher uma roupa. Ariana está decidida a deixá-lo perfeito e pega um conjunto verde claro que combina perfeitamente com ele.
— Essa vai ficar ótima em você! — diz ela, animada.
Depois de ajudar Vitório a se vestir e dar os últimos retoques, meu motorista chega para levá-lo ao restaurante. Fico torcendo para que tudo dê certo; ele merece ser feliz.
Pouco depois, recebo uma chamada de Tae-mo. Me deito na cama, ansioso para ouvir sua voz.
— Como está meu amorzinho? — ele pergunta, numa voz fofa que me faz corar.
— Ai, para, hyung! — digo, tentando esconder a timidez.
Conversamos por um tempo, e ele me conta sobre sua luta para lidar com a ansiedade e o vício social em álcool. Meu coração se enche de ternura e quero confortá-lo.
Terça-feira, 12/09/2023
De manhã, me arrumo para o encontro com Tae-mo. Ainda não recebi nenhuma mensagem do Vitório sobre o encontro de ontem, e a curiosidade me consome.
Chegamos à lanchonete onde Tae-mo marcou o café. Ele me ajuda a sair do carro, e o carinho com que ele me trata me faz sentir borboletas no estômago. Parece que toda raiva que senti por ele antes se transformou em amor.
— Vem, amor, é por aqui — ele diz, segurando minha mão.
— Onde estamos? — pergunto, confuso.
— Trouxe você pra tomar café da manhã num lugar especial — ele responde, com um sorriso misterioso.
— Uma lanchonete? E por que não ouço nenhuma outra voz?
— É que... eu aluguei o lugar todo, só pra nós dois. — Ele ri, meio tímido.
— Hyung! — exclamo, totalmente surpreso.
— Eu só queria mais privacidade. Ainda não estou acostumado a comer com pessoas me olhando — ele confessa.
Sentamos, e ele me observa atentamente. Então, num momento inesperado, ele toca meu rosto e diz:
— Tem uma coisa no seu rosto.
— Tem? O quê? — pergunto, confuso.
— Isso. — Ele se inclina e, antes que eu perceba, sinto seus lábios nos meus.
O beijo é suave e intenso ao mesmo tempo, mas dura apenas alguns segundos. De repente, Tae-mo parece perceber o que fez e, num sobressalto, acaba me empurrando para trás. A cadeira cai, e eu me vejo no chão, surpreso e completamente confuso.

Compromisso com terapia(Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora